Reorganizando…
O ano de 1961 iniciara com uma polémica
suscitada pela análise que o jornal “Sempre Pronto”, sempre atento e
interventivo, entendeu fazer do que fora o ano escotista anterior dentro da
AEP, a que José Maria Nobre Santos reagiu com algum vigor, ferido pela falta de apreciação
do seu esforço, ignorando que o jornal se referia global-mente a uma realidade
associativa que, infelizmente, dava razão aos seus comentários. Saudável
polémica entre um jornal adulto, que acompanhava o interesse de alguns
dirigentes e dos antigos escoteiros na afirmação e expansão associativa, e um
esforçado dirigente, que se desdobrava no louvável empenho de alcançar tal
objectivo. A verdade é que, não talvez por isso, o ano de 1961 veio a ser um
ano de intensa actividade associativa, especialmente a nível das estruturas
centrais
Direcção
Regional em Lisboa
Na realidade, depois do entusiasmo que se
viveu com as actividades que celebraram o Infante D. Henrique, que levaram
alguma animação aos Grupos de escoteiros, mas que evidenciaram as carências
organizativas com que a AEP se debatia, parece que reorganizar teria sido a
palavra de ordem, à qual só respondeu inteiramente a Região do Centro, onde
José Maria Nobre Santos se fez rodear de colaboradores válidos e com eles
construiu a nova estrutura regional.
A Direcção Regional, que tomou posse em 23
de Fevereiro de 1961, era constituída por Aníbal Gonçalves Ramos, Presidente;
José Maria Nobre Santos, Escoteiro-chefe Regional; José Eduardo Pena Ribeiro,
Chefe Regional adjunto; Duarte Gil Mendonça, secretário. Foram ainda empossados
para dirigir os Serviços Culturais, Serviços de Informação e Divulgação
Escotista e Serviços de Material e Uniformes, respectivamente, Pedro Cascalles
Paínho, Mariano Garcia e Ernesto Clímaco do Nascimento.
A cerimónia de posse, realizada na Sede da
AEP, foi presidida pelo Escoteiro-Chefe Nacional, comodoro Duarte Silva, que na
oportunidade afirmou: “estou convencido de que este é o acto mais importante da actual
direcção, estando certo de que da competência e dedicação dos seus membros irá
resultar uma época de Escotismo activo e brilhante para a Região Centro, de
harmonia com as tradições dos Escoteiros de Portugal”.
Por força da
reorganização regional operada, as actividades escotistas adquiriram alguma
regularidade, com a dinamização de alguns grupos de escoteiros na Região
Centro e num ou outro ponto do país, ao que também não era estranho a
capacidade organizativa dos grupos evangélicos que levam a efeito actividades
conjuntas, para as quais convidam outros grupos.
Muita desta acção está forçosamente
relacionada com a investidura do jovem Armando Inácio como chefe do Grupo n.º 94, uma das unidades mais activas e influentes da Região Centro, que numa só
frase demonstrava todo o dinamismo do seu programa:
“… os rapazes apreciam muito não só a acção, movimento, mas a confraternização
com grandes efectivos. Gostam de viver intensamente e de se sentirem apoiados
por muitos companheiros. Se se realizassem actividades de conjunto com outros
grupos, talvez na base regional, tais como visitas culturais, grandes jogos de
inverno, exercícios, festas, sessões de cinema escotista, concursos entre
patrulhas, etc., despertariam o entusiasmo dos rapazes e, fariam, até,
propaganda do Movimento”.
Morte
do Dr. Alfredo Tovar de Lemos
Entretanto, um facto
a assinalar com a maior tristeza foi o falecimento em Fevereiro do Dr. Alfredo
Tovar de Lemos, e “o Escotismo Português perdeu um dos homens mais dedicados e de maior
prestígio entre os que têm militado nas suas fileiras”.
Licenciado em medicina em 1908, cedo se dedicou nobremente à defesa de
causas sociais e patrióticas, colaborando activamente na campanha de “O Século”
a favor das crianças pobres e dirigiu com o maior empenho e competência os
serviços médicos da Cruz Vermelha Portuguesa e da Federação dos Bombeiros.
No Escotismo, onde entrou já adulto,
exerceu sempre os cargos mais elevados, dando provas de competência,
honestidade e dedicação. Foi Comissário Nacional e mais tarde Presidente dos
Escoteiros de Portugal, vindo a ser, igualmente, Presidente da Fraternal dos
Antigos Escoteiros, cargos que ele dignificou com a sua postura de cidadão e
patriota. Ficamos-lhe a dever a excelente reorganização e elevado prestígio
conseguidos nos Escoteiros de Portugal em 1921, quando a associação se debatia
com sérios problemas de identidade e desentendimentos entre os mais
responsáveis. É no “Sempre Pronto” (n.º 191, Março/1961) que vamos encontrar a
sentida homenagem daquele jornal e dos antigos escoteiros aquele ilustre
dirigente.
A oportunidade
de evocar mais uma vez a ilustre figura do dr. Tovar de Lemos, como um
dirigente de excepcional
envergadura, veio dar a oportunidade de denunciar, aberta ou encobertamente, as
falsas dedicações que voltavam a acercar-se dos lugares cimeiros da AEP,
procurando envolver-se na sua orientação, com intenções consideradas de
duvidoso interesse dos interesses do Escotismo. Era um período em que o
empenhamento dos antigos escoteiros se fazia sentir em volta das actividades
escotistas, quer para prestar serviços mais ou menos relevantes, quer para
emitir judiciosas sugestões sobre os caminhos a seguir e metas a alcançar. A
tudo estava atento o jornal “Sempre Pronto” e é através dele que ficamos a
conhecer o que se vai passando nos meandros associativos, eivados pela presença
de elementos menos identificados com os verdadeiros valores do Escotismo.
Os antigos escoteiros, integrados na Fraternal, mantinham-se atentos e críticos ao que se passava nos Escoteiros de Portugal |
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