domingo, 26 de dezembro de 2010

Da nossa história…(8)

Nova fase da Associação dos Escoteiros de Portugal (apoiada na História dos Escoteiros de Portugal, de Eduardo Ribeiro)


Rev. Eduardo Moreira á esquerda


Dr. Tovar de Lemos


No final de 1920 a vida associativa não era famosa. Eduardo Moreira, um dos dirigentes de mais elevada estatura intelectual que serviram o escotismo, que era, ao tempo, o secretário da AEP, conta mais tarde, com a sua reconhecida modéstia, como promoveu a reviravolta que veio a operar-se na Associação.

“… vi-me só, como secretário de uma Direcção que havia perdido todos os seus elementos directivos. Então, com o dr. Joaquim Fontes, foram longos serões de trabalho e preocupação. Também recebemos preciosa ajuda do dr. Dinis Curson, que ficou nas minhas recordações como um grande amigo do Escotismo… depois, veio o dr. Tovar de Lemos e a coisa entrou nos eixos. Tive a honra de ir pedir-lhe o favor de nos acudir, já que a associação estava, como se pode dizer, na minha algibeira…”

Estava-se em 1921, Tovar de Lemos tomou posse como Presidente e Escoteiro Chefe Geral e chamou ao Movimento colaboradores válidos, procurando preencher todos os cargos, por forma a dinamizar os Escoteiros de Portugal.
Convidou personalidades de grande prestígio para o desempenho dos cargos de Comissários Regionais, tendo nomeado o General Craveiro Lopes (mais tarde Marechal e Presidente da República) para comissário na Índia; o capitão Ismael Mário Jorge, para Moçambique; o 1º tenente Vasco Lopes Alves, para Angola; o dr. António A. Riley da Mota, para P. Delgada; o 1º tenente Gabriel Maurício Teixeira, para o Porto; o professor Álvaro Viana de Lemos, para Coimbra, coadjuvado pelo dr. Ernesto Tomé, como chefe do Núcleo da Figueira da Foz. Para o Algarve, nomeou o coronel Pires Viegas, que teria como adjunto João Trigueiros.
Conseguindo, ainda, reunir diversos caminheiros para coadjuvar a Comissão Administrativa e apoiar as actividades regionais.

Apercebendo-se de que o grande problema era a falta de escoteiros chefes capazes, pois os que existiam estavam geralmente velhos e cansados, Tovar de Lemos promoveu a realização de um Campo Escola de Chefes, que veio a funcionar em 1922, na Escola Normal de Benfica, da qual era director um grande entusiasta do Escotismo – o dr. Luís Passos.
A delineação do programa deste curso foi trabalho do próprio Tovar de Lemos, que o submeteu à apreciação do coronel Wilson, dirigente do Escotismo Britânico (mais tarde Comissário do World Scout Bureau, tendo vindo a Portugal nessa qualidade em 1951).
Esse Campo Escola de Chefes foi um êxito e os resultados podem ser medidos pelo punhado de escoteiros chefes que saíram desse Campo Escola: Marcelo Caetano, Luís Teixeira, Henrique de Barros, Amâncio Salgueiro, Fausto Salazar Leite, Henrique Casquilho, Júlio Leão de Almeida, Albano da Silva, Luís Grau Tovar de Lemos, Aníbal Gonçalves Ramos, José David, Júlio Marques, Cansado Gonçalves, Álvaro Dória, João Trigueiros, António Afonso, David Baudouin, Sobral Martins e outros cujos nomes não foram retidos. Tovar de Lemos soubera rodear-se de bons colaboradores, entre os quais se contavam Alberto Lima Basto, Joaquim Duarte Borrego, dr. Dinis Curson e Franklin de Oliveira, escoteiros chefes já considerados diplomados.
Tovar de Lemos conseguiu interessar o Governo pela Associação, o que permitiu a nomeação de representantes de alguns Ministérios junto da Direcção Central, tais como o prof. Aníbal Pinheiro, do Ministério da Instrução, o coronel Reis e Silva e o comandante Pedro Peters.

Entretanto, os grupos eram objecto de uma atenta vigilância, realizando-se frequentes visitas, em que tudo era observado e examinado. O dr. Tovar de
Lemos deslocou-se várias vezes à província, em viagens de inspecção aos grupos das regiões do Porto, Coimbra e Algarve.

A própria Associação foi atingida por esta profunda remodelação, tendo ficado assim estruturada em 1923:

Presidente Honorário: dr. António José de Almeida, Presidente da República.
Vice-presidentes Honorários: dr. Teófilo Braga, dr. Bernardino Machado e almirante Canto e Castro, ex-presidentes da República.
Escoteiro Chefe Geral Honorário: Lord Baden Powell, (título que lhe fora conferido em 1921)

Conselho Nacional:
Humberto Martins, dr. Alfredo Tovar de Lemos, Egídio Bellinge da Mata (director da ACM), coronel Apolinário das Chagas, Alberto Lima Basto, dr. António Augusto Curson, Fausto Salazar Leite, Joaquim Duarte Borrego, dr. João de Barros (director geral do ensino primário e secretário geral do Ministério da Instrução Pública), Joaquim Amâncio Salgueiro Júnior, Luís Filipe Cardoso, dr. Luís Passos (director da Escola Normal), dr. Alfredo da Costa Andrade e dr. Joaquim Andrade Saraiva (ambos administradores do Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios). Foram depois agregados o coronel Frederico Ferreira de Simas, dr. Magalhães Lima, dr. Edmundo Lima Basto e dr. Augusto de Castro.

Comissão Executiva:
Presidente e Escoteiro-Chefe-Geral: dr. Tovar de Lemos
Vice-presidente: tenente Mário Pala
Secretário-geral: Fausto Salazar Leite

Foram ainda constituídas as seguintes Comissões:
Técnica; Administrativa; Saúde e Educação Física; Desportiva; Pedagógica; Jurídica; Propaganda; Revisora de Contas. Nestas comissões repetiam-se alguns dos nomes já referidos, mas apareciam outros de muito valor e prestígio como o dr. Faria de Vasconcelos, dr. Afonso Manaças, dr. Marcelo Caetano, Manuel Borrego, Cosme Vieira Leitão, dr. Alberto Pimentel, dr. João Camoezas, professor Ermelindo dos Santos, dr. Salazar Carreira, Albano da Silva e António Manuel Ribeiro.

Este escol de dirigentes, que fizemos empenho em referir, evidencia o esforço feito pelo dr. Tovar de Lemos para
dotar a AEP de estruturas capazes de promoverem a difusão e a qualidade do Movimento no nosso País, objectivo conseguido por toda uma década, durante a qual a AEP viveu uma gloriosa expansão e realizou ou participou em importantes actividades, designadamente:
II Jambori Mundial e II Conferência Internacional, em Agosto de 1924; 1ª. Conferência Nacional do Escotismo, em Jan/Fevereiro de 1925; I Acampamento Nacio-nal, em Agosto de 1927; Primeira visita de B.P. a Portugal, em Março de 1929; III Jambori Mundial e V Conferência Internacional, em Julho de 1929.

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