domingo, 26 de dezembro de 2010

Da nossa história…(6)

Momentos perturbadores
na vida da A.E.P.
(apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)

Apesar do seu reconhecimento oficial, a situação na A.E.P. em 1917 não era muito agradável. Escrevendo em “O Escoteiro”, no mesmo número em que era publicado o Decreto 3120 – B, confessava Melo Machado:”Vão decorridos cinco longos anos desde que no nosso país se introduziu o Escotismo. E, nesse período de tempo relativamente importante, durante o qual algumas boas vontades tão dedicadamente trabalharam para que se alcançassem os resultados atingidos em outros países, a obra realizada é menos que modesta, é quase desanimadora…
"… Em Portugal e suas colónias não contaremos trezentos escoteiros”. Este era um desabafo de muita tristeza do então Escoteiro Chefe Geral, que logo acrescenta um pouco mais optimista: “Mal parecerá que num momento em que esperanças novas ressurgem com a publicação de um decreto em que o Governo português, reconhecendo finalmente a Associação dos Escoteiros de Portugal, veio dar ao Escotismo algumas bases em que pode apoiar-se um novo esfoço produtivo, soem palavras de desânimo a esfriar os entusiasmos que se esboçam…”.Mas, apesar destas palavras de esperança, o desânimo era evidente e, é ainda Melo Machado que analisando a origem do mal comenta: “Estamos num meio muito desfavorável ao Escotismo. País de gentes indisciplinadas, dividido por apaixonadas lutas polí-ticas que esmorecem todos os ideais, onde infelizmente o Patriotismo é quase apenas uma palavra, e onde não há educação cívica , o Escotismo aparece aos olhos da maior parte das pessoas como um idealismo, uma verdadeira madureza, permita-se-me o termo”.Melo Machado era um dirigente devotado ao serviço do Escotismo, mas a sua dedicação, a forma como cumpria o seu dever de dirigente, tornava-o muito exigente e conflituoso. Os Grupos eram convocados e, se não compareciam ou não eram pontuais, eram repreendidos sem hesitação.
A disciplina férrea, de tipo militar, que o Chefe Geral procurava impor, encontrava opositores naqueles que defendiam um método mais liberal e democrático e não aceitavam pacificamente esse género de chefia. Os conflitos surgiam e o desinteresse afirmava-se. Se somarmos a isto a resistência das mães a que seus filhos se expusessem ao “perigo” das actividades dos escoteiros, teremos a explicação de tão desanimador resultado.
Em Agosto de 1918, em vez de progredir a AEP regredia, registando em efectividade, apenas os seguintes Grupos: n.º 4, Torres Vedras; n.º 9, Lisboa; n.º 11, Lisboa (Liceu Camões); n.º 13, Amadora; n.º 18, Braga; n.º 19, Santarém; n.º 26, Porto; n.º 27, Évora; n.º 34, Ribeira de Santarém; n.º 35, Porto; n.º 36, Funchal (Liceu Central). Inactivos, encontravam-se: o n.º 2, Lisboa; n.º 3, Lisboa (Liceu Pedro Nunes); n.º 12, Lisboa (Liceu Passos Manuel); n.º 14, Lisboa (Liceu Gil Vicente); n.º 30, Lisboa (Escolas Primárias); n.º 31, Lisboa; n.º 32, Almeirim.
Registe-se a ausência naquele registo dos Grupos n.ºs 1 e 7, que se encontravam em funcionamento, mas desligados da Associação, por situações conflituosas.
Se fizermos o paralelo com o efectivo de 1915, verificaremos a diferença e a razão do desânimo.
Deve-se reconhecer, no entanto, que a diminuição de efectivos nos Escoteiros de Portugal não era acompanhada de qualquer degradação da qualidade. Os escoteiros que permaneceram nas fileiras constituíam um núcleo de autêntica “elite”. Durante este período, os escoteiros distinguiram-se em generosos actos de altruísmo e abnegação, como nos grandes incêndios das Encomendas Postais, do Limoeiro, do Teatro Ginásio, na sangrenta revolução de 5 de Dezembro de 1917 e noutros acontecimentos que marcaram aquela época.

Sem comentários: