sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Da nossa história…(2) PERCURSORES DO ESCOTISMO EM PORTUGAL



A primeira tentativa de organizar um grupo de “scouts” em território de administração portuguesa ocorreu em Macau, em 1911, por iniciativa do então tenente Álvaro de Melo Machado, governador da colónia. É o próprio fundador do grupo que nos conta como isso aconteceu: “Quando estava em Macau, eu sabia pouco de inglês. Todavia, tinha necessidade de aumentar os meus conhecimentos, porque estávamos em contacto permanente com as autoridades de Hong Kong. Arranjei, por isso, um jovem inglês – Mr. Nightingale – que ia todos os dias conversar comigo nessa língua, porque eu não tinha tempo de estudar gramática. Durante essas conversas, o rapaz falou-me, com entusiasmo, no movimento dos boy scouts. Como eu mostrasse curiosi-dade por essa organização, arranjou-me um manual escotista, o Scouting for Boys. Achei-o muito interessante e lembrei-me de me servir do método para tentar modificar a mentalidade dos jovens portugueses.
Foi assim que fundei o movimento escotista em Macau, com a ajuda de dois rapazes, um dos quais tenente de infantaria, o Ernesto Torre do Vale, que foi precioso auxiliar.
Como eu era o governador de Macau, protegia muito os rapazes. Pessoa que ali caía, dizia-lhe logo: - Você tem de me ajudar nos escoteiros! Arranjei-lhes material, barracas e outras coisas. Os rapazes faziam o policiamento do campo de ténis. Em troca, oferecíamos-lhes chá.”
Noutra oportunidade, referiu Melo Machado que, graças à colaboração referida, do professor de inglês Nightingale e de Miss Campbell, filha do comissário da alfândega chinesa, foram constituídas duas patrulhas de escoteiras e duas de escoteiros que, rapidamente uniformizadas, iniciaram os seus
exercícios e prática de acampamento com grande entusiasmo. E acrescenta:
“E foi assim que, desde o primeiro momento, se começou a traduzir, a adaptar e imprimir o Scouting for Boys. Saí de Macau quando apenas algumas folhas deste trabalho estavam impressas e com elas vim para Lisboa, para tentar de novo, já na Associação dos Escoteiros de Portugal, a publicação do manual do escotismo português. Mais algumas folhas impressas e outra vez essa publicação emperrou, com a minha partida para Lourenço Marques, em 1914.”
É esta a história do Grupo de scouts de Macau. Com o regresso a Lisboa do seu fundador o grupo rapidamente desapareceu. Não passou pois de uma tentativa, cujo mérito cabe inteiramente ao seu fundador, que revelou perfeita compreensão do método, de tal forma que, logo que chegou a Lisboa, se
envolveu na fundação daquele que viria a ser o 2º Grupo da A.E.P.

Reflexões

Há, no entanto, sérias dúvidas se o grupo de Macau teria sido de facto o primeiro fundado em território português.
Frank Giles, chefe fundador do 1º Grupo da A.E.P. dizia, logo nos primeiros tempos do seu grupo, que em Coimbra e no Porto também existiam scouts. Confirma-se, portanto, que em 1912 já havia scouts nessas cidades. Há quanto tempo?
Também os antigos escoteiros do Algarve reclamaram para Olhão a prioridade da fundação do Escotismo, numa iniciativa de Amâncio Salgueiro Jr., que alegam ter sido anterior à de Macau.
Uma coisa é certa, os grupos n.ºs 1, 2 e 3 foram os fundadores da A.E.P. e constituíram o núcleo de onde irradiou o Movimento, mas reconhece-se que simultaneamente eram criados grupos de scouts noutros pontos do País.

(extraído de História dos Escoteiros de Portugal, de Eduardo Ribeiro – Cap.IV)

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