sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Da nossa história…(3a) PERCURSORES DO ESCOTISMO em Portugal




OS GRUPOS FUNDADORES

NOTA: Já se fez referência à possível existência de grupos de scouts em vários pontos do País, à data da fundação da Associação dos Escoteiros de Portugal. Porém, o facto de apenas três desses grupos terem fundado aquela Associação e o conhecimento concreto da sua história, dá-lhes legitimidade para serem considerados os primeiros grupos de escoteiros em Portugal.

O PRIMEIRO GRUPO

Em 1912, a União Cristã da Mocidade de Lisboa, assim chamada quando foi fundada em 1898, era um alfobre de juventude, onde se praticava desporto e fomentava a cultura. A sua direcção era assim constituída: presidente, Robert Moreton; vice-presidente, José Augusto Leal; secretários, Joaquim Correia e Romão Peres; tesoureiro, Eduardo Moreira; vogais, Francisco do Nascimento, Carlos Ferreira e Paulo Torres. Rodolfo Horner era o secretário-geral executivo. Personalidade de eleição, fomentou uma extraordinária obra cultural.
Foi ali, na Rua das Gaivotas n.º 6, que nos primeiros dias de Março, se dirigiram dois jovens britânicos, Frank Giles e John Brown e, recebidos por Robert Moreton e Rodolfo Horner, propuseram a fundação de um grupo de scouts. Bem recebida, a proposta foi transmitida à direcção e naturalmente aprovada logo em 22 de Março.
O grupo constituiu-se, além de Frank Giles e John Brown, chefe e chefe-ajudante, com os seguintes jovens, que prestaram o seu compromisso de honra: A. G. Gomes, Armando Ramos, Evaristo Pires Ramos, Horácio Nunes Delgado, José Maximiano Silva, Júlio Ribeiro da Costa (conhecido mais tarde como capitão Ribeiro da Costa, muito ligado aos meios desportivos), Luís Clington Lobo e Romérito Rodrigues Pampulim.
A sessão inaugural efectuou-se no dia 9 de Abril de 1912, na sede da União, presidida por Robert Moreton. Rodolfo Horner e Frank Giles falaram acerca do Scouting.
Entretanto, surgiram novas adesões e organizam-se duas patrulhas; a primeira teve como guia João Paulo da Cruz e sub-guia António Santa Marta, da segunda Humberto Martins era o guia e sub-guia João Garcia David; logo de seguida foi criada a terceira patrulha, com Ernesto de Sousa e Francisco Caetano Dias.
Merece a pena fazer aqui uma pausa para destacar alguns destes nomes. Ernesto de Sousa, em consequência de Frank Giles encontrar dificuldade na sua relação com os rapazes, por dominar mal a língua portuguesa, veio a ser convidado para escoteiro-chefe, cargo que não aceitou de imediato, para se instruir melhor no método do Scouting, mas que veio depois a desempenhar revelando-se um dirigente excepcional, que imprimiu ao grupo grande desenvolvimento e actividade notável. Com a sua partida para os Estados Unidos, seguiu-se-lhe Cosme Vieira Leitão na chefia e, mais tarde, Humberto Martins foi outro chefe do grupo. Ambos se tornaram notáveis e prestaram grandes serviços ao Escotismo. Humberto Martins foi, chefe de vários grupos no Algarve, no período em que ali fixou residência. Foi presidente da Fraternal dos Antigos Escoteiros e acompanhou sempre com muito interesse o Movimento, até Outubro de 1978, data do seu falecimento.
Frank Giles, o jovem que teve a iniciativa de fundar o Grupo, foi chamado em 1914 ao serviço militar na sua pátria, tendo morrido em combate em terras de França.
Fazendo prova do seu próprio dinamismo e do da UCML, a que estava ligado, o Primeiro Grupo começou logo a propaganda, realizando em 17 de Agosto de 1912 uma sessão, presidida pelo dr. Joaquim Leite Júnior, onde falaram também Roberto Moreton, presidente da direcção, e Frank Giles, chefe do grupo. Uma assistência de mais de 200 pessoas seguiu com muito interesse a conferência.
Em 21 de Novembro seguinte, efectuou-se nova sessão de propaganda, desta vez na Liga Naval portuguesa. Foi presidida pelo educador dr. Ricardo Borges de Sousa, figura que surge mais tarde ligada ao grupo n. 3 da A.E.P.
Roberto Moreton apresentou projecções luminosas sobre “A vida dos scouts em Inglaterra”. Esta sessão despertou grande entusiasmo na enorme assistência e a Imprensa deu boa cobertura ao acontecimento.
Um facto importa salientar: o grupo n.º 1 teve influência excepcional na juventude, o que se integrava perfeitamente nos objectivos da UCML. Mas foram as personalidades de Rodolfo Horner, Roberto Moreton e Eduardo Moreira os grandes pólos desta atracção.

Logo no início do Grupo foi feita uma versão portuguesa da “Lei dos scouts”, naturalmente por adaptação da lei do movimento britânico. Foi esta a fórmula adoptada:
1º Um scout é sempre de reconhecida honradez.
2º Um scout é fiel à sua pátria e às autoridades da mesma.
3º A obrigação de um scout é ser útil e ajudar todos.
4º Um scout é um amigo de todos e irmão de todos os outros scouts, qualquer que seja a classe social a que pertençam.
5º Um scout é cortês.
6º Um scout é amigo de todos os animais.
7º Um scout obedece às ordens do “Patrolleader” ou do “Scoutmaster”, sem fazer questão.
8º Um scout deve aparentar sempre boa disposição de espírito em qualquer circunstância em que se encontre.
9º Um scout deve ser económico.
10º Um scout é puro em palavras, pensamentos e acções.

O Primeiro Grupo, que passou a designar-se Grupo n. 1 da AEP, continua hoje em actividade, continuan-do, igualmente ligado à Associação Cristã da Mocidade.

1 comentário:

O nosso Grupo disse...

"17 de Agosto de 1912 uma sessão, presidida pelo dr. Joaquim Leite"

A sessão foi a 27 de Agosto, como atesta o nosso arquivo e não 17 como por lapso se indica

Canhotas

Pedro