domingo, 26 de dezembro de 2010

Da nossa história…(9)

Os gloriosos anos vinte(apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)


A Associação dos Escoteiros de Portugal tivera no princípio da década de vinte uma profunda transformação, graças ao Dr. Tovar de Lemos que assumiu a orientação do Movimento, pondo ao seu serviço toda a sua competência, energia e prestígio. Formou novos dirigentes e relacionou o Escotismo com personalidades de elevado prestígio, envolvendo nele o interesse do Governo e do Chefe do Estado.

Toda a década de vinte foi assinalada por enorme progresso e realizaram-se actividades importantes, com participação activa em muitos acontecimentos escoteiros, até de carácter internacional.

Agosto de 1924 – II Jambori Mundial e II Conferência Internacional do Escotismo
Neste grande acontecimento, que teve lugar na Dinamarca, a AEP fez-se representar pelos dirigentes Henrique de Barros, Dinis Curson e Joaquim Duarte Borrego, que participaram na Conferência e ainda os dirigentes Manuel Borrego e Albano da Silva, que participaram como observadores. Todos estiveram presentes no Jamboori, no qual tomaram parte cinco mil escoteiros de 35 países.

Esta Conferência Internacional ficou célebre, pela Conclusão nela aprovada:

“A Conferência Internacional do Escotismo, reunida em Cope-nhaga em Agosto de 1924, declara que o Escotismo é obra de carácter Nacional, Internacional e Universal, e o seu objectivo é dotar cada uma das nações, e todo o Mundo em geral, de jovens que sejam física, moral e espiritualmente fortes.
“É NACIONAL, porque visa, por meio de organismos nacionais, dotar cada nação de cidadãos úteis e válidos.
“É INTERNACIONAL visto que não reconhece fronteiras às boas relações entre escoteiros.
“É UNIVERSAL, porquanto procura insistentemente incutir o sentimento de fraternidade universal aos escoteiros de todas as nações, classes e crenças. O Escotismo não pretende de forma nenhuma enfraquecer, mas antes fortalecer, as crenças religiosas individuais. A Lei do Escoteiro requer que este pra-tique real e sinceramente a sua religião, e a orientação da Obra proíbe toda a espécie de proselitismo em reuniões mistas”.


I Conferência Nacional de Escotismo - 31 de janeiro e 1 de Fevereiro de 1925
Teve lugar na Câmara Municipal de Lisboa, com a presença de numerosas entidades oficiais e particulares, tendo a sessão inaugural sido presidida pelo dr. João de Barros, ministro da República.
Foi notável o êxito alcançado por esta 1ª Conferência Nacional do Escotismo, que teve o seguinte programa:
O Escotismo e a preparação militar, tese apresentada pelo coronel do Estado-Maior Henrique Pires Monteiro, professor da Escola Militar e membro do Conselho Nacional da AEP.
O intercâmbio com o estrangeiro nas instituições portuguesas de educação pelo sistema de Baden-Powell, tese defendida pelo dr. Dinis Curson, escoteiro chefe e ex-comissário das relações internacionais da AEP.
Necessidade da preparação teórica dos dirigentes escoteiros, tese do engº. Henrique de Barros, escoteiro chefe e comis-sário das relações internacionais da AEP.
O sistema das insígnias, tese apresentada pelo dr. Alfredo Tovar de Lemos. Comissário nacional da AEP.
Recrutamento dos Chefes e seu treino, tese também apresentada pelo dr. Tovar de Lemos.
A influência Social do Escotismo, tese defendida pelo escoteiro-chefe Marcelo Alves Caetano.
Da Viabilidade e eficácia do Escotismo em Portugal, tese do dr. Álvaro Viana de Lemos, Professor da Escola Normal de Coimbra.
Campos de Jogos, tese apresentada por Eduardo Moreira, secretário-geral da ACM do Porto e comissário de zona da AEP.
As conclusões destas teses, aprovadas pela Conferência, constituíram um precioso repositório de orientação para o Escotismo em Portugal.

13-23 de Agosto de 1927 – 1º Acampamento Nacional
Teve lugar na Mata de Queluz e funcionou, também como Escola de Guias, dado o empenhamento na formação que do-minava nos meios dirigentes da AEP.
Foi uma actividade muito importante, que veio evidenciar o desenvolvimento alcançado pela Associação, depois das transformações operadas após a entrada do dr. Tovar de Lemos
Inicialmente tratado como se fora um Campo da Escola de Guias, pelo número de escoteiros e dirigentes presentes, pelas actividades realizadas, pelo interesse que despertou tanto nas entidades oficiais como no público, esta actividade veio a ser considerada, nos registos da AEP, o seu 1º Acampamento Nacional.
Compareceram os grupos nºs. 1, 2, 5, 7, 9, 11, 25 e 40, de Lisboa; delegações do Porto, Coimbra, Figueira da Foz, Algarve, Oliveira de Azemeis, Seixal, Torres Novas e Torres Vedras.
Os escoteiros da Escola de Guias constituíram-se em cinco patrulhas, para instrução e serviço ao acampamento.

4 de Março de 1929 - A primeira visita de B.P. a Lisboa
Vindo de um cruzeiro do Mediterrâneo e ilhas do Atlântico, o paquete “Duchesse of Richmond” atracou ao cais da Rocha de Conde de Óbidos, pelas 6 horas da tarde daquele dia 4 de Março. No mastro principal do navio sobe a flâmula do Escoteiro Chefe Mundial. No cais, encontravam-se numerosas representações de escoteiros e muito público. Uma guarda de honra constituída pelos Escoteiros de Portugal e seus convidados: Corpo Nacional de Scouts e Adueiros de Portugal.
Baden-Powell sobe à ponte de comando e recebe a entusiástica saudação dos escoteiros portugueses, enquanto a multidão se agita e ovaciona o Fundador do Escotismo. Subiram então a bordo: representantes do Governo Português; dr. Tovar de Lemos, Albano da Silva e Sigvald Wiborg, respectivamente, comissário nacional, secretário-geral e comissário internacional da AEP; coronel Godfrey T. Pope, sobrinho de B.P. e grande amigo e colaborador dos Escoteiros de Portugal; dr. Weiss de Oliveira, representante do CNS; Roberto Moreton, presidente do Grupo n. 1 e outros dirigentes das três associações portuguesas.
No dia seguinte, acompanhado de dirigentes dos Escoteiros de Portugal, B.P. visitou em Cascais o Presidente da República, general Óscar Carmona. À tarde, concentraram-se na Praça do Comércio 700 rapazes em representação das três associações e organizou-se um desfile que subiu a Rua Augusta e percorreu várias ruas da cidade. O público abriu alas e aplaudiu a passagem dos escoteiros. B.P. recebeu as honras dos escoteiros, ao lado do dr. Tovar de Lemos, a uma varanda da Escola Nacional, que então existia na antiga Rua Eugénio dos Santos (hoje Portas de Santo Antão). O cortejo seguiu até à Sociedade de Geografia, onde já se encontravam as raparigas (guias da AEP) e os lobitos de Carcavelos. A Sala de Portugal ficou literalmente cheia e as galerias estavam repletas de uma escolhida assistência. Ao entrar na sala, B.P. foi acolhido com uma estrondosa ovação.
Constituída a Mesa, a que presidiu o Conde de Penha Garcia, presidente da Sociedade de Geografia, ladeado por B.P., dr. Tovar de Lemos, almirante Ernesto de Vasconcelos e coman-dante Álvaro de Melo Machado.
O Conde de Penha Garcia, depois de saudar o visitante em inglês, proferiu em português um brilhante discurso, enalte-cendo a obra educativa de Baden-Powell, findo o qual lhe entregou o diploma de sócio honorário da Sociedade de Geo-grafia. Saudaram o visitante os drs. Weis de Oliveira, pelo CNS e Alexandrino dos Santos, pelos Aduaeiros de Portugal, tendo terminado o dr. Tovar de Lemos, comissário nacional da AEP.
Baden-Powell, profundamente sensibilizado, proferiu então uma saudação aos escoteiros portugueses, que Roberto Moreton traduziu:
“Sinto-me verdadeiramente satisfeito por estar entre os meus irmãos escoteiros portugueses, lamentando que a visita seja tão curta. Levarei saudades de vós e da boa impressão do vosso gentil acolhimento. Dentro em pouco, terei de partir, porque o vapor não espera por ninguém.
“Antes, porém, de partir, escoteiros, eu quero deixar-vos três conselhos:
“1º. Deveis procurar, por todas as formas e em toda a parte, cumprir a Lei do Escoteiro.
“2º. Deveis dizer no vosso coração – o meu país é grande, mas hei-de fazê-lo maior ainda.
“3º. Todos vós deveis ser amigos dos escoteiros dos outros países”.

Lembrou que ia realizar-se em Birkenhead, na Inglaterra, um Jambori de 30.000 escoteiros e manifestou o desejo de ver ali os rapazes de Portugal. Terminou saudando os portugueses em nome dos “Boy Scouts” britânicos. B.P. retirou-se de imediato e seguiu para a Rocha do Conde de Óbidos, onde embarcou 5 minutos antes da saída do vapor. Às 19h00 o “Duchess of Richmond largava a caminho de Inglaterra.


B.P. em Lisboa, ladeado por Tovar de Lemos, Albano da Silva e Weiss Oliveira

Agosto de 1929 – O III Jambori Mundial
Os escoteiros portugueses não quiseram decepcionar B.P., quando na sua visita a Lisboa manifestou o desejo de os ver em Birkenhead, no III Jambori. Em 28 de Julho de 1929, embarcaram no paquete “Andes” cinquenta escoteiros, sendo 25 da AEP e outros 25 do CNS, graças às facilidades concedidas pela Mala Real Inglesa, depois das diligências feitas por Roberto Moreton e Godfrey Pope.
Este Jambori foi designado da “Maioridade”, pela comemo-ração dos 21 anos do Escotismo. Foi muito apreciada a pre-sença de Portugal. O coronel Wilson fez as melhores refe-rências aos escoteiros portugueses e Baden-Powell recordou com muita satisfação a visita que meses antes fizera a Lis-boa, a boa impressão que lhe causara o nosso Escotismo e que muito o penhorava a sessão de despedida na Sociedade de Geografia.
Um acontecimento memorável marcou esta grande reunião. Por iniciativa das duas associações da Dinamarca, estava a correr pelos escoteiros de todo o mundo uma subscrição (cada escoteiro não podia concorrer com mais de dois pence, ou equivalente) para oferecer a B.P. uma prenda significativa pelos vinte e um anos do Escotismo. Toda esta organização foi conservada em segredo mas, para eleger o objecto a oferecer, os dinamarqueses procuraram Lady Baden-Powell e pediram-lhe que, sem dizer para quê, se informasse junto do Chefe. qual seria a oferta que gostaria de receber. Ele pensou um pouco, agradeceu a amabilidade e, depois de recusar, perante a insistência respondeu, com bom humor: “Sim, é verdade os meus suspensórios estão velhos; se quiserem oferecer-me um par, ficarei agradecido”.
Foi assim que, durante o Jambori da Maioridade, B.P. recebeu um par de suspensórios e um automóvel “Rolls-Royce”, com reboque para campismo, oferta dos escoteiros de todo o mundo. É hoje uma peça do Museu de B.P.

V Conferência Internacional do Escotismo
Logo a seguir ao Jambori, realizou-se a V Conferência Inter-nacional, no castelo de Arrow Park, também em Birkenhead. Foram delegados à Conferência: dr. Tovar de Lemos, Albano da Silva e Joaquim Duarte Borrego, pelos Escoteiros de Por-tugal, e D. José de Lencastre, dr. Avelino Gonçalves e dr. Weiss de Oliveira, pelo Corpo Nacional de Scouts.

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