sábado, 30 de abril de 2011

Da nossa história...15

Renasce de novo a esperança
em melhores dias
(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“)

A década de 40 foi palco de alguns dos mais importantes acontecimentos do Escotismo, nacional e internacional. Desde logo, a realização do Jamboree da Paz em 1947, em Moisson, na França, um acontecimento grandioso, onde estiveram presentes cerca de 40.000 escoteiros, constituindo a maior concentração escotista até aquela data, num incitamento à Paz e concórdia entre as nações.

Igualmente importante foram a presença do engº Brotas Cardoso, em Julho de 1948, na II Reunião dos Comissários Internacionais e a realização, em princípios de Agosto de 1949, da 12ª Conferência Internacional do Escotismo, que teve lugar em Elvasaeter na Noruega, na qual estiveram presentes delegações de 22 países, entre as quais uma delegação portuguesa formada por Jorge Brotas Cardoso, chefe geral da AEP, Fernando de Oliveira Mouta, Luís de Faria, Victor Lima e Santos e João Garcia Cabral, destacados dirigentes do CNE. Entre as decisões tomadas por esta Conferência, destacaram-se a escolha da Áustria para realizar o Jamboree de 1951 e a escolha de Portugal para a reunião dos Comissários Internacionais em 1950.

Ao nível nacional, teve igualmente grande significado a publicação do Decreto-Lei n. 31908, em Março de 1942, com o qual desapareceu a ameaça, que pairava latente, da extinção do Movimento em Portugal, embora com o ónus da submissão à Organização Nacional Mocidade Portuguesa e ao seu Comissário Nacional, Marcelo Caetano.


Facto igualmente positivo foi a eleição do Engº Jorge Pereira Jardim, em Maio de 1948, para Presidente da AEP. Dirigente de muito prestígio, que era particularmente estimado e respeitado pela maioria dos chefes, logo deu à nossa associação melhor organização e perspectivas de acção que desde há vários anos se não conheciam, proporcionando alguma visibilidade e prestígio. Só foi pena que a sua presidência efectiva viesse a ter curta duração. Por força da sua designação para subsecretário do Comércio e Indústria, foi substituído interinamente pelo engº Brotas Cardoso, que acumulou o cargo com o de escoteiro chefe geral.

Mas, para além dos referidos acontecimentos, é de toda a justiça evidenciar dois outros não menos importantes, que são o aparecimento do jornal escotista SEMPRE PRONTO, em Janeiro de 1945 e o movimento lançado por aquele periódico logo no seu primeiro número, para consolidar uma ideia nascida no jantar comemorativo do 32º aniversário do Grupo n. 2, realizado no dia 1 de Dezembro de 1944, pela qual se bateu durante vários anos e que levou à criação, em 11 de Março de 1950, da Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal, órgão associativo para o estudo e divulgação do Escotismo.

Às duas entidades referidas muito se ficou a dever pelo apoio e valorização das acções desenvolvidas pelos Grupos e pelas estruturas Centrais da AEP, especialmente o mensário escotista que, agindo muita vez de uma forma crítica, manteve ao longo dos anos uma verdadeira luta pela dignidade associativa e pela defesa dos ideais escotistas.

O aparecimento do “Sempre Pronto”
“Sempre Pronto” nasceu, de uma forma simples, dentro de um Grupo de escoteiros, o 94 na Ajuda, com uma ideia muito determinada, defender o Escotismo dos seus detractores e divulgar o Movimento de uma forma séria. Foram seus fundadores Eduardo Ribeiro, Capitolino Macedo e Joel Ribeiro, que faziam parte da chefia do Grupo, desde logo aliciando alguns colaboradores em outras áreas associativas. Geralmente bem aceite pelos antigos escoteiros, que mantinha informados do que se passava nas hostes associativas, fornecia aos escoteiros ensinamentos importantes de carácter técnico e pedagógico.

Porém, o estilo acutilante e crítico dos seus textos, não perdoava à acção desastrosa de Amâncio Salgueiro e, em Maio de 1947, a direcção da AEP exigiu da direcção do Grupo n. 94 a suspensão da publicação e a ordem arbitrária foi cumprida.


Porém não desistiram os jovens e intrépidos “jornalistas” e, porque naqueles dois anos “Sempre Pronto” ganhara vitalidade e grande apoio dos meios escoteiros, a propriedade do jornal foi transferida e legalizada em nome do “Circulo Fraternal de Cooperação Escotista”, pelo que, em Julho seguinte, a publicação continuava a sua luta por um Escotismo digno dos ideais de B.P..

O Sempre Pronto e o seu director Eduardo Ribeiro foram durante dezenas de anos a mais séria e a mais importante referência do Escotismo português, informando, ensi-nando, doutrinando e organizando acções que prestigiaram o nosso movimento e contribuíram para a sua defesa e expansão no nosso país. Desde a sua criação, em Janeiro de 1945, manteve uma publicação impressionantemente regular até cerca de 1982. Ao longo desses 37 anos publicou mais de 430 números, sempre dirigido por Eduardo Ribeiro.

O autor destas linhas [Mariano Garcia] não pode deixar de registar aqui a mais elevada admiração pelo percurso escotista de Eduardo Ribeiro e a sua enorme gratidão pelo muito que com ele aprendeu em mais de vinte anos de muito estreita colaboração, ao serviço do “Sempre Pronto” e do Escotismo.

Permitimo-nos considerar que, com o desaparecimento de Eduardo Ribeiro findou também a vida daquele jornal escotista, embora “Sempre Pronto” continue a sua publicação como órgão oficial da AEP, mas com características totalmente diferentes, posto que deixou de ser um mensário informativo e interveniente, para ser uma pequena revista, especialmente destinada aos mais novos, que se publica com pouca regularidade.


Com a presidência do Engº. Jardim a vida dos Escoteiros de Portugal recebeu um forte impulso. Reunindo à sua volta elementos de reconhecido mérito escotista, procurou mudar o rumo associativo, designando Jorge Brotas Cardoso para escoteiro chefe nacional e para as chefias regionais foram nomeados António Mira Calhau, Amadeu Cândido Braga e João Miranda Trigueiros, respectivamente Centro, Norte e Sul. E a actividade associativa foi animada por uma onda de entusiasmo.

O novo presidente teve ainda o cuidado de normalizar as relações entre a própria Direcção Central da AEP e o jornal Sempre Pronto. Foi reconhecido oficialmente o interesse da publicação daquele mensário e estabelecidas normas de relação, tendo o próprio director do Sempre Pronto sido nomeado delegado da AEP junto do jornal.

Nasce A Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal
A ideia havia sido lançada há muito, mais precisamente no decorrer de um jantar realizado no dia 1º de Dezembro de 1944, onde mais de 40 convivas comemoraram o 32º aniversário do Grupo n. 2.

“Sempre Pronto” apadrinhou essa ideia logo no seu primeiro número publicado em Janeiro de 1945 e fez dela uma verdadeira campanha, procurando mobilizar quer os antigos escoteiros, quer os dirigentes associativos e dos grupos.

Organizar a Fraternal dos Antigos Escooteiros era uma ideia simpática a todos que já haviam passado pelo Escotismo e nesse sentido se manifestaram nas páginas daquele jornal. Todavia, ainda que logo no ano seguinte o Presidente da AEP tivesse chamado a si a iniciativa de criar uma Comissão Organizadora da Fraternal, tornando público, através de David Boudouin, precisamente no jantar comemorativo do 33º aniversário do Grupo nº. 2, o convite a Luís Alves Miguel, Edmundo de Matos, Quintino Pinheiro, Santos Lopes, Conde Ribeiro e Mariano Lapa para constituírem essa Comissão e dos aplausos que aprovaram tal nomeação, as intenções não passaram disso mesmo e foram precisos mais de três anos para, no celebrado jantar de 21 de Fevereiro de 1948, evocativo do aniversário de BP se voltar a falar no assunto, Foi então que, após um veemente artigo de Eduardo Ribeiro na primeira página do seu jornal, em Maio do mesmo ano, fazendo apelo a todos os antigos escoteiros, “Sempre Pronto” chamou a si a mobilização geral, promovendo em 19 de Novembro de 1949, na sala Algarve da Sociedade de Geografia, uma sessão presidida por: com. Álvaro Melo Machado, dr. Alfredo Tovar de Lemos e dr. Francisco Cortez Pinto, onde foi eleita, por aclamação a Comissão Organizadora da Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal constituída por: Ernâni Roque, Eugénio Ribeiro Nunes, Fernando Bahia dos Santos, dr. Gonçalo Mesquitela, Eng. José Maria Nobre Santos, Luís Grau Tovar de Lemos, AEP representada por António Mexia de Castro Paivaa e jornal “Sempre Pronto”, representado por Ernesto Clímaco do Nascimento.


Finalmente, em 11 de Março de 1050, foi realizada no Salão Nobre do Ateneu Comercial de Lisboa a Assembleia constitutiva que, por unanimidade, aprovou o respectivo Regulamento Geral e elegeu os Corpos Gerentes:
Presidência: Com. Álvaro Melo Machado, presidente; Ver. Eduardo Moreira e dr. Francisco Cortez Pinto, vice-presidentes; dr. Leopoldo Figueiredo, 1º secretário; dr. Délio Nobre Santos, 2º secretário.
Direcção: dr. Alfredo Tovar de Lemos, presidente; major Joaquim Duarte Borrego, vice-presidente; António Manuel Ribeiro, 1º secretário; Gastão de Moura Florêncio, 2º secretário; Sérgio Conde Ribeiro, 2º secretário; Antero Nobre, 1º vogal e dr. Luís Teixeira, 2º vogal.
Conselho Fiscal: Albano da Silva, presidente; Joaquim Amâncio Salgueiro Júnior, secretário e Ernâni Roque, relator.

Enorme dinamismo marca a vida da AEP
A dinâmica criada pelo engº Jorge Jardim, enquanto Presidente da AEP e a expectativa de Portugal vir a ser palco da primeira reunião do Escotismo Internacional, faz aumentar o entusiasmo dos dirigentes associativos. Entretanto, o ano de 1950 inicia-se, praticamente, com a notícia da demissão da direcção.

Porém, o Presidente escolhe de imediato os elementos para uma nova direcção, que fica assim constituída: Luís Grau Tovar de Lemos, chefe-geral e presidente interino; dr. Baltasar Rebelo de Sousa, secretário-geral; engº José Maria Nobre Santos, secretário das relações internacionais; Eduardo Ribeiro, tesoureiro-geral.

A nova direcção elabora, com entusiasmo, um ambicioso calendário de actividades, de onde constam:1. acolhimento a três reuniões internacionais – Reunião dos Comissários Internacionais, Reunião da Comissão Internacional do Escotismo e Reunião Consultiva sobre os Antigos Escoteiros; 2. Um concurso inter-grupos; 3. Uma escola de Guias; 4. um curso de Chefes; 5. um acampamento nacional; 6. um progra-ma (modelo).para os grupos.

Todo o entusiasmo revelado pelos dirigentes associativos não deixou de dar seus frutos, contagiando a acção de muitos Grupos que conheceram neste período um maior desenvolvimento, nomeadamente empenhando-se na enorme tarefa de preparar a sua presença no Acampamento Nacional, que veio a realizar-se no mês de Setembro, na Quinta do Junqueiro, em Carcavelos.

Libertando-se das terríveis amarras do passado recente os Escoteiros de Portugal, começavam a adquirir o ritmo de uma associação escotista, empenhada na formação dos seus dirigentes e na educação cívica dos seus jovens.