quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Da nossa história... (17)

OS NOVOS VENTOS PARA O ESCOTISMO(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)

A eleição do comandante Henrique Tenreiro para Presidente da AEP, durante a Conferência de Dirigentes realizada em Dezembro de 1952, veio por termo aos desentendimentos que dividiam os dirigentes associativos e chefes de grupos desde que o eng.º Jorge Jardim anunciara a sua resignação naquele cargo.

Posse do novo Presidente da AEP

A tomada de posse do novo Presidente teve lugar em 19 de Fevereiro de 1953, num acto extraordinariamente concorrido, a que presidiu o Presidente cessante, eng.º Jorge Jardim, acompanhado do dr. Alfredo Tovar de Lemos, presidente da FAEP, dr. Francisco Cortês Pinto, presidente do Tribunal de Honra da AEP e dr. Manuel Alambre dos Santos, representante da Mocidade Portuguesa. Afirmando a sua condição de escoteiro (enquanto criança fez parte dos “escoteiros de Lisboa”) e a sua enorme simpatia pelo Escotismo, H. Tenreiro declarou na oportunidade: “a minha única norma é a absoluta lealdade, colaboração e amizade”.
Porém, ainda que a sua eleição tenha sido votada por unanimidade, não era de todo agradável para alguns chefes de grupo o facto do novo presidente ter uma tão evidente actividade política ao serviço do Estado Novo. Mas diga-se, em abono da verdade, que Henrique Tenreiro quase sempre manteve uma clara distinção entre essa actividade e a sua Presidência da associação escotista, mesmo quando alguns dos seus mais directos colaboradores tomaram atitudes equívocas.

Posse da nova Direcção associativa

Em 7 de Março, na presença do Presidente do Tribunal de Honra, Henrique Tenreiro deu posse à sua direcção, que ficou assim constituída: Escoteiro Chefe Geral, Comodoro Daniel Duarte Silva; Secretário-Geral, tenente Domingos Diogo Afonso; Tesoureiro, Júlio Rocha Borges; Vogais: Manuel Dias de Almeida e Alberto Garcia de Almeida. Para o cargo de Secretário das Relações Internacionais foi escolhido o eng.º Manuel Lopes Peixoto.
Foi ainda designada uma COMISSÃO TÉCNICA formada por: Franklim de Oliveira, Joaquim Amâncio Salgueiro Jr., João Clímaco do Nascimento, eng.º José Maria Nobre Santos, João Madeira Leitão, Henrique Alves de Nobre Santos, João Azevedo e João Magalhães Ferraz, todos nomes já conhecidos nos meios escotistas.

A nova Sede dos Escoteiros de Portugal
Em 23 de Abril do mesmo ano a AEP muda a sua Sede Central para instalações conseguidas, a título provisório, no Cais do Sodré, local excelente mas demasiado exíguo para o fim em vista, a não ser que desde logo se tenha pensado em que um gabinete para a direcção e uma sala para reunir os dirigentes seria espaço suficiente para a Sede nacional.
A inauguração foi assinalada com um acto solene, marcando alegremente o “Dia do Escoteiro”. Durante a cerimónia, a que assistiram (de pé) os chefes dos grupos de Lisboa e alguns convidados, Henrique Tenreiro ofereceu à AEP uma nova bandeira nacional. O estandarte da associação e uma bandeira de S. Jorge foram igualmente oferecidos, respectivamente, por Franklin de Oliveira e Amâncio Salgueiro. O Presidente da AEP colocou no estandarte associativo as insígnias de Cavaleiro da Ordem de Benemerência e de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa, oportunamente conferidas à AEP.

Falta de desenvolvimento e dinamização
Dadas as circunstâncias, a actividade associativa não conheceu grande desenvolvimento, nem a dinamização dos grupos se fez sentir como desejado, apesar de alguns esforços por parte da direcção. O Escoteiro Chefe Geral acompanhado de outros elementos directivos visitou, durante o mês de Junho, os grupos da Capital, informando-se com interesse da sua situação, das condições de trabalho e de instalação, provocando certo entusiasmo em alguns grupos.
Por seu lado, o jornal “Sempre Pronto”, em crítica subliminar ao pouco trabalho que se estava desenvolvendo na AEP, avança em artigo de Eduardo Ribeiro, publicado no seu número de Setembro de 1953, a oportunidade de uma homenagem pública aos fundadores da Associação, integrada nas comemorações do 40º aniversário e “o regresso aos princípios que norteiam o Escotismo e às directrizes de B.P…”.
Também a criteriosa exposição ao Presidente, apresentada pelo Chefe do Grupo n.º 13, instalado na Sociedade de Geografia, considerando “que a superior finalidade da AEP impõe uma revisão do seu plano de trabalho para melhoria do seu nível cultural e consequente prestígio..." continha propostas objectivas sem qualquer efeito, que vieram a ser conhecidas pela publicação integral daquele documento no “Sempre Pronto” de Outubro e Novembro de 1953.

O 40º aniversário da AEP
Porém, as comemorações do 40º aniversário da AEP, não atenderam a tais sugestões e até ficaram bem longe da resolução que havia sido aprovada na Conferência de Dirigentes de Dezembro de 1952: “Que se realize em 1953 um Acampamento Nacional e uma Semana do Escoteiro, em comemoração do 40º aniversário da AEP…”, limitadas a uma Sessão solene, ainda que com algum brilho e discursos prometedores de bons tempos para o futuro, que não chegaram a entusiasmar grande número dos chefes dos grupos.
Mas a orientação do com.te Henrique Tenreiro nunca foi posta em causa, mantendo-se na Presidência da AEP por mais de vinte anos (até Abril de 1974). Porém, a verdade é que nunca a sua importância nacional trouxe evidentes benefícios para os Escoteiros de Portugal e nunca se desfez em alguns dirigentes o mal-estar que sentiam em público quando tinham de se identificar como seus subordinados.

Os novos ventos para o Escotismo em Portugal
É neste período, que começa a notar-se um forte investimento da Igreja Católica na sua associação escutista, através da proliferação de Agrupamentos junto das paróquias, ganhando visibilidade pública com as acções desenvolvidas pelos escutas.
A ausência de um sólido programa de acção da AEP e a debilidade das chefias central e regionais, não proporcionou a resposta associativa que seria de esperar, juntando ao bom trabalho desenvolvido pelo escotismo católico, necessariamente limitado pelo proselitismo das suas acções, actividades características do seu Método, dando ao Movimento escotista português a universalidade dos seus princípios interétnicos e interconfessionais. Bem pelo contrário, viveu-se um período de alheamento e cedências perante os vanguardismos ditados pelo peso social da associação congénere, de que pode servir de mero exemplo a confusão lançada à volta dos vocábulos escoteiro e escotismo, onde os nossos dirigentes evidenciaram a sua fraqueza, ignorância e desinteresse.

A existência de movimentos de pressão
Entretanto, era evidente a existência, desde os finais dos anos quarenta, de alguns movimentos de pressão, corporizados no aparecimento do jornal “Sempre Pronto”, em Janeiro de 1945 e da Fraternal dos Antigos Escoteiros, em Março de 1950. Também a melhor atenção dispensada ao Escotismo nos meios evangélicos, a partir do II Congresso da Juventude Evangélica Portuguesa (Maio de 1951), no qual foi apresentada a tese “O valor do Escotismo na educação da adolescência”, da autoria de Eduardo Ribeiro.

Tais movimentos, a que sempre encontramos ligada a figura prestigiada do antigo dirigente escotista Eduardo Ribeiro, apoiado pela acção organizativa do Grupo n. 94 e do seu Chefe Capitolino Macedo, vão evoluindo positivamente através da inauguração do Grupo n.º 10, em 27 de Abril de 1952, anexo à Igreja Evangélica Presbiteriana de Lisboa; a reabertura, em 1 de Junho, do Grupo n.º 78, anexo à Igreja Evangélica Figueirense, na Figueira da Foz; a criação do Grupo “Rainha D. Leonor” das Guias de Portugal, em 3 de Maio de 1953; a instalação da Comissão Organizadora da União Evangélica de Escoteiros de Portugal, que não terá chegado a concretizar a sua existência, dando, porém lugar à criação de um Secretariado dos Grupos Evangélicos, que teve uma acção de certo relevo em alguns episódios daquela era escotista.
A acrescentar, ainda que mais tarde, a criação dos grupos n.º 8 Febo Moniz, n.º 14 Algés e 2ª companhia de Guias.

O 2º Acampamento Internacional de Patrulhas, em S.Paulo - Brasil

Após os factos que vem sendo narrados, não será difícil reconhecer que todo o esforço da direcção associativa se concentrou no contingente que viria a participar no 2º Acampamento Internacional de Patrulhas que viria a decorrer em Julho de 1954 em S. Paulo, Brasil. Já havíamos estado presentes, com duas patrulhas, em Gillwel Park, quando da realização do evento anterior, graças ao empenhamento do então Presidente eng.º Jorge Jardim, mas esta segunda edição foi rodeada de cuidados especiais, que transformaram o nosso contingente numa verdadeira embaixada do escotismo português a terras brasileiras, onde existia uma relação bem fraternal em numerosos dirigentes escotistas do país irmão, que dispensaram aos nossos escoteiros provas de grande carinho.
Quem conheceu Albano da Silva, então escoteiro-chefe geral adjunto, sabia perfeitamente que ao ser nomeado responsável pelo contingente português tudo teria que correr de forma perfeita, mas fica-nos a admiração pela forma como tudo foi preparado, incluindo o treino dos escoteiros, que para o efeito participaram num acampamento de cinco dias, dirigido pelo chefe Francisco Pina, e pelo empenho do “Sempre Pronto” no acompanhamento que fez daquela actividade, cujo relato preencheu várias páginas, durante dois ou três números.
Provavelmente, tal actividade mereceu aquele empenhamento, até porque dela ficou uma boa recordação e um espólio histórico que veio a alimentar actividades posteriores.

O 10º aniversário do jornal “Sempre Pronto”
O jornal escotista tinha atingido o auge da sua popularidade e prestígio. Órgão de ligação dos antigos escoteiros ele era também o aglutinador de todo o movimento associativo da AEP. O dinamismo do seu director, Eduardo Ribeiro, tornando-o presente a todos os níveis nas acções associativas e a qualidade dos colaboradores que nele depositavam os seus pensamentos e comentários, deram-lhe o prestígio de um jornal adulto e respeitado por todos, mesmo aqueles que não concordavam com alguns dos seus conteúdos.
Por isso, não surpreende o êxito alcançado nas comemorações do seu 10º aniversário, com uma Sessão Solene realizada no dia 3 de Janeiro de 1955, no Salão Nobre do Ateneu Comercial de Lisboa, à qual assistiu uma deputação de antigos escoteiros espanhóis que se deslocaram a Lisboa propositadamente para o efeito. A Sessão foi presidida pelo com.te Henrique Tenreiro, ladeado pelo Comodoro Duarte Silva, Escoteiro Chefe Geral, Augusto Romão, director do Ateneu Comercial de Lisboa, Henrique Genovés, chefe da delegação espanhola e colaborador do S.P. e Eduardo Ribeiro, director do jornal. Entre a numerosa assistência, membros da direcção da AEP, muitos dirigentes escotistas e escoteiros de diversos grupos da Capital, antigos escoteiros, jornalistas e outras individualidades.
O jornalista e antigo escoteiro, sr. Ernesto Belo Redondo proferiu uma conferência com o título “O nosso amigo jornal”.
Das comemorações, ainda fizeram parte uma exposição da imprensa escotista e um jantar de confraternização, que foi largamente concorrido.