domingo, 26 de dezembro de 2010

Da nossa história…(11)

A capacidade afirmativa dos Escoteiros de Portugal

Depois das modificações produzidas na estrutura associativa e apesar da década de 30 vir a ser fortemente marcada pelos graves acontecimentos que assolaram a Europa, após a subida de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, que levaram à eclosão da Segunda Grande Guerra, em 1939, a AEP viveu um período de prestigiosa expansão e grande actividade nacional e internacional, nomeadamente na primeira metade desta década, isto é, até à criação da Mocidade Portuguesa, movimento nacionalista, sob tutela do governo, que pretendeu substituir o Escotismo.

Não podemos, pois, deixar de referenciar algumas dessas principais actividades:

Criação da Organização Escotista de Portugal
Por pressão da Organização Mundial do Escotismo, a Associação dos Escoteiros de Portugal e o Corpo Nacional de Scouts, retomaram em 1932 as conversações, que haviam sido iniciadas em Março de 1928, dando lugar a diversas reuniões das partes, que levaram à constituição de uma comissão, que esteve em alguns Ministérios e chegou a ser recebida pelo Presidente da República, que elogiou os escoteiros pelo exemplo de concórdia que davam ao país, a Federação não chegou a ser constituída.

Passada a crise que dominara a vida da AEP, reataram-se as conversações, mas agora sob a égide do Governo, que se mostrou parte interessada no processo. Uma comissão constituída por dr. Dinis Curson e dr. Fausto Salazar Leite, pela AEP rev. Avelino Gonçalves e dr. Silva Passos, pelo CNS e dr. Braga Paixão, que presidia, designado pelo Ministério da Instrução Pública, produziu o documento que levou à criação da Organização Escotista de Portugal, aprovada pelo Decreto nº. 21434 de 29 de Junho de 1932, e publicado no Diário do Governo de 1 de Julho.

II Acampamento Nacional
Teve lugar em Carcavelos, de 8 a 22 de Agosto de 1933, na Quinta Nova, cedida pelo Cabo Submarino e constituiu um verdadeiro êxito a primeira actividade de âmbito Nacional após a remodelação associativa. Estiveram presentes escoteiros de todo o país continental e das Ilhas Adjacentes. Intitulada de “campo de férias”, a actividade foi bem organizada, bem dirigida e decorreu da melhor maneira escotista, reunindo o aplauso unânime de quantos nela participaram.

Enquanto decorria este Acampamento Nacional, realizava-se em Godollo, na Hungria, o IV Jambori Mundial. Foi enviada, em nome dos escoteiros acampados, uma mensagem a Baden Powell, cuja resposta foi recebida treze minutos depois. Se tivermos em conta a velocidade das comunicações naquela época, podemos avaliar o que essa resposta revelou de prestigiante para os escoteiros portugueses.

II Conferência Nacional de Dirigentes
Durante o Acampamento, de 18 a 20 de Agosto, reuniu a Conferência de Dirigentes, que fez alterações ao Regulamento Geral, recomendou a realização de actividades gerais de dois em dois anos, distinguiu o comandante Álvaro de Melo Machado com o título de Escoteiro Chefe Geral Honorário, elegeu a Comissão Permanente e tomou outras decisões de interesse para o Movimento. De facto, a AEP parecia encetar um novo surto de progresso.

Depois desta Conferência a Comissão Executiva ficou constituída por dr. Fausto Salazar Leite, António Ferreira da Silva, Rui Santos, Alexandre Correia e Raul Nolasco.

IV Jambori Mundial
Decorreu em Agosto de 1933, em Godollo, na Hungria, com a presença de 3000 escoteiros, representando 32 países. Portugal, pela primeira vez, não esteve representado oficialmente, comparecendo como visitante o dr. Manuel Gomes dos Santos, grande entusiasta do Escotismo, que vinha desempenhando diversos cargos associativos e viria a ser presidente da Comissão Executiva da AEP.

Esta ausência de uma delegação portuguesa foi por muitos interpretada como prova sintomática da inutilidade da Organização Escotista de Portugal, facto que se reconhecia igualmente lá fora. Em 1935, Portugal esteve de novo ausente na VIII Conferência Mundial, que se realizou em Estocolmo. Por esse motivo, foi feita a seguinte comunicação à Secretaria Mundial: “tenho o desgosto de vos comunicar que a organização inter-federal de Portugal, sob a égide do ministro da Instrução Pública, não deu resultados satisfatórios, e que temos tido grandes dificuldades em nos mantermos em contacto com uma das associações. O nosso comité que estude com cuidado a situação”.

É pena que ao transcrever esta comunicação, Eduardo Ribeiro não tenha esclarecido a sua autoria, nem referido qual a associação referida, nem quaisquer consequências da mesma, pelo que temos de nos ficar com o facto em si mesmo, já que não foi possível obtê-lo de outra fonte.

Fundação do Grupo nº. 13 na Sociedade de Geografia
Resultado do dinamismo adquirido após a remodelação das suas estruturas, verifica-se novo empenhamento da AEP na criação de novos grupos. Em 6 de Dezembro de 1933, escoteiros e numeroso público assistem a uma sessão solene na Sociedade de Geografia de Lisboa, a marcar a inauguração do novo Grupo n.º 13, na qual Antero Nobre, prestigiado dirigente escotista, fez uma brilhante conferência com o traçado histórico do Escotismo em Portugal. O Grupo n.13 ficou instalado naquela Sociedade por algumas dezenas de anos.

A II visita de Baden Powell a Lisboa
No dia 12 de Abril de 1934, cerca das 8 horas da manhã, atracava ao Cais da Rocha do Conde de Óbidos a paquete “Adriatic”. A bordo viajava Lord Baden Powell, acompanhado de 700 dirigentes do Escotismo e Guidismo britânicos, já de regresso a Inglaterra após uma viagem por diversos portos do Mediterrâneo. B.P. era aguardado por dirigentes do Escotismo e Guidismo de Portugal, que subiram a bordo para cumprimentar o Chefe Mundial, mas este estava impossibilitado de os receber, por se encontrar doente. Foram recebidos por sir Percy Everett, um amigo de B.P. e seu colaborador desde o acampamento de Brownsea, no qual participou, em 1907.

Com a colaboração dos Rotários de Lisboa foi possível dispor de uma frota de automóveis, que levou os visitantes a Sintra e ao Estoril. Mais tarde, concentraram-se em S. Pedro de Alcântara com os Escoteiros de Portugal, os do Corpo Nacional de Scouts e as Guias de Portugal e, ainda, os Adueiros de Portugal, formando um grande desfile, aberto pela banda da Casa Pia, seguida dos “scouts” e “guides” britânicos e logo pelos escoteiros e guias portugueses, que seguiu na direcção da Praça do Município e, logo depois, até ao cais da Rocha, sempre aplaudidos por numeroso público que abria alas à sua passagem.

De novo frente ao “Adriatic”, ouviram Lady Baden Powell expressar a sua satisfação e do Chefe por se encontrarem em Portugal, acrescentando: “Fiquei encantada ao ver o vosso desfile, não só pelo vosso bom aspecto, mas pelo que esse desfile representa”.

Surge então Baden Powell, fazendo ouvir-se através da instalação sonora montada: “Irmãos escoteiros, quero dizer-vos quanto sinto não ter podido desembarcar e visitar-vos na vossa cidade”, acrescentando com o seu habitual humor “arranjei um médico muito ríspido e uma enfermeira que me obrigam a executar as suas ordens. Quero agradecer terdes vindo aqui para me verdes. Há cerca de quatro meses que estou doente e esta é a primeira vez que envergo o meu uniforme, para me apresentar aos escoteiros portugueses. Tive grande prazer em ver tão grande multidão de escoteiros com tão bom aspecto. Desculpai-me não falar português, mas prometo ir aprender o vosso idioma, assim que chegar a Inglaterra, para que o possa falar quando aqui voltar outra vez”.

O presidente da Organização Escotista de Portugal, dr. Braga Paixão, saudou B.P. em nome dos escoteiros portugueses, que saudaram o Chefe Mundial com uma estrondosa ovação.

O Rádio Clube Português havia assegurado a cobertura radiofónica e a Companhia dos Telefones garantiu uma ligação até ao estúdio, pelo que tudo que ali aconteceu foi transmitido a todo o País, o que constituiu verdadeiro acontecimento. O antigo dirigente escotista Alberto Lima Basto, assegurou a locução e tradução do evento.

A Associação dos Escoteiros de Portugal distinguida com a Ordem de Benemerência
Em 2 de Julho de 1934, em sessão solene realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, o tenente Carvalho Nunes, em representação do Chefe do Estado, colocou na bandeira dos Escoteiros de Portugal as insígnias da Ordem de Benemerência.

À cerimónia, a que assistiram muitos escoteiros e guias, presidiu o representante do Chefe do Estado, ladeado pelo dr. Braga Paixão presidente da OEP, dr. Sá e Oliveira presidente da AEP e Pais Ferreira pelo CNS.

III Acampamento Nacional
No início de Setembro de 1934, a AEP resolveu fazer o seu Acampamento Nacional no Porto, onde se iria realizar, entre 9 e 21, a Exposição Colonial, no Palácio de Cristal. Para ali se deslocaram escoteiros de todo o continente e ilhas, numa expressiva adesão.

Por dificuldades de espaço, os escoteiros não puderam acampar, como previsto, nos jardins do próprio Palácio de Cristal, mas num pequeno bosque do Colégio Nuno Álvares, na Rua do Heroísmo. Os fogos de conselho deste acampamento foram notáveis, agradando ao numeroso público que a eles assistiu, distinguindo-se a Região do Algarve, sob a chefia de João Trigueiros, cujas canções alegres muito animaram as festas.

No domingo, os escoteiros efectuaram um grande desfile, que atravessou a ruas do Porto até ao local da exposição, onde formaram em parada e o dr. Manuel Gomes dos Santos, presidente da Comissão Executiva, fez um vibrante discurso perante grande multidão.

Este Acampamento Nacional foi uma actividade para confirmar que os Escoteiros de Portugal estavam em franco desenvolvimento e progresso.

Festa da Mocidade, promovida pela AEP
Na Primavera de 1935, teve lugar, na Sala de Portugal da Sociedade de Geografia, a “Festa da Mocidade” promovida pela Associação dos Escoteiros de Portugal, com a presença de centenas de escoteiros e duas centenas e meia de scouts do CNS. Presidiu o Chefe do Estado que acendeu o simulacro de fogo de conselho. Foi uma festa notável, com assistência que enchia as galerias e que teve grande repercussão na Imprensa, que nessa altura dava muita atenção às actividades escotistas.

Concurso interpatrulhas, do jornal “Sports”
Antero Nobre, secretário geral da AEP, mantinha regularmente uma secção escotista neste jornal, que, por sua iniciativa, realizou em 14 de Abril de 1935, nas instalações do “Jockey Club”, no Campo Grande, um concurso inter-patrulhas, no qual participaram os grupos 2, 7 e 9 de Lisboa.

Conferência Nacional de Dirigentes
Em 28 de Junho de 1935 teve lugar uma reunião geral de chefes, à qual compareceram dirigentes de Lisboa, Lagos, Portimão, Faro, Olhão, Beja, Montijo, Figueira da Foz, Porto e Valença do Minho. Foram aqui eleitos o dr. Armindo Monteiro, para presidente da Associação e dr. Pedro Teotónio Pereira, para presidente da Comissão Executiva. O primeiro era ministro dos Negócios Estrangeiros e o segundo desempenhava também importante cargo público. A AEP procurava couraçar-se perante perigos que a ameaçavam mas, por outro lado, substituía verdadeiros dirigentes por figuras ligadas ao regime.

Mas a AEP continuava muito activa e em Agosto desse ano voltou a realizar um acampamento de férias, num pinhal do Estoril, junto ao Casino, que teve bastante concorrência dos grupos da Região de Lisboa e foi considerada uma boa actividade.

Semana do Escoteiro “Z”
Vivia-se já uma época em que dominavam as preocupações de uma guerra iminente e, com elas, as ideias de defesa organizada das populações. Algumas unidades escotistas começavam a sua preparação nesta área. Em 5 de Abril de 1936, o Grupo nº. 16 de Carcavelos inaugurava no Grémio Alentejano, a 1ª Semana Portuguesa “Z”, actividade inédita como divulgação dos sistemas de defesa passiva. Uma exposição de material de defesa e uma série de conferências, onde usaram da palavra individualidades especializadas no assunto, fizeram desta actividade um acontecimento local, tendo a exposição, onde também colaborou a 1ª Companhia de Guias, sido visitada por milhares de pessoas, depois da sua inauguração pelo Ministro do Interior.
Este Grupo, atingiu naquela época um grande desenvolvi-mento, sob a chefia do tenente Serafim Prazeres, sendo o dr. Manuel Marques da Mata, médico muito respeitado na localidade, o presidente da Comissão Executiva.

O Jubileu dos Escoteiros de Portugal
O ano de 1937 foi dedicado ao Jubileu do Escotismo em Portugal. Considerando que os primeiros Grupos haviam sido fundados em 1912 o Movimento completava, portanto, 25 anos em Portugal.

Ignoramos se propositadamente, esquecia-se assim a existência do Movimento em Macau em 1911 e a possibilidade de ter existido Escotismo em Coimbra, mesmo antes daquela data, a serem credíveis as noticias sobre as acções do dr. Leite Jr. Por outro lado, o reconhecimento oficial da AEP data apenas de 1913.

A inauguração oficial das comemorações, foi feita em 13 de Janeiro pelo capitão Afonso dos Santos, recém investido nas funções de comissário nacional, ao receber na sede central as chefias dos Grupos de Lisboa, perante quem prestou o seu compromisso de honra.

A cerimónia comemorativa realizou-se, em 23 de Abril, na Sociedade de Geografia e constituiu mais uma importante jornada para o Escotismo Português. Esteve presente numeroso público, bem como delegações das Guias de Portugal e do Corpo Nacional de Escutas (assim passara a chamar-se o Corpo Nacional de Scouts, a partir de Agosto de 1935), além de um numeroso contingente dos Escoteiros de Portugal

Da nossa história…(10)

Nova crise associativa (apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)

Chegados a 1930, os Escoteiros de Portugal estão de novo na iminência de grandes transformações. Após uma fase de grande desenvolvimento, em que se realizaram actividades importantes e se participou activamente em vários acontecimentos de carácter internacional, o entusiasmo dos dirigentes, que acompanhavam e aprendiam o que de melhor se fazia noutros países, levou a um certo frenesim na disputa das ideias e processos de orientação associativa, que naquele tempo se caracterizava pela excessiva centralização das decisões na figura do Comissário Nacional. Do salutar confronto de ideias, cedo se passou para azedas disputas e desagradáveis cisões.

Não é muito fértil a informação que podemos retirar das publicações escotistas da época sobre os motivos dessas disputas, dada a formação cívica e escotista da maioria dos dirigentes e a sua preocupação em servir a AEP, que todos afirmavam estar acima das suas divisões. Nem mesmo o conceituado “Sempre Pronto”, aparecido em Janeiro de 1945, se ocupou alguma vez em aprofundar a história daquele período associativo, não obstante a proximidade temporal que lhe permitiria obter testemunhos directos dos intervenientes e com eles conseguir uma análise exacta dos acontecimentos, o que hoje lamentamos, tal como o desaparecimento dos arqui-vos dos Serviços Centrais.

Como único sinal do diferendo, talvez mais efeito do que causa, terá ficado a publicação simultânea de dois jornais – “O Escoteiro” e “Escotismo” - ambos se afirmando defensores das causas associativas, mas onde se liam comentários reveladores das discordâncias existentes.

A polémica agravou-se com a publicação, em 5 de Abril de 1930, de uma Ordem de Serviço do Comissário Nacional, com a aplicação de severos castigos a diversos dirigentes com larga folha de serviços e reconhecido prestígio, que reagiram pondo em causa a orientação associativa.

Estava instalada a crise. Tanto “O Escoteiro” como o “Escotismo” suspenderam a publicação com os números de Dezembro, não sem que este avançasse com a proposta de um candidato à Presidência da AEP, apontando a figura prestigiada do dr. João de Barros, afirmando tratar-se de uma deliberação tomada pelos Grupos de Lisboa, com vista ao “dia em que se verificar a mudança da actual situação associativa, desdobrando-se, como é mister, o cargo de comissário nacional”, batendo-se pela realização de uma Conferência Nacional.

Porém, a crise que a AEP atravessava provocou, como acontece por vezes nestas circunstâncias, a aproximação de antigos e prestigiosos dirigentes, que procuraram restabelecer a harmonia e resolver os problemas associativos.

A Conferência Nacional veio a realizar-se em Dezembro de 1931, convocada por livre iniciativa da Direcção Central, dando satisfação aos anseios da maioria dos dirigentes e decorreu em ambiente de respeito e fraternidade, alheia ao recente conflito, aprovando o novo Estatuto, que foi depois homologado pelo Decreto nº. 21397, de 23 de Junho de 1932, operando a desejada mudança na estrutura associativa.

Pena foi que todo o conflito desenvolvido tivesse levado ao afastamento do dr. Alfredo Tovar de Lemos, dirigente de elevado prestígio que prestara relevantes serviços nos dez anos que estivera à frente dos Escoteiros de Portugal. A sua carta de demissão de comissário nacional, “por discordar de quanto se fez na Conferência de Dirigentes, pela sua imutabilidade e inoportunidade”, constava do expediente da reunião de 25 de Janeiro de 1932 da nova Comissão Executiva, presidida por Fausto Salazar Leite, que resolvera manter nas suas funções o secretário geral Albano da Silva e o comissário das Relações Internacionais Sigvald Wiborg. Foi ainda resolvido não prover o cargo de comissário nacional e convidar o dr. Sá Oliveira, comandante Álvaro Melo Machado, capitão Azinhais Mendes, Roberto Moreton, dr. Gomes dos Santos e dr. Valentim Lourenço, para tomarem parte nas sessões da Direcção Central, dando o seu parecer nos assuntos importantes. Mais tarde, foram convidados a integrar esta comissão de notáveis, o dr. João de Barros e o engº. Teixeira de Vasconcelos.

Após a remodelação ditada pela Conferência de Dirigentes, a AEP entrou de novo num período de estabilidade, que deu lugar a um novo surto de desenvolvimento. Mas o principal resultado da Conferência foi a transformação profunda das estruturas associativas, que constituía o objectivo dos dirigentes em oposição à antiga Direcção Central. Além da já citada Comissão Executiva, eram os seguintes os órgãos dirigentes da AEP:

a) Conferência de Dirigentes, constituída principalmente pelos representantes dos grupos de escoteiros e representantes de instituições de antigos escoteiros para estudo e propaganda do Escotismo (FAEP), na qual residia a soberania associativa.

b) Comissão Permanente da Conferência de Dirigentes, nos intervalos das sessões desta, competindo-lhe servir de organismo de recurso das decisões da Comissão Executiva ou seus representantes; promover a constituição de Tribunais de Honra; desempenhar funções de organismo consultivo a que a Comissão Executiva poderia recorrer; fiscalizar as contas; discutir e votar o Regulamento Geral, dentro das normas orientadoras que a Conferência Nacional aprovasse.

A Associação dos Escoteiros de Portugal entrou, assim, numa estrutura democrática que veio, no futuro, evitar problemas como aquele de que o Movimento acabara de
sair.



ALBANO DA SILVA


Albano da Silva entrou para o Grupo n.º 1 da AEP em 1915, com a idade de 13 anos, tendo prestado o seu Compromisso de Honra em 31 de Julho seguinte.
Entusiasta e dedicado ao Movimento, viveu com os camaradas do seu Grupos os chamados tempos heróicos do Escotismo em Portugal. Sempre presente e activo nas inúmeras actividades do seu Grupo, adquiriu uma sólida formação escotista, tendo sido escolhido para participar, em 1920, no 1º Jambori Mundial, em Londres, e esteve igualmente presente no 2º Jambori Mundial, na Dinamarca e no 3º Jambori Mundial, em Birkinhead, Inglaterra.

Conquistou o diploma de escoteiro chefe no Campo Escola realizado em 1922/23, tendo então sido nomeado chefe do Grupo n. 1, cargo que desempenhou até 1925.

Mas foi como dirigente associativo que mais se distinguiu, dado o seu espírito organizado, poder de iniciativa e superiores qualidades nas relações humanas, granjeando amigos que admiravam a fineza da sua personalidade e o aprumo que o caracterizavam, escutando as suas palavras e seguindo os seus conselhos. Participou nas mais diferentes equipas directivas dos Escoteiros de Portugal, ocupando durante largo tempo o cargo de secretário-geral, que desempenhou com uma eficiência e carinho tais que, nesse tempo, ninguém podia conceber os Serviços Centrais sem a sua presença, salientando-se sempre a sua lealdade aos Princípios e a sua dedicação sem limites, que tornavam a sua acção apreciada e respeitada por todos, considerando muitos ser imprescindível a sua participação associativa.
Não cabe nesta breve resenha todo o historial escotista deste companheiro, que foi sem sombra de qualquer dúvida uma das mais importantes figuras dos Escoteiros de Portugal.

Aderente à ideia de criação da FAEP, em cujo esboço organizativo participou. A Fraternal teve sempre nele um membro e colaborador dedicado, sempre presente, em corpo ou em espírito nas actividades dos antigos escoteiros. Fez parte dos corpos gerentes e representou Portugal em reuniões internacionais da “Fellowship”, mantendo activa correspondência com companheiros no estrangeiro. Grave enfermidade diminuiu-lhe a visão e fê-lo afastar-se das suas leituras, mas o amor pelo Escotismo acompanhou-o até aos seus últimos dias.

DR. ALFREDO TOVAR DE LEMOS


Alfredo Tovar de Lemos, licenciado em medicina aos 23 anos, cedo começou a preocupar-se com os problemas sociais e com a saúde dos mais desprotegidos. O seu amor pelo próximo levou-o a interessar-se por todos os problemas onde verificava que a sua acção como médico podia ser útil. Dedicou-se ao estudo da Higiene Social e à propaganda da Educação Física, e dirigiu a primeira Escola de Reeducação de Sinistrados do Trabalho. Desempenhou diversos cargos públicos, tendo sido Delegado de Saúde e Vereador da Câmara de Lisboa.

No entanto, foi ao Escotismo que dedicou por mais largo tempo a sua atenção. Entrou para o nosso Movimento por convite do Rev. Eduardo Moreira e, desde logo, se sentiu atraído pelos objectivos educativos e mística do Escotismo.

Oficial do exército e médico prestigiado, acompanhou os trabalhos dos primeiros dirigentes da AEP, vindo a aceitar, em 1921, a orientação associativa, em momento difícil da AEP, tomando posse dos cargos de Presidente da Direcção e de Escoteiro Chefe Geral, realizou um extraordinário trabalho de reorganização, desenvolvimento e prestígio dos Escoteiros de Portugal.

Para se compreender a eficácia da sua acção, basta dizer-se que ao tomar posse encontrou um efectivo de 120 escoteiros. Quando se retirou em 1930, o número de escoteiros elevava-se a 5.000.

Ao seu trabalho ficamos a dever o crescimento do escotismo no país e o reconhecimento da sua importância cívica e educativa, quer pelos governantes quer pelo público em geral.

Aderente da primeira hora à ideia de criação da FAEP, apoiou o seu desenvolvimento inicial, tendo sido eleito o seu primeiro Presidente da Direcção, cargo que manteve até 1960.

REV. EDUARDO MOREIRA


Rev. Eduardo Moreira pedagogo, historiador e filólogo ilustre, colaborou na fundação do Grupo n.º 1 e fez parte da primeira direcção da AEP, na qualidade de secretário, desempenhando com elevada competência e grande responsabilidade as mais delicadas tarefas, enfrentando com rara coragem todas as situações adversas. Quando em 1921 se viu sozinho na direcção da AEP, por demissão colectiva dos seus colegas, não só suportou a situação como foi à procura do apoio de amigos de reconhecido prestígio escotista, conseguindo que o dr. Alfredo Tovar de Lemos aceitasse ser o Presidente dos Escoteiros de Portugal, o que veio dar início a um dos mais prestigiosos períodos da história da AEP.
Foi um dos mais brilhantes divulgadores do Escotismo e sempre manteve estreita ligação com os antigos escoteiros.
Exerceu grande influência nas acções que levaram à criação da FAEP, da qual foi membro fundador, tendo participado em numerosas conferências, divulgando os valores do Escotismo e acentuando a importância da organização dos antigos escoteiros, prestando relevantes serviços à FAEP, à qual se manteve sempre ligado, até ao fim da sua vida.

COM.te ÁLVARO MELO MACHADO


Melo Machado presidindo aos trabalhos da Sessão Inaugural da FAEP, em 19 de Novembro de 1949


Álvaro Melo Machado é por todos considerado o Pioneiro do Escotismo português.
Governador de Macau ao tempo do aparecimento do Escotismo, foi o seu introdutor naquele território e logo se deixou conquistar pelos ideais do Movimento, que passou a fazer parte da sua própria vida, vindo a prosseguir na sua divulgação após o regresso a Portugal, onde promoveu a criação do Grupo n. 2 e participou na fundação da Associação dos Escoteiros de Portugal, da qual foi o primeiro Escoteiro Chefe Geral. Foi também responsável pela criação do Grupo n. 10, em Lourenço Marques, quando as suas funções oficiais o levaram a Moçambique.
Foi, ainda, um grande divulgador do Escotismo, através da sua acção em conferências e pelos numerosos artigos publicados em diversos jornais.
Participou na fundação da Fraternal dos Antigos Escoteiros, tendo sido eleito para a sua Presidência após a constituição em 11 de Março de 1950.

Da nossa história…(9)

Os gloriosos anos vinte(apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)


A Associação dos Escoteiros de Portugal tivera no princípio da década de vinte uma profunda transformação, graças ao Dr. Tovar de Lemos que assumiu a orientação do Movimento, pondo ao seu serviço toda a sua competência, energia e prestígio. Formou novos dirigentes e relacionou o Escotismo com personalidades de elevado prestígio, envolvendo nele o interesse do Governo e do Chefe do Estado.

Toda a década de vinte foi assinalada por enorme progresso e realizaram-se actividades importantes, com participação activa em muitos acontecimentos escoteiros, até de carácter internacional.

Agosto de 1924 – II Jambori Mundial e II Conferência Internacional do Escotismo
Neste grande acontecimento, que teve lugar na Dinamarca, a AEP fez-se representar pelos dirigentes Henrique de Barros, Dinis Curson e Joaquim Duarte Borrego, que participaram na Conferência e ainda os dirigentes Manuel Borrego e Albano da Silva, que participaram como observadores. Todos estiveram presentes no Jamboori, no qual tomaram parte cinco mil escoteiros de 35 países.

Esta Conferência Internacional ficou célebre, pela Conclusão nela aprovada:

“A Conferência Internacional do Escotismo, reunida em Cope-nhaga em Agosto de 1924, declara que o Escotismo é obra de carácter Nacional, Internacional e Universal, e o seu objectivo é dotar cada uma das nações, e todo o Mundo em geral, de jovens que sejam física, moral e espiritualmente fortes.
“É NACIONAL, porque visa, por meio de organismos nacionais, dotar cada nação de cidadãos úteis e válidos.
“É INTERNACIONAL visto que não reconhece fronteiras às boas relações entre escoteiros.
“É UNIVERSAL, porquanto procura insistentemente incutir o sentimento de fraternidade universal aos escoteiros de todas as nações, classes e crenças. O Escotismo não pretende de forma nenhuma enfraquecer, mas antes fortalecer, as crenças religiosas individuais. A Lei do Escoteiro requer que este pra-tique real e sinceramente a sua religião, e a orientação da Obra proíbe toda a espécie de proselitismo em reuniões mistas”.


I Conferência Nacional de Escotismo - 31 de janeiro e 1 de Fevereiro de 1925
Teve lugar na Câmara Municipal de Lisboa, com a presença de numerosas entidades oficiais e particulares, tendo a sessão inaugural sido presidida pelo dr. João de Barros, ministro da República.
Foi notável o êxito alcançado por esta 1ª Conferência Nacional do Escotismo, que teve o seguinte programa:
O Escotismo e a preparação militar, tese apresentada pelo coronel do Estado-Maior Henrique Pires Monteiro, professor da Escola Militar e membro do Conselho Nacional da AEP.
O intercâmbio com o estrangeiro nas instituições portuguesas de educação pelo sistema de Baden-Powell, tese defendida pelo dr. Dinis Curson, escoteiro chefe e ex-comissário das relações internacionais da AEP.
Necessidade da preparação teórica dos dirigentes escoteiros, tese do engº. Henrique de Barros, escoteiro chefe e comis-sário das relações internacionais da AEP.
O sistema das insígnias, tese apresentada pelo dr. Alfredo Tovar de Lemos. Comissário nacional da AEP.
Recrutamento dos Chefes e seu treino, tese também apresentada pelo dr. Tovar de Lemos.
A influência Social do Escotismo, tese defendida pelo escoteiro-chefe Marcelo Alves Caetano.
Da Viabilidade e eficácia do Escotismo em Portugal, tese do dr. Álvaro Viana de Lemos, Professor da Escola Normal de Coimbra.
Campos de Jogos, tese apresentada por Eduardo Moreira, secretário-geral da ACM do Porto e comissário de zona da AEP.
As conclusões destas teses, aprovadas pela Conferência, constituíram um precioso repositório de orientação para o Escotismo em Portugal.

13-23 de Agosto de 1927 – 1º Acampamento Nacional
Teve lugar na Mata de Queluz e funcionou, também como Escola de Guias, dado o empenhamento na formação que do-minava nos meios dirigentes da AEP.
Foi uma actividade muito importante, que veio evidenciar o desenvolvimento alcançado pela Associação, depois das transformações operadas após a entrada do dr. Tovar de Lemos
Inicialmente tratado como se fora um Campo da Escola de Guias, pelo número de escoteiros e dirigentes presentes, pelas actividades realizadas, pelo interesse que despertou tanto nas entidades oficiais como no público, esta actividade veio a ser considerada, nos registos da AEP, o seu 1º Acampamento Nacional.
Compareceram os grupos nºs. 1, 2, 5, 7, 9, 11, 25 e 40, de Lisboa; delegações do Porto, Coimbra, Figueira da Foz, Algarve, Oliveira de Azemeis, Seixal, Torres Novas e Torres Vedras.
Os escoteiros da Escola de Guias constituíram-se em cinco patrulhas, para instrução e serviço ao acampamento.

4 de Março de 1929 - A primeira visita de B.P. a Lisboa
Vindo de um cruzeiro do Mediterrâneo e ilhas do Atlântico, o paquete “Duchesse of Richmond” atracou ao cais da Rocha de Conde de Óbidos, pelas 6 horas da tarde daquele dia 4 de Março. No mastro principal do navio sobe a flâmula do Escoteiro Chefe Mundial. No cais, encontravam-se numerosas representações de escoteiros e muito público. Uma guarda de honra constituída pelos Escoteiros de Portugal e seus convidados: Corpo Nacional de Scouts e Adueiros de Portugal.
Baden-Powell sobe à ponte de comando e recebe a entusiástica saudação dos escoteiros portugueses, enquanto a multidão se agita e ovaciona o Fundador do Escotismo. Subiram então a bordo: representantes do Governo Português; dr. Tovar de Lemos, Albano da Silva e Sigvald Wiborg, respectivamente, comissário nacional, secretário-geral e comissário internacional da AEP; coronel Godfrey T. Pope, sobrinho de B.P. e grande amigo e colaborador dos Escoteiros de Portugal; dr. Weiss de Oliveira, representante do CNS; Roberto Moreton, presidente do Grupo n. 1 e outros dirigentes das três associações portuguesas.
No dia seguinte, acompanhado de dirigentes dos Escoteiros de Portugal, B.P. visitou em Cascais o Presidente da República, general Óscar Carmona. À tarde, concentraram-se na Praça do Comércio 700 rapazes em representação das três associações e organizou-se um desfile que subiu a Rua Augusta e percorreu várias ruas da cidade. O público abriu alas e aplaudiu a passagem dos escoteiros. B.P. recebeu as honras dos escoteiros, ao lado do dr. Tovar de Lemos, a uma varanda da Escola Nacional, que então existia na antiga Rua Eugénio dos Santos (hoje Portas de Santo Antão). O cortejo seguiu até à Sociedade de Geografia, onde já se encontravam as raparigas (guias da AEP) e os lobitos de Carcavelos. A Sala de Portugal ficou literalmente cheia e as galerias estavam repletas de uma escolhida assistência. Ao entrar na sala, B.P. foi acolhido com uma estrondosa ovação.
Constituída a Mesa, a que presidiu o Conde de Penha Garcia, presidente da Sociedade de Geografia, ladeado por B.P., dr. Tovar de Lemos, almirante Ernesto de Vasconcelos e coman-dante Álvaro de Melo Machado.
O Conde de Penha Garcia, depois de saudar o visitante em inglês, proferiu em português um brilhante discurso, enalte-cendo a obra educativa de Baden-Powell, findo o qual lhe entregou o diploma de sócio honorário da Sociedade de Geo-grafia. Saudaram o visitante os drs. Weis de Oliveira, pelo CNS e Alexandrino dos Santos, pelos Aduaeiros de Portugal, tendo terminado o dr. Tovar de Lemos, comissário nacional da AEP.
Baden-Powell, profundamente sensibilizado, proferiu então uma saudação aos escoteiros portugueses, que Roberto Moreton traduziu:
“Sinto-me verdadeiramente satisfeito por estar entre os meus irmãos escoteiros portugueses, lamentando que a visita seja tão curta. Levarei saudades de vós e da boa impressão do vosso gentil acolhimento. Dentro em pouco, terei de partir, porque o vapor não espera por ninguém.
“Antes, porém, de partir, escoteiros, eu quero deixar-vos três conselhos:
“1º. Deveis procurar, por todas as formas e em toda a parte, cumprir a Lei do Escoteiro.
“2º. Deveis dizer no vosso coração – o meu país é grande, mas hei-de fazê-lo maior ainda.
“3º. Todos vós deveis ser amigos dos escoteiros dos outros países”.

Lembrou que ia realizar-se em Birkenhead, na Inglaterra, um Jambori de 30.000 escoteiros e manifestou o desejo de ver ali os rapazes de Portugal. Terminou saudando os portugueses em nome dos “Boy Scouts” britânicos. B.P. retirou-se de imediato e seguiu para a Rocha do Conde de Óbidos, onde embarcou 5 minutos antes da saída do vapor. Às 19h00 o “Duchess of Richmond largava a caminho de Inglaterra.


B.P. em Lisboa, ladeado por Tovar de Lemos, Albano da Silva e Weiss Oliveira

Agosto de 1929 – O III Jambori Mundial
Os escoteiros portugueses não quiseram decepcionar B.P., quando na sua visita a Lisboa manifestou o desejo de os ver em Birkenhead, no III Jambori. Em 28 de Julho de 1929, embarcaram no paquete “Andes” cinquenta escoteiros, sendo 25 da AEP e outros 25 do CNS, graças às facilidades concedidas pela Mala Real Inglesa, depois das diligências feitas por Roberto Moreton e Godfrey Pope.
Este Jambori foi designado da “Maioridade”, pela comemo-ração dos 21 anos do Escotismo. Foi muito apreciada a pre-sença de Portugal. O coronel Wilson fez as melhores refe-rências aos escoteiros portugueses e Baden-Powell recordou com muita satisfação a visita que meses antes fizera a Lis-boa, a boa impressão que lhe causara o nosso Escotismo e que muito o penhorava a sessão de despedida na Sociedade de Geografia.
Um acontecimento memorável marcou esta grande reunião. Por iniciativa das duas associações da Dinamarca, estava a correr pelos escoteiros de todo o mundo uma subscrição (cada escoteiro não podia concorrer com mais de dois pence, ou equivalente) para oferecer a B.P. uma prenda significativa pelos vinte e um anos do Escotismo. Toda esta organização foi conservada em segredo mas, para eleger o objecto a oferecer, os dinamarqueses procuraram Lady Baden-Powell e pediram-lhe que, sem dizer para quê, se informasse junto do Chefe. qual seria a oferta que gostaria de receber. Ele pensou um pouco, agradeceu a amabilidade e, depois de recusar, perante a insistência respondeu, com bom humor: “Sim, é verdade os meus suspensórios estão velhos; se quiserem oferecer-me um par, ficarei agradecido”.
Foi assim que, durante o Jambori da Maioridade, B.P. recebeu um par de suspensórios e um automóvel “Rolls-Royce”, com reboque para campismo, oferta dos escoteiros de todo o mundo. É hoje uma peça do Museu de B.P.

V Conferência Internacional do Escotismo
Logo a seguir ao Jambori, realizou-se a V Conferência Inter-nacional, no castelo de Arrow Park, também em Birkenhead. Foram delegados à Conferência: dr. Tovar de Lemos, Albano da Silva e Joaquim Duarte Borrego, pelos Escoteiros de Por-tugal, e D. José de Lencastre, dr. Avelino Gonçalves e dr. Weiss de Oliveira, pelo Corpo Nacional de Scouts.

Da nossa história…(8)

Nova fase da Associação dos Escoteiros de Portugal (apoiada na História dos Escoteiros de Portugal, de Eduardo Ribeiro)


Rev. Eduardo Moreira á esquerda


Dr. Tovar de Lemos


No final de 1920 a vida associativa não era famosa. Eduardo Moreira, um dos dirigentes de mais elevada estatura intelectual que serviram o escotismo, que era, ao tempo, o secretário da AEP, conta mais tarde, com a sua reconhecida modéstia, como promoveu a reviravolta que veio a operar-se na Associação.

“… vi-me só, como secretário de uma Direcção que havia perdido todos os seus elementos directivos. Então, com o dr. Joaquim Fontes, foram longos serões de trabalho e preocupação. Também recebemos preciosa ajuda do dr. Dinis Curson, que ficou nas minhas recordações como um grande amigo do Escotismo… depois, veio o dr. Tovar de Lemos e a coisa entrou nos eixos. Tive a honra de ir pedir-lhe o favor de nos acudir, já que a associação estava, como se pode dizer, na minha algibeira…”

Estava-se em 1921, Tovar de Lemos tomou posse como Presidente e Escoteiro Chefe Geral e chamou ao Movimento colaboradores válidos, procurando preencher todos os cargos, por forma a dinamizar os Escoteiros de Portugal.
Convidou personalidades de grande prestígio para o desempenho dos cargos de Comissários Regionais, tendo nomeado o General Craveiro Lopes (mais tarde Marechal e Presidente da República) para comissário na Índia; o capitão Ismael Mário Jorge, para Moçambique; o 1º tenente Vasco Lopes Alves, para Angola; o dr. António A. Riley da Mota, para P. Delgada; o 1º tenente Gabriel Maurício Teixeira, para o Porto; o professor Álvaro Viana de Lemos, para Coimbra, coadjuvado pelo dr. Ernesto Tomé, como chefe do Núcleo da Figueira da Foz. Para o Algarve, nomeou o coronel Pires Viegas, que teria como adjunto João Trigueiros.
Conseguindo, ainda, reunir diversos caminheiros para coadjuvar a Comissão Administrativa e apoiar as actividades regionais.

Apercebendo-se de que o grande problema era a falta de escoteiros chefes capazes, pois os que existiam estavam geralmente velhos e cansados, Tovar de Lemos promoveu a realização de um Campo Escola de Chefes, que veio a funcionar em 1922, na Escola Normal de Benfica, da qual era director um grande entusiasta do Escotismo – o dr. Luís Passos.
A delineação do programa deste curso foi trabalho do próprio Tovar de Lemos, que o submeteu à apreciação do coronel Wilson, dirigente do Escotismo Britânico (mais tarde Comissário do World Scout Bureau, tendo vindo a Portugal nessa qualidade em 1951).
Esse Campo Escola de Chefes foi um êxito e os resultados podem ser medidos pelo punhado de escoteiros chefes que saíram desse Campo Escola: Marcelo Caetano, Luís Teixeira, Henrique de Barros, Amâncio Salgueiro, Fausto Salazar Leite, Henrique Casquilho, Júlio Leão de Almeida, Albano da Silva, Luís Grau Tovar de Lemos, Aníbal Gonçalves Ramos, José David, Júlio Marques, Cansado Gonçalves, Álvaro Dória, João Trigueiros, António Afonso, David Baudouin, Sobral Martins e outros cujos nomes não foram retidos. Tovar de Lemos soubera rodear-se de bons colaboradores, entre os quais se contavam Alberto Lima Basto, Joaquim Duarte Borrego, dr. Dinis Curson e Franklin de Oliveira, escoteiros chefes já considerados diplomados.
Tovar de Lemos conseguiu interessar o Governo pela Associação, o que permitiu a nomeação de representantes de alguns Ministérios junto da Direcção Central, tais como o prof. Aníbal Pinheiro, do Ministério da Instrução, o coronel Reis e Silva e o comandante Pedro Peters.

Entretanto, os grupos eram objecto de uma atenta vigilância, realizando-se frequentes visitas, em que tudo era observado e examinado. O dr. Tovar de
Lemos deslocou-se várias vezes à província, em viagens de inspecção aos grupos das regiões do Porto, Coimbra e Algarve.

A própria Associação foi atingida por esta profunda remodelação, tendo ficado assim estruturada em 1923:

Presidente Honorário: dr. António José de Almeida, Presidente da República.
Vice-presidentes Honorários: dr. Teófilo Braga, dr. Bernardino Machado e almirante Canto e Castro, ex-presidentes da República.
Escoteiro Chefe Geral Honorário: Lord Baden Powell, (título que lhe fora conferido em 1921)

Conselho Nacional:
Humberto Martins, dr. Alfredo Tovar de Lemos, Egídio Bellinge da Mata (director da ACM), coronel Apolinário das Chagas, Alberto Lima Basto, dr. António Augusto Curson, Fausto Salazar Leite, Joaquim Duarte Borrego, dr. João de Barros (director geral do ensino primário e secretário geral do Ministério da Instrução Pública), Joaquim Amâncio Salgueiro Júnior, Luís Filipe Cardoso, dr. Luís Passos (director da Escola Normal), dr. Alfredo da Costa Andrade e dr. Joaquim Andrade Saraiva (ambos administradores do Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios). Foram depois agregados o coronel Frederico Ferreira de Simas, dr. Magalhães Lima, dr. Edmundo Lima Basto e dr. Augusto de Castro.

Comissão Executiva:
Presidente e Escoteiro-Chefe-Geral: dr. Tovar de Lemos
Vice-presidente: tenente Mário Pala
Secretário-geral: Fausto Salazar Leite

Foram ainda constituídas as seguintes Comissões:
Técnica; Administrativa; Saúde e Educação Física; Desportiva; Pedagógica; Jurídica; Propaganda; Revisora de Contas. Nestas comissões repetiam-se alguns dos nomes já referidos, mas apareciam outros de muito valor e prestígio como o dr. Faria de Vasconcelos, dr. Afonso Manaças, dr. Marcelo Caetano, Manuel Borrego, Cosme Vieira Leitão, dr. Alberto Pimentel, dr. João Camoezas, professor Ermelindo dos Santos, dr. Salazar Carreira, Albano da Silva e António Manuel Ribeiro.

Este escol de dirigentes, que fizemos empenho em referir, evidencia o esforço feito pelo dr. Tovar de Lemos para
dotar a AEP de estruturas capazes de promoverem a difusão e a qualidade do Movimento no nosso País, objectivo conseguido por toda uma década, durante a qual a AEP viveu uma gloriosa expansão e realizou ou participou em importantes actividades, designadamente:
II Jambori Mundial e II Conferência Internacional, em Agosto de 1924; 1ª. Conferência Nacional do Escotismo, em Jan/Fevereiro de 1925; I Acampamento Nacio-nal, em Agosto de 1927; Primeira visita de B.P. a Portugal, em Março de 1929; III Jambori Mundial e V Conferência Internacional, em Julho de 1929.

Da nossa história…(7)

Sinais de ressurgimento da A.E.P. e algumas honrarias (apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)

O período que decorre de 1918 a 1920 não é muito clarificador na vida da Associação dos Escoteiros de Portugal. O dr. Nuno Magalhães Domingues, que havia sucedido na Presidência da Direcção ao dr. António Sá Oliveira, que no fim de 1917 deixara aquele posto (após o regresso de Melo Machado para escoteiro chefe nacional), também abandonou o seu lugar. Sucede-lhe, então, o dr, António Augusto Curson, pessoa de grande prestígio nacional, que durante muitos anos cooperou com os Escoteiros de Portugal.
Mas, neste período também aconteceram coisas muito interessantes.
Eduardo Moreira, que desde a primeira hora assumia a pasta de secretário da AEP, continua a dar provas da sua grande dedicação e da sua enorme competência. Por diligências suas, o Governo Português deliberou distinguir o Fundador do Escotismo, Lord Baden-Powell, com a Comenda da Ordem Militar de Cristo, por reconhecer os relevantes serviços por ele prestados à humanidade.
Numa carta dirigida, nessa ocasião, aquele prestigiado dirigente escotista, B.P. manifesta a sua gratidão pela honraria que acabava de lhe ser concedida, carta essa que é uma verdadeira relíquia para os escoteiros portugueses:

“ Caro Senhor,
Estou profundamente grato pela honra com que o Governo da República Portuguesa se dignou distinguir-me, ao conceder-me a Comenda da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sinto-me indigno, por completo, de semelhante honra no que diz respeito a qualquer acto da minha parte, mas calculo que o ter sido alvo desta distinção se deve unicamente aos bons ofícios dos dirigentes da Associação dos Escoteiros.
Dificilmente poderei exprimir como estou grato por esta sensibilizante prova da sua boa vontade. Se algo houver, em assuntos de Escotismo, que me permita provar que mereci tal honra, espero que mo digam.
Fico esperançado em ter a oportunidade, não muito distante, de me encontrar com alguns dos meus irmãos Portugueses.
Entretanto, com votos cordiais de bom êxito para o Movimen-to Escotista em Portugal e com renovados agradecimentos,
Creia-me sinceramente
a)Robert Baden Powell”


A este episódio se refere, ainda, B.P. num dos seus livros:

“Há algum tempo, na presença de grande número de escoteiros, recebi a Ordem de Cristo das mãos do Embaixador de Portugal, em recompensa daquilo que fazem os escoteiros neste país.
Agradecendo ao Embaixador, disse que me era feita uma honra particularmente grande, porque era uma Ordem conferida, em Portugal, aos antigos Escoteiros marítimos.
O Infante D. Henrique denominado O Navegador pelas suas viagens aventurosas e pelas suas engenhosas invenções para ajudar os marinheiros a encontrar a sua rota, era ele próprio Grão-Mestre da Ordem de Cristo e foi graças a ele que Portugal produziu uma série tão maravilhosa de aventureiros e colonizadores.
Provavelmente uma ou duas pessoas acharam que eu fazia demasiado caso de Portugal e disseram-me: e os nossos lobos-do-mar britânicos, os Hawkins, os Drake, os Raleigh, os Gilbert? Tive de responder em minha defesa: “Lede a história e vedes que o Cabo da Boa Esperança foi descoberto por Dias em 1487; a Índia por Vasco da Gama em 1498; o Brasil por Cabral em 1500; e a América do Sul, no ano seguinte por Américo Vespúcio, enquanto Magalhães descobria, ao sul da América, o estreito de seu nome, tão terrivelmente perigoso, em 1519. Todos portugueses ou espanhóis.
É verdade que Hawkins esteve à vista do Brasil, Martin Frobisher explorou a Passagem do Nordeste em três viagens diferentes; “sir” Walter Raleigh explorou as Índias Ocidentais e o Orenoco, no norte do Brasil; William Adams alcançou, em primeiro lugar, o Japão e ligou-se de amizade com os japoneses, em 1600; “sir” Humphrey Gilbert fundou a colónia da Terra Nova; e John Hawkins abriu a África Ocidental ao comércio, enquanto “sir” Francis Drake fez a volta ao mundo, seguindo Magalhães através dos estreitos que ele tinha descoberto.
Mas há uma diferença de datas. As descobertas dos portugueses foram feitas no tempo dos avós e dos pais dos nossos marinheiros.
Se os nossos compatriotas fizeram face às dificuldades e aos perigos com pequenos barcos insuficientes, maus instrumentos e pobres provisões de boca, isto dá uma fiel ideia da coragem dos outros homens que estavam ainda mais mal colocados no que diz respeito a este assunto, quando se faziam à vela para o desconhecido.
Com toda a lealdade é preciso prestar homenagem a quem de direito.
Espero que vos lembreis disto quando encontrardes nos Jamboris irmãos escoteiros doutros países.”


Para o glorioso combatente de Mafeking e denodado batedor da selva africana, nenhuma outra homenagem poderia estimular mais o seu orgulho do que ser distinguido com a mesma condecoração com que outrora eram agraciados os nossos bravos e arrojados navegadores de Quinhentos, que foram autores da mais bela das epopeias marítimas, os verdadeiros Escoteiros marítimos da Antiguidade.


PRESENÇA DE PORTUGAL NO I JAMBORI MUNDIAL
A delegação portuguesa ao I Jambori mundial

O primeiro Jambori mundial realizou-se em Londres, no vasto recinto Olympia, em 1920. Esta reunião de escoteiros de vários países foi uma notável iniciativa de Baden-Powell, que se transformou numa tradição indispensável do Movimento Escotista.
Não era fácil, naquele tempo, constituir uma delegação para representar Portugal em tal acontecimento. Foi Robert Moreton, presidente do Grupo n.º 1 o grande impulsionador desta representação, fazendo todas as diligências e removendo obs-táculos, para reunir uma delegação de 11 elementos, constituída de entre os mais entusiastas escoteiros e dirigentes, a saber: Humberto Martins, Albano da Silva, Alberto Lima Basto, Joaquim Duarte Borrego, Carlos Frias, Henrique de Barros, Dinis Curson, José Maria Galvão Teles, Sobral Martins, Franklin de Oliveira e José Borrego.
Esta delegação foi rodeada da atenção própria de uma representação nacional, tendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros concedido passaporte diplomático a quase todos os nossos representantes, o que evidencia o interesse que mereceu a nossa presença em Inglaterra.
Robert Moreton, súbdito inglês, acompanhou a delegação e, em Inglaterra, continuou a apoiá-la e a prestigiá-la.
Grande parte dos nomes atrás referidos, vieram a marcar a vida da A.E.P., destacando-se como dirigentes escotistas com relevantes serviços prestados.
A cerimónia mais expressiva desta primeira reunião de escoteiros das mais diversas partes do mundo, foi a manifestação espontânea dos milhares de rapazes presentes que aclamaram Baden-Powell como Escoteiro Chefe Mundial, título que não voltou a ser dado a mais ninguém depois da sua morte, que ocorreu em Janeiro de 1941.

Um testemunho histórico da vida do Grupo n.º 9 da A.E.P.

Extracto tirado de “ O Sport de Lisboa”, em 5 de Junho de 1915.Edição do Pata Tenra - Nº 14/2008Artigo do Dr. Jaime Neves.

“ Ninguém, por assim dizer, se interessa por eles, ninguém procura ajudá-los, quase ninguém os conhece. E quando eles passam nas ruas, garbosos, correctos, com a convicção de que são alguém que quer alguma coisa, uma compostura viril no seu rosto de crianças, uma decisão bem vincada nos seus olhos, onde a vida ainda não empanou a limpidez da infância, os transeuntes indiferentes dos altos espíritos preocupados apenas com as frases problemas, da politiquice indigna, olham-nos, vêem-nos, sorriem e têm deles a mesma compreensão que um sabonete tem do sistema Solar! São maduros…
Pois senhores, esses rapazitos tão benevolentemente julgados sem apelação, deram apoio nas horas trágicas da revolução de uma demonstração cabal e gloriosa do que são e do que valem. A madureza que os levou a aprender como se faz uma estafeta, como se despreza o perigo e como se cultiva a coragem, foi uma maneira bem-dita que desabrochou em culminâncias de heroísmo e de bondade.
Passaram da sua obscuridade e edificaram aos olhares pasmados dos lisboetas a sua indomável energia de crianças, afeitas a uma disciplina bem orientada que lhes valoriza o físico e desenvolve o moral, absolutamente identificados com a letra do seu juramento de honra:
- “Ser leal à sua Pátria”.
- “ Auxiliar o próximo em todas as circunstâncias”.
De como eles cumpriram a sua missão, rezam os variados relatos e notícias da imprensa diária.

Da nossa história…(6)

Momentos perturbadores
na vida da A.E.P.
(apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)

Apesar do seu reconhecimento oficial, a situação na A.E.P. em 1917 não era muito agradável. Escrevendo em “O Escoteiro”, no mesmo número em que era publicado o Decreto 3120 – B, confessava Melo Machado:”Vão decorridos cinco longos anos desde que no nosso país se introduziu o Escotismo. E, nesse período de tempo relativamente importante, durante o qual algumas boas vontades tão dedicadamente trabalharam para que se alcançassem os resultados atingidos em outros países, a obra realizada é menos que modesta, é quase desanimadora…
"… Em Portugal e suas colónias não contaremos trezentos escoteiros”. Este era um desabafo de muita tristeza do então Escoteiro Chefe Geral, que logo acrescenta um pouco mais optimista: “Mal parecerá que num momento em que esperanças novas ressurgem com a publicação de um decreto em que o Governo português, reconhecendo finalmente a Associação dos Escoteiros de Portugal, veio dar ao Escotismo algumas bases em que pode apoiar-se um novo esfoço produtivo, soem palavras de desânimo a esfriar os entusiasmos que se esboçam…”.Mas, apesar destas palavras de esperança, o desânimo era evidente e, é ainda Melo Machado que analisando a origem do mal comenta: “Estamos num meio muito desfavorável ao Escotismo. País de gentes indisciplinadas, dividido por apaixonadas lutas polí-ticas que esmorecem todos os ideais, onde infelizmente o Patriotismo é quase apenas uma palavra, e onde não há educação cívica , o Escotismo aparece aos olhos da maior parte das pessoas como um idealismo, uma verdadeira madureza, permita-se-me o termo”.Melo Machado era um dirigente devotado ao serviço do Escotismo, mas a sua dedicação, a forma como cumpria o seu dever de dirigente, tornava-o muito exigente e conflituoso. Os Grupos eram convocados e, se não compareciam ou não eram pontuais, eram repreendidos sem hesitação.
A disciplina férrea, de tipo militar, que o Chefe Geral procurava impor, encontrava opositores naqueles que defendiam um método mais liberal e democrático e não aceitavam pacificamente esse género de chefia. Os conflitos surgiam e o desinteresse afirmava-se. Se somarmos a isto a resistência das mães a que seus filhos se expusessem ao “perigo” das actividades dos escoteiros, teremos a explicação de tão desanimador resultado.
Em Agosto de 1918, em vez de progredir a AEP regredia, registando em efectividade, apenas os seguintes Grupos: n.º 4, Torres Vedras; n.º 9, Lisboa; n.º 11, Lisboa (Liceu Camões); n.º 13, Amadora; n.º 18, Braga; n.º 19, Santarém; n.º 26, Porto; n.º 27, Évora; n.º 34, Ribeira de Santarém; n.º 35, Porto; n.º 36, Funchal (Liceu Central). Inactivos, encontravam-se: o n.º 2, Lisboa; n.º 3, Lisboa (Liceu Pedro Nunes); n.º 12, Lisboa (Liceu Passos Manuel); n.º 14, Lisboa (Liceu Gil Vicente); n.º 30, Lisboa (Escolas Primárias); n.º 31, Lisboa; n.º 32, Almeirim.
Registe-se a ausência naquele registo dos Grupos n.ºs 1 e 7, que se encontravam em funcionamento, mas desligados da Associação, por situações conflituosas.
Se fizermos o paralelo com o efectivo de 1915, verificaremos a diferença e a razão do desânimo.
Deve-se reconhecer, no entanto, que a diminuição de efectivos nos Escoteiros de Portugal não era acompanhada de qualquer degradação da qualidade. Os escoteiros que permaneceram nas fileiras constituíam um núcleo de autêntica “elite”. Durante este período, os escoteiros distinguiram-se em generosos actos de altruísmo e abnegação, como nos grandes incêndios das Encomendas Postais, do Limoeiro, do Teatro Ginásio, na sangrenta revolução de 5 de Dezembro de 1917 e noutros acontecimentos que marcaram aquela época.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

ECOS LONGÍNQUOS DO JAMBORI MUNDIAL DA PAZ


Eduardo Ribeiro, Capitolino Macedo e Joel Ribeiro,
delegados do Sempre Pronto no Jambori da Paz, em 1947

Um acontecimento Escotista verdadeiramente histórico

Em 1947, havia terminado há pouco a famigerada II Guerra Mundial que, de forma tão dolorosa, ensombrara durante anos o mundo inteiro, realizou-se em Moisson, uma pequena povoação ao norte de Paris, o VI Jambori Mundial do Escotismo, o qual recebeu a designação especial de “Jambori Mundial da Paz”, em virtude do conflito mundial ter terminado pouco tempo antes, cerca de 2 anos.
Foi um acontecimento excepcional, retumbante mesmo, que teve uma feição talvez impossível de ser repetida, uma vez que o mundo acabara de sair de uma conflagração invulgar, que afectara o mundo inteiro, por-tanto muito difícil de, felizmente, ter uma repetição.
Os Escoteiros de Portugal, bem como o Corpo Nacional de Escutas, estiveram lá presentes e bem assim o jornal escotista “Sempre Pronto”, nessa altura um jovem órgão de Imprensa que vivia no interior da nossa Associação. Foram seus representantes o seu director, o meu irmão, Eduardo Ribeiro, o seu administrador, o Capitolino Macedo, e eu. Tratou-se de uma resolução que permitiu que o nome da nossa Associação não passasse despercebido neste importante certame escotista.

Um dos mais assinaláveis momentos desta deslocação ocorreu durante a passagem destes três escoteiros pela cidade de Madrid, onde tinham feito a primeira paragem. A Espanha, nesses anos, estava dominada pelo regime totalitário imposto pelo general Franco, o qual, como é sabido, não autorizava a prática do Escotismo naquele país. Esta a razão porque, durante a passagem dos aludidos escoteiros portugueses por Madrid, visto que eles, durante toda a viagem, seguiam devidamente uniformizados, causar enorme espanto entre a população. De uma maneira geral, o povo espanhol ignorava, por completo, o Escotismo. Naqueles tempos, as viagens ao estrangeiro eram uma actividade mesmo rara. Nem os portugueses iam a Espanha, nem os nossos vizinhos nos visitavam. E o mesmo sucedia em todo o mundo. Por isso, eles ignoravam totalmente o que era o uniforme escotista.
A presença dos escoteiros portugueses uniformizados tinha, por isso, de causar grande surpresa e foi motivo de enorme e inesperada sensação! Muitos dos madrilenos exclamavam: “son requetés!”, o que nos deixava muito intrigados. Que significava o termo “requeté”, não sabíamos. Só mais tarde, consegui averiguar que essa palavra denominava os membros de um movimento político-militar armado, de carácter carlista, espanhol, o qual, durante a guerra civil do país vizinho, fora incorporado na Falange espanhola e lutara, durante esse conflito, ao lado das tropas do general Franco. Nunca me foi dado saber se o uniforme dessas forças se assemelhava, ou não, ao do movimento escotista.
Durante esse dia, passado todo em Madrid, deu-se um caso de muita importância:
Quando percorríamos uma das ruas centrais da capital espanhola, fomos abordados por dois jovens daquele país, os quais nos disseram que eram antigos escoteiros espanhóis, mas que não podiam praticar o Escotismo por isso lhes estar oficialmente vedado. Disseram-nos que se chamavam José Forasté Oliver e José Magallón Marrón. Manifestaram grande admiração por estarem a ver escoteiros uniformizados na sua terra, o que lhes causava, como é natural, grande espanto e saudade.
Tínhamos de prosseguir a viagem para França. Ficou combinado, por isso, que no regresso do Jambori tornaríamos a encontrar-nos com eles. E assim sucedeu. À volta contactamos de novo com esses jovens, agora já na companhia doutros antigos escoteiros da nação vizinha, entre os quais se encontrava Enrique Genovés, natural de Valência, que tivemos então o gosto de conhecer, o qual se tornaria um grande amigo dos escoteiros portugueses e um valioso colaborador do jornal “Sempre Pronto”, onde usava o conhecido pseudónimo “Ojo de Lince”. Também sua esposa, a insinuante D. Loreto Azpeitia y Lopez de Ayala, possuidora de excelentes dotes literários, se tornou igualmente colaboradora do nosso jornal.
Genovés foi, mais tarde, um credenciado dirigente do Escotismo espanhol, movimento que ressurgiu após a extinção do regime franquista. Escritor de muito mérito e reconhecida cultura, é o autor de relevantes considerações que ele fez, num impresso que tenho em meu poder, a propósito de meu Irmão, onde se lê: “Eduardo Ribeiro, el tantos años esforzado mantenedor de SEMPRE PRONTO, activo miembro de la Fraternal de Antíguos Escoteiros, falleció en Brasil”, o que corresponde a uma homenagem que, em Portugal, nunca lhe foi prestada, isto apesar de ele ter oferecido ao nosso movimento uma dedicação sem par, com vários anos como director do “Sempre Pronto”, jornal que quase não lhe sobreviveu, e ainda como chefe do Grupo nº. 94, como dirigente nacional, obreiro infatigável da Fraternal, activo precursor do Guidismo na nossa terra.
São estas algumas das considerações sugeridas pelos acontecimentos que marcam um dos períodos mais férteis do Escotismo Português e também deste movimento a nível mundial, factos que não é crível que se venham a repetir, já que se alterou, por completo, o panorama político e social em todo o mundo.
Joel Ribeiro

Da nossa história… (5)

Consolidação do prestígio dos ESCOTEIROS DE PORTUGAL

(apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)

Decorria o ano de 1916 e, apesar da enorme aceitação dos escoteiros pela população, graças ao seu comportamento cívico exemplar e graças às suas meritórias intervenções, a Associação dos Escoteiros de Portugal, fundada em 6 de Setembro de 1913, não tinha ainda reconhecimento oficial do Governo. Todavia, desde que iniciaram a sua actividade que os grupos de escoteiros assumiram como suas as tarefas de auxílio ao semelhante, colaborando com os bombeiros e com a Cruz Vermelha em incêndios e catástrofes, arriscando em actos de abnegação e coragem, os quais mereciam por parte da imprensa da época os mais rasgados elogios.
Foi depois da participação dos escoteiros no ataque aos pavorosos incêndio que aconteceram, em 13 de Janeiro de 1916, no Depósito de Fardamentos do Exército, onde trabalhavam cerca de 4.000 pessoas e, em18 de Abril de 1916, na Escola Naval e Arsenal da Marinha, em Lisboa, onde ficaram destruídas algumas das mais belas instalações, perdendo-se a Sala do Risco, mas tendo-se salvo a Biblioteca, pela acção corajosa e decidida dos escoteiros, que o Presidente da República, Dr. Bernardino Machado se dispôs a aceitar a presidência honorária da A.E.P., situação que se manteria nas magistraturas republicanas seguintes, passando os anteriores presidentes a vice-presidentes honorários.
Então, em Maio de 1917, o Decreto n. 3120-B, que a seguir se transcreve, aprova o regulamento da Associação dos Escoteiros de Portugal, considerando-a benemérita e de beneficência. Não deixa de ser curioso observar, a esta distância, o vigor e a intencionalidade de algumas das expressões usadas, tão ao gosto daquela época.

O texto do Decreto n. 3120 – B é o seguinte:
“Considerando que o Escotismo é uma escola de formação de carácter e um meio valioso de preparar a mocidade para o desempenho dos seus deveres para com a Pátria e para com a Humanidade, como tem sido provado nos países em que essa instituição se tem desenvolvido;
Considerando que o estabelecimento e a generalização desse sistema em Portugal seria um dos melhores processos de avigorar as qualidades da raça portuguesa e de conduzir o País, pelo aperfeiçoamento dos seus homens do futuro, ao grau de prosperidade e grandeza que constitui a suprema aspiração da República e de todos os verdadeiros patriotas;
Considerando que a experiência feita nestes últimos anos tem dado os melhores resultados, provando à evidência quanto é possível conseguir, pelo Escotismo, dos rapazes portugueses, despertando neles as mais belas qualidades e conduzindo-os à prática de actos que têm causado a admiração geral;
Mas, convindo conjugar todos os esforços para a realização desta obra eminentemente patriótica e cortar de começo quanto possa prejudicá-la sobretudo impedindo a má compreensão dos processos adoptados pelo Escotismo e a formação de organismos mal preparados para a realização do objectivo a que ela visa;
Atendendo aos resultados que a Associação dos Escoteiros de Portugal tem conseguido alcançar e as provas concludentes que esta instituição tem dado sobre a sua capacidade para estabelecer e difundir o Escotismo pelo País, como bem o demonstram os actos de abnegação, coragem e patriotismo praticados pelos seus escoteiros, principalmente por ocasião da revolução de 14 de Maio e nos incêndios do Depósito de Fardamentos e da Escola Naval, actos que têm merecido por parte do Governo e outras entidades oficiais as mais elogiosas referências;
Considerando ainda que, embora não sendo uma instituição de carácter militar, o Escotismo é um dos melhores processos de preparar a mocidade para o desempenho dos seus deveres militares, contribuindo assim de um modo muito proveitoso para a realização do programa militar que a República estabeleceu: hei por bem, sob proposta do Ministro da Guerra, decretar o seguinte:
1º - É aprovado o regulamento da Associação dos Escoteiros de Portugal, que seguidamente é publicado.
2º - Em virtude do determinado no nº 3 do artigo 15º do seu regulamento é esta associação considerada benemérita e de beneficência para os efeitos de contribuições, impostos e franquia postal.
3º - Para todos os efeitos, legais e oficiais, serão apenas considerados escoteiros aqueles que pertencem à Associação dos Escoteiros de Portugal.
4º - A ninguém estranho à Associação dos Escoteiros de Portugal será permitido o uso ou emprego dos seus distintivos, sob qualquer forma ou imitação, bem como do nome da Associação incorrendo os infractores nas penas aplicáveis por usurpação de marcas comerciais, nos termos da carta de lei de 21 de Maio de 1896.
5º - É considerado exclusivo da Associação dos Escoteiros de Portugal o uniforme composto de blusa e calção curto de caqui escuro, lenço da mesma cor e chapéu desabado castanho, sendo punidos aqueles que indevidamente usarem este uniforme ou outro que com ele se assemelhe, com as penas estabelecidas no artigo 235º do Código Penal.
6º - Todas as entidades e autoridades oficiais prestarão sempre aos escoteiros da Associação dos Escoteiros de Portugal o apoio e protecção compatíveis com as circunstâncias, quando eles disso carecem para a execução de actos beneméritos ou nos seus exercícios e acampamentos, e bem assim utilizarão os serviços que eles ofereçam prestar, proporcionando-lhes ensejo de demonstrarem as suas qualidades e aptidões.
7º - A qualidade de escoteiros ou de sócios da Associação dos Escoteiros de Portugal só poderá ser considerada como válida mediante a apresentação do bilhete de identidade, em harmonia com o disposto no regulamento da Associação, não sendo dispensada essa prova mesmo aos escoteiros uniformizados.
8º - A Direcção Central da Associação dos Escoteiros de Portugal enviará a todas as unidades administrativas exemplares dos seus cartões de identidade e um desenho do uniforme dos escoteiros, para efeitos de fiscalização e polícia.
9º - Os escoteiros não são isentos do dever prescrito pelas leis que regulam a instrução militar preparatória, podendo organizar sociedades de instrução militar preparatória nos seus próprios grupos, ou inscrever-se para aquele fim em qualquer sociedade ou núcleo de instrução militar preparatória.
Os escoteiros, dos 17 anos em diante, quando deixarem de fazer parte da Associação dos Escoteiros de Portugal, serão inscritos em núcleos de instrução militar preparatória, em face de participação da mesma associação para a inspecção de infantaria da respectiva área.
A Direcção Central da Associação dos Escoteiros de Portugal enviará à inspecção de infantaria da 1ª divisão de exército os mapas estatísticos e relatórios prescritos pelas leis da instrução militar preparatória.
Os Ministros de todas as Repartições assim o tenham entendido e façam executar.
Paços do Governo da República, 10 de Maio de 1917 – Bernardino Machado

Porém, o reconhecimento oficial da AEP, que tanto interesse deveria ter para o Escotismo, não veio a contribuir para o seu desenvolvimento. Com a existência da Lei, aumentou o autoritarismo e com este as dissidências entre os dirigentes, que faziam crescer as dificuldades organizativas da Associação.

Da nossa história… (4)

A FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS ESCOTEIROS DE PORTUGAL (apoiada na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro)


Foi a 6 de Setembro de 1913 que veio a organizar-se formalmente a Associação dos Escoteiros de Portugal, por convergência dos dirigentes dos três Grupos que vieram a tomar os n.ºs 1, 2 e 3.
Mas já em 18 de Setembro de 1912, no jornal O SÉCULO, Melo Machado fazia apelo a que fosse constituída uma entidade para dirigir colectivamente o movimento, o que reconhecia ser uma necessidade imperiosa.
Todavia, parece que terá sido a visita a Lisboa, na primavera de 1913, dos escoteiros ingleses da Cidade de Hastings, com o seu vistoso desfile pelas ruas da cidade e as inúmeras festas em que participaram, proporcionando entusiástica cobertura jornalística ao jornal O SECULO - que na época acompanhava com muito interesse o despontar do movimento “scouting” no nosso País - que despoletaram o interesse publico e levaram os dirigentes dos três primeiros Grupos de Lisboa a reconhecerem que era chegado o momento de se constituírem em associação e iniciaram conversações para esse efeito.
A proveitosa visita a Lisboa dos escoteiros de Hastings deveu-se a um entusiástico movimento de solidariedade que irrompeu dentro do 1.º Grupo, quando Lisboa tomou conhecimento do naufrágio de um barco português no Canal da Mancha, frente à cidade de Hastings, tendo-se distinguido no salvamento de parte da tripulação o grupo de “scouts” daquela cidade. A convite do UM e com o apoio da colónia inglesa, que suportou as despesas, os bravos “scouts” ingleses estiveram dez dias em Lisboa e a sua visita constituiu a melhor propaganda que se poderia ter feito para o Escotismo Português.

A Direcção da AEP foi constituída pelo dr. António Joaquim Sá Oliveira, presidente; Roberto Moreton, secretário; Álvaro de Melo Machado, escoteiro chefe geral.
Sabe-se que quando se fundou a AEP já existiam outros grupos de “scouts”, além dos três que a constituíram. Frank Giles, em entrevista a O SÉCULO, em 20 de Agosto de 1912, afirmava que em Coimbra e no Porto existiam também scouts, com os quais mantinha activa correspondência. Mas mesmo em Lisboa já existiriam outras unidades. Entre estas contava-se o Grupo n.º 7, fundado em 20 de Maio de 1913, na Igreja Congregacional, por iniciativa de Abel dos Santos e Silva e Luciano Silva, elementos saídos do Grupo n.º 1.
Uma coisa é certa, os grupos n.ºs 1, 2 e 3 foram os fundadores da A.E.P. e constituíram o núcleo de onde irradiou o Movimento que, a partir dessa data, registou franco desenvolvimento por todo o País e, mais tarde, pelas colónias portuguesas do ultramar.
Até à fundação da AEP os jovens que pertenciam ao Movimento eram designados pelo termo inglês “scout” e o pró-prio movimento por “scouting”. Mas, desde logo, os dirigen-tes associativos fizeram questão de adoptar um vocábulo genuinamente português: ESCOTEIRO, aquele que viaja sem bagagem nem alforge, gastando por escote nas estalagens (termo registado em dicionários portugueses desde o século XVII). Portanto, os fundadores da Associação não fizeram uma tradução da palavra “scout”, mas procuraram no nosso léxico um vocábulo português aplicável.

Também a adaptação da Promessa e da Lei, mereceram cuidadoso estudo dos fundadores, embora neste capítulo tenham existido sérias divergências, pois, enquanto uns pretendiam ver nelas contemplado o sentido universalista do Movimento, aberto a todos os credos e raças, outros entendiam dever manter-se o carácter religioso proposto por Baden-Powell para a Lei e Promessa dos scouts ingleses, afirmando que B.P. preconizava que “cada escoteiro deve ter uma religião” e que o Scouting for Boys está eivado de sentimento religioso como princípio fundamental do Escotismo. O ponto essencial é que todos adorem DEUS, ainda que de diversas maneiras.
Não admira pois que tais divergências provocassem desde logo alguns conflitos e acusações mútuas de desvirtuamento dos ideais, sendo frequente observar diferentes versões da Lei e da Promessa, consoante o pensamento filosófico ou a orientação religiosa dos dirigentes.
Também a dureza de algumas expressões, de conceito militarista bem ao sabor da época, como “Juramento do Escoteiro”, em vez de “Promessa Escoteira”, ou “Compro-misso de Honra”, em lugar de “Compromisso do Escoteiro”, como imporia a tradução do inglês, não ajudaram à desejável harmonia de procedimentos, alguns insanáveis até aos nossos dias.

O RECONHECIMENTO PELO GOVERNO DA REPÚBLICA
Não podemos, portanto, afirmar que a implantação do Escotismo em Portugal tenha sido um processo fácil, dadas as muitas querelas que surgiam a nível interno, devido às diferenças de interpretação dos seus dirigentes. Todavia, ao nível externo, graças ao comportamento cívico dos escoteiros, o Escotismo ia adquirindo enorme prestígio e o bom acolhimento por parte da população e entidades oficiais.
Foi assim que, em Junho de 1916, surge o reconhecimento oficial. O Presidente da República, dr. Bernardino Machado, aceita a Presidência honorária da AEP, situação que se man-teria nas magistraturas republicanas seguintes, passando os anteriores presidentes a vice-presidentes honorários.
Em Maio de 1917, o Governo aprovou o Regulamento da Associação dos Escoteiros de Portugal, através do Decreto n. 3120 – B, cujo texto inicial afirma: “Considerando que o Escotismo é uma escola de formação de carácter e um meio valioso de preparar a mocidade para o desempenho dos seus deveres para com a Pátria e para com a Humanidade, como tem sido provado nos países em que essa instituição se tem desenvolvido…”
E logo o artigo 3.º consigna: “Em virtude do determinado no n.º 3 do artigo 15.º do regulamento, é esta associação considerada de benemerência e de beneficência para os efeitos de contribuições, impostos e franquia postal”.

A HISTÓRIA DOS GRUPOS
Apesar das assinaladas divergências, o Escotismo expandia-se e novos grupos se associavam na AEP, seguindo as suas actividades e a sua orientação.
Em 1915 já existiam 22 Grupos inscritos na AEP. Não se referem algumas dessas unidades por falta de elementos históricos. Mas é importante destacar algumas outras cuja actividade contribuiu para o prestígio alcançado pela AEP. Para além dos três já referidos, e pela ordem porque ficaram registados após a sua adesão à Associação dos Escoteiros de Portugal, seguem, resumidamente, alguns elementos de tais grupos:
Grupo n.º 4, fundado em Torres Vedras, no Instituto Poli-técnico, já existia em 1915, sendo seu escoteiro chefe Vítor Cesário da Fonseca. Tanto o Grupo como o Instituto Politécnico foram extintos em 1919, em consequência da gripe pneumónica. Em 1925 voltou a existir em Torres Vedras outro Grupo de escoteiros, o n.º 50, onde foram instrutores Joaquim Paulino Pereira e Augusto Nascimento Gonçalves
Grupo n.º 5, fundado na Escola Normal, no Calvário, em Lisboa. Consta que a sua fundação data dos primeiros tempos do movimento e foi seu escoteiro chefe António Pereira Coimbra, mas veio a ter curta duração. A Ordem de Serviço n.º 44, de 13 de Setembro de 1916 considera-o extinto por falta de escoteiro chefe e manda que seja integrado no Grupo n.º 9.
Grupo n.º 6, quando o Grupo n.º 2, por força do seu desenvolvimento, abandona as suas instalações na Rua da Esperança, para se instalar na Academia de Estudos Livres, foi forçado pela AEP a tomar o número SEIS, devido ao compromisso assumido com a Sociedade de Instrução Militar Preparatória, que quis manter reservado o n.º 2 no intuito de vir a organizar nova unidade, o que nunca chegou a concretizar-se. Em 1915 o “dois” retomou o seu número e o Grupo n.º 6 ficou sem história, até que foi retomado por uma nova unidade fundada em Olhão, na sequência de uma luzidia demonstração, realizada a 7 de Janeiro de 1925 por uma delegação do Grupo n.º 1, naquela Vila. O seu primeiro escoteiro chefe foi Humberto Martins, que também foi o introdutor do basquetebol no Algarve.
Grupo n.º 7, fundado em 20 de Maio de 1913, surge na União Cristã de Jovens da Igreja Congregacional, em Lisboa, por iniciativa de Abel dos Santos Silva e Luciano Silva, que abandonaram a UCML e, consequentemente, o Primeiro Grupo de que faziam parte, assumindo Luciano Silva a chefia do grupo. José Rodrigues, aderente entu-siasta desde a primeira hora, veio mais tarde a assumir a chefia, que deteve por muitos anos.
Grupo n.º 8, pouco se conhece sobre a existência do Grupo inicialmente inscrito na Associação com este número, sabendo-se apenas que foi em Faro, pelo que é suposto tratar-se da unidade de scouts criada por Amâncio Salgueiro Jr., que este reivindicava existir antes do grupo de Macau. Em Julho de 1916 era desligado da AEP, por razões ignoradas. O número OITO veio a ser utilizado por um grupo criado em Maio de 1952, na Igreja Evangélica Presbiteriana, situada na Rua Febo Moniz, em Lisboa, onde ainda se encontra, sendo seu primeiro escoteiro chefe Albano Costa, antigo escoteiro do Grupo n. 94.
Grupo n.º 9, fundado em 1914, por alguns escoteiros do grupo n.º 2, que viviam demasiado longe da sua sede na Esperança. Solicitaram à AEP a criação de uma nova unidade, que foi confiada a Joaquim Duarte Borrego, em casa de quem ficou inicialmente instalada a sede do Grupo, que foi depois para a Rua da Madalena, 91 e, mais tarde, para a Rua de Santa Marta, 204. Em Novembro de 1926 o Grupo foi acolhido no Ateneu Comercial de Lisboa, presti-giosa instituição que sempre ofereceu aos escoteiros todo o seu apoio. Quando em 1917, Joaquim Duarte Borrego foi chamado ao serviço militar e partiu para a guerra, em França, tomou o seu lugar na chefia João Clímaco do Nas-cimento, que dirigiu o grupo com êxito durante muitos anos.
Grupo n.º 10, fundado por Álvaro Melo Machado, na cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo), pouco depois da sua chegada a Moçambique, onde chegara em Agosto de 1914, em cumprimento de missão militar. Depois do regresso de Melo Machado, a chefia do grupo ficou entregue a Vital dos Reis Barbosa.
Grupo n.º 11, a data provável da sua fundação no Liceu de Camões terá sido em 11 de Dezembro de 1915, em que teve lugar uma festa de “cerimónia de juramento”, para a qual foram convidados os outros grupos de escoteiros de Lisboa, na qual o presidente do grupo e Reitor do Liceu fez uma conferência sobre educação.
O seu primeiro escoteiro chefe foi António Coucelo.
Esta unidade foi um alfobre de escoteiros, que vieram a desempenhar importantes cargos dirigentes nos Escoteiros de Portugal e se projectaram na vida social em elevadas posições. Bastará enunciar alguns dos seus nomes: Dinis Curson, Mário da Silva Jacquet, Alberto e Edmundo Lima Bastos, Paulo e Henrique de Barros, Francisco Caldas, Marcelo Caetano, Fausto Salazar Leite, José Maria Galvão Teles.
Dos restantes Grupos, constantes do registo de 1915, conhecem-se apenas os seguintes elementos, já que, por razões inexplicáveis, os arquivos associativos terão desaparecido, supõe-se que entre os anos trinta e quarenta do século passado.
Grupo n.º 12, existente no Liceu de Passos Manuel, em Lisboa. O actual Grupo do mesmo número, teve o seu início já nos anos 50.
Grupo n.º 13, localizado na Vivenda Alvarez, LA, na Ama-dora. Anos mais tarde, retomou a sua actividade instalado na Sociedade de Geografia, em Lisboa.
Grupo n.º 14, Rua da Junqueira, em Lisboa. Em Janeiro de 1916 instalou-se no Liceu de Gil Vicente, em Lisboa.
O mesmo número foi retomado, já na década de 50, por uma unidade instalada em Algés.
Grupo n.º 15, com a sua primeira instalação nas Esca-dinhas da Saúde, passando em Janeiro de 1916 para o Bairro do Século, Porta 2, em Lisboa. O mesmo número foi atribuído, mais tarde a uma unidade criada no Porto.
Grupo n.º 16, situado na Rua da Bela Vista à Lapa, em Lisboa, passando anos mais tarde para o Colégio inglês, em Carcavelos. Continua existindo naquela Vila, com actividade digna de nota.
Grupo n.º 17, existiu no Palácio Mancelos, no Pátio do Tijolo, em Lisboa. O número foi retomado por uma unidade instalada no Porto.
Grupo n.º 18, existiu no Colégio dos Órfãos de S. Caetano, em Braga.
Grupo n.º 19, instalado na Rua da Bombarda, em Santarém. Também na década de 50, apareceu nova unidade com este número, que continua existindo na Pontinha.
Grupo n.º 20, existiu em Aldegalega, Montijo.
Grupo n.º 21, estava instalado na Vila Bastos, 3 e passou em Janeiro de 1916 para a Trav. do Teixeira, em Lisboa.
Grupo n.º 22, existiu na Av. Elias Garcia, em Lisboa.
Grupo n.º 23, instalado na Rua Vieira da Silva, 80, em Lisboa. O actual 23 está instalado em Queluz

Não fica claro que a numeração atribuída aos Grupos corresponda à ordem da sua filiação na A.E.P., pois parece ter existido desde sempre o lamentável critério de atribuir a uma nova unidade o mesmo número de outra unidade entretanto encerrada, o que estabelece grande confusão para uma clarificação da história dos grupos.
Seria desejável que cada grupo em actividade, registasse a sua própria história, dedicando-se, outrossim, à pesquisa e divulgação da história da unidade ou unidades que o precederam. Ninguém duvidará da enorme importância que tal estudo terá para a História do Escotismo em Portugal, que um dia gostaríamos de ver publicada.

Da nossa história...(3c) PERCURSORES DO ESCOTISMO em Portugal

O TERCEIRO GRUPO

Não se conhece de quem teria sido a iniciativa de organizar no Liceu de Pedro Nunes um grupo de scouts. Talvez mesmo não tenha havido uma iniciativa individual.
Aquele Liceu era uma instituição aberta a tudo que pudesse ser útil à formação e educação dos seus alunos, graças à visão esclarecida do grande pedagogo dr. António Joaquim Sá Oliveira, que aceitou e sentiu o Escotismo.
“A criação do Grupo - afirma um dos seus membros fundadores, o pintor Carlos Botelho - ficou a dever-se principalmente ao ambiente de espírito associativo que existia no Liceu. Esse ambiente era dado pelo próprio director, dr. Sá Oliveira, que veio a ser o presidente da Associação dos Escoteiros. Ele considerava que o TRÊS não era mais do que uma aula voluntária dentro do programa do Liceu. Não há dúvida que a Associação Escolar e o Escotismo estiveram intimamente ligados, pois este veio completar as actividades daquela, já que o ambiente lhe era perfeitamente receptivo”.
É ainda Carlos Botelho que acrescenta: “ o TRÊS era um grupo muito eclético, mas muito curioso, de ex-pressões diferentes no que respeita a ideias, atitudes e até no pensamento religioso, pois tínhamos ali rapazes católicos, protestantes, neutros (entre os quais eu me situava) e tínhamos até um israelita… e todos se davam às mil maravilhas”.

Através de comunicações publicadas em 7 e 19 de Setembro de 1912, no jornal “O Século”, se conhece a existência do Grupo n. 3 da AEP. Assumiria a chefia do Grupo o comandante Jaime do Inso, figura muito conhecida, que fez parte da sua vida como oficial de marinha, no Oriente. Seguiu-se-lhe João Nolasco, que já conhecia o Escotismo desde Macau, pois fizera parte do “ante-primeiro” grupo. Em 3 de Dezembro de 1915, assumiu o cargo o eng. Henrique Carlos de Moura, sendo oficialmente nomeado em 8 de Março seguinte. Foi notável como escoteiro chefe e um grande entusiasta do Movimento até ao fim dos seus dias.
Não se conhece quem foram exactamente os rapazes que fundaram o TRÊS. Todos os escoteiros teriam de ser obrigatoriamente alunos do Liceu, aos quais se exigia bom aproveitamento. Se este faltava, o escoteiro era afastado, para que não se dissesse que a actividade prejudicava os estudos. A direcção do Grupo era constituída pelo dr. Braga Paixão, presidente, João Correia Júnior e Celestino Soares. O Grupo constituiu-se com seis patrulhas: Águia, Cão, Cavalo, Galo, Melro e Pombo e teve actividade intensa, com acampamentos e exercícios.

É geralmente reconhecido que o grande êxito do TRÊS residia no Reitor, dr. Sá Oliveira que, não fazendo parte do Grupo, era um grande escoteiro. São dele estas significativas palavras:
“ É uma bela instituição o Escotismo. O nome tem certo ar de antiguidade; a sua forma, o seu espírito e os seus fins fazem lembrar a cavalaria medieval. De criação recente, a organização deu-lha um general, e pode dizer-se que nasceu nos campos de batalha. Mas é uma instituição civil, é uma obra de paz.”
“… muitos o têm considerado um capítulo da edu-cação física. Puro engano; a cultura física é apenas uma forma do escotismo, cujo campo é bem mais largo, visando a educação dos sentidos, a cultura da inteli-gência, a depuração dos sentimentos, a formação da vontade, o desenvolvimento da personalidade…”

O Grupo n.º 3 marcou a sua presença, juntamente com o UM e o DOIS, em todos os acontecimentos da época. Depois de o dr. Sá Oliveira deixar o seu lugar no Liceu, todas as actividades circum escolares foram perdendo ritmo e foram desaparecendo. O Grupo de escoteiros encerrou em 23 de Agosto de 1920, tendo sido nomeada uma comissão liquidatária constituída pelo eng. Henrique de Moura, Gomes da Silva e Carlos Botelho. Esta comissão publicou um comunicado em que estabelecia um regulamento, em consequência do qual os antigos escoteiros se reuniam anualmente, o que foi feito com regularidade até aos anos oitenta.

O Grupo n.º 3 voltou a aparecer, no início do ano de 1933, sob a chefia do dr. José Duarte de Ayala Boto, seu antigo escoteiro, mas entretanto veio a proibição da existência de escoteiros nos estabelecimentos escolares e o grupo acabou.

Da nossa história…(3b) PERCURSORES DO ESCOTISMO em Portugal





OS GRUPOS FUNDADORES

O SEGUNDO GRUPO

A presença nas ruas de Lisboa dos rapazes do Primeiro Grupo e, depois, a valiosa e brilhante campanha de propa-ganda do Scouting promovida pelo jornal “O SÉCULO”, cria-ram um ambiente propício à fundação de novas unidades.
Entretanto, chegara já a Lisboa o tenente Álvaro de Melo Machado, que em Macau fundara um grupo de scouts e, segundo as suas palavras se entusiasmara pelo escotismo, por considerar que se tratava de “um admirável processo de educação da juventude” e se convencera de que “através dele seria possível modificar a mentalidade da gente portuguesa, se pudesse conseguir que muitos milhares de rapazes se filiassem nos grupos que viessem a organizar-se”.

Assim, segundo o relato do escoteiro chefe Abílio dos Santos, que veio a substituir Melo Machado quando este partiu de novo (para Moçambique, onde viria a criar novo grupo - o n. 10) e de António Xavier de Brito, que foi guia da patrulha Cão, ambos escoteiros da primeira hora no Segundo Grupo…
Numa noite de Outubro de 1912, a Sociedade de Instru-ção Militar Preparatória n. 2, com sede na Trav. do Guarda-Mor, no velho bairro da Esperança, abriu as suas portas à rapaziada, que encheu completamente uma das suas salas, entusiasmada com a ideia de poder praticar a vida saudável e cheia de aventura dos boy scouts.
Quem estava ali para seleccionar os rapazes e fazer a sua inscrição, era exactamente o jovem oficial de marinha que regressara de Macau. Parece que havia também a colaboração dos irmãos Simões, grandes nadadores na época, que iriam ser instrutores.
Melo Machado, nessa mesma noite, formou as patrulhas Águia, Cão, Gato e Pato. Só da Gato temos a constituição completa: Abílio dos Santos, guia; Nuno de Zea Bermudes, sub-guia; Américo Salvador da Costa, José de Meneses, Manuel de Sousa Duarte Borrego e Mário Florindo. Xavier de Brito foi o guia da Cão.
Em 3 de Novembro de 1912, o Segundo Grupo fez a sua primeira apresentação num exercício realizado no Campo Grande e, a partir daí, as actividades sucederam-se, até que chegou o momento da sua inauguração oficial. Esta realizou-se no dia de Natal, no Coliseu de Lisboa (na Rua da Palma) a abarrotar de público, aproveitando uma festa promovida pela Loja Maçónica Madrugada. O dia começou com alvorada por um terno de corneteiros e saudação à Bandeira Nacional pelos scouts. Durante a festa de Natal no Coliseu, os scouts fizeram exibições, prestaram compromisso de honra e distribuíram bolos e brindes às crianças presentes.
Quando a sede de que o grupo dispunha na Esperança se tornou insuficiente, perante o desenvolvimento que o grupo atingia, este mudou para a Academia dos Estudos Livres, que era nessa altura na Rua da Paz.

Mas por força dessa mudança (já na existência da A.E.P.), o Grupo foi forçado a tomar o nº. 6, uma vez que a Sociedade de Instrução Militar Preparatória quis manter o direito ao nº. 2, no intuito de ali organizar nova unidade, o que nunca veio a acontecer.
Só em 1915 o grupo retomou o nº. 2, já então instalado no palacete da Rua da Emenda n. 53, para onde a Academia de Estudos Livres entretanto se mudara. Era, então, seu escoteiro chefe Abílio dos Santos, porque Melo Machado fora mandado para Moçambique, como foi dito anteriormente.

Em Dezembro de 1920, o Grupo nº. 2 sofreu uma curiosa metamorfose; aparece como “Corpo de Escoteiros da Cruzada das Mulheres Portuguesas”.
Possuía um Conselho Geral, com a seguinte constituição:
Presidente: Dr. Alfredo Tovar de Lemos
Vice-presidente: D. Isabel Grau Tovar de Lemos
Vice-presidente: Cap.Frag. João Manuel de Carvalho
Comissário geral: Franklin António de Oliveira
Secretário-geral: D. Ana de Castro Osório
Secretário auxiliar: Alferes José Bernardo
Tesoureiro: Carlos Azinhais
Eram vogais: José Joaquim Oliveira, Jorge Fernandes e José Nicolau Homem Belino.
Tinha, ainda, como damas protectoras, as senhoras D. Maria Isabel da Conceição e, como representantes da referida Cruzada, D. Júlia Leal da Câmara e D. Maria Felizarda Coelho.
Aproveitando a confusão que então grassava nas estruturas da AEP, este Corpo pretendeu criar uma orga-nização, como se de uma associação se tratasse, embora continuando filiado na A.E.P.
Constituiu assim a ALA DE LISBOA, tendo como escoteiro chefe Rolando Taveira Garcia. A ALA tinha as seguintes unidades:
1º Grupo de Escoteiras – Rua do Benformoso, 226, chefiado por D. Judite Franco
1ª Alcateia de Lobitos – Calçada dos Caetanos, 48, dirigida por Jaime Pires Gomes
1º Grupo de Escoteiros – Instituto dos Mutilados de Guerra – Arroios, chefiado por Artur Ferreira do Carmo
2º Grupo de Escoteiros – Calçada dos Caetanos, 48, chefiado por António Serra
3º Grupo de Escoteiros – Ministério dos Negócios Estrangeiros – Necessidades, chefiado por Álvaro Lima
4º Grupo de Escoteiros – Escola de Veiga Beirão, chefiado por Luís Grau Tovar de Lemos
5º Grupo de escoteiros – Rua do Meio à Lapa, 85, chefiado por Francisco Fernandes.
Em Agosto de 1921, as unidades de escoteiros acima relacionadas passaram a designar-se pelas letras A a E, certamente para ultrapassar objecções postas pela A.E.P.
Dos chefes daquelas unidades, vieram a distinguir-se Luís Grau Tovar de Lemos, como chefe do Grupo nº. 2 da A.E.P., e Artur Ferreira do Carmo, que veio a ser chefe do Grupo nº. 5 da A.E.P. (no qual o referido 1º grupo se inte-grou), instalado na Escola Normal, na Rua 1º de Maio e do qual foi primeiro chefe António Pereira Coimbra.
Mais tarde, cerca de 1925, o Grupo nº. 2 mudou a sua sede para a Escola Comercial de Rodrigues Sampaio, na Calçada do Combro e Luís Grau Tovar de Lemos seria por muitos anos o seu escoteiro chefe, período durante o qual se tornou numa unidade com grande efectivo e de muita actividade, isto até 1936, data em que o Grupo foi forçado a abandonar a sede que possuía no edifício daquela Escola, na Travessa do Judeu, em consequência de se ir instalar ali a recém nascida Mocidade Portuguesa.

O Grupo n. 2 da AEP manteve-se sempre em actividade, ainda que sofrendo as consequências das muitas mudanças de local da sua sede, a que se viu obrigado, por força das circunstâncias.

Da nossa história…(3a) PERCURSORES DO ESCOTISMO em Portugal




OS GRUPOS FUNDADORES

NOTA: Já se fez referência à possível existência de grupos de scouts em vários pontos do País, à data da fundação da Associação dos Escoteiros de Portugal. Porém, o facto de apenas três desses grupos terem fundado aquela Associação e o conhecimento concreto da sua história, dá-lhes legitimidade para serem considerados os primeiros grupos de escoteiros em Portugal.

O PRIMEIRO GRUPO

Em 1912, a União Cristã da Mocidade de Lisboa, assim chamada quando foi fundada em 1898, era um alfobre de juventude, onde se praticava desporto e fomentava a cultura. A sua direcção era assim constituída: presidente, Robert Moreton; vice-presidente, José Augusto Leal; secretários, Joaquim Correia e Romão Peres; tesoureiro, Eduardo Moreira; vogais, Francisco do Nascimento, Carlos Ferreira e Paulo Torres. Rodolfo Horner era o secretário-geral executivo. Personalidade de eleição, fomentou uma extraordinária obra cultural.
Foi ali, na Rua das Gaivotas n.º 6, que nos primeiros dias de Março, se dirigiram dois jovens britânicos, Frank Giles e John Brown e, recebidos por Robert Moreton e Rodolfo Horner, propuseram a fundação de um grupo de scouts. Bem recebida, a proposta foi transmitida à direcção e naturalmente aprovada logo em 22 de Março.
O grupo constituiu-se, além de Frank Giles e John Brown, chefe e chefe-ajudante, com os seguintes jovens, que prestaram o seu compromisso de honra: A. G. Gomes, Armando Ramos, Evaristo Pires Ramos, Horácio Nunes Delgado, José Maximiano Silva, Júlio Ribeiro da Costa (conhecido mais tarde como capitão Ribeiro da Costa, muito ligado aos meios desportivos), Luís Clington Lobo e Romérito Rodrigues Pampulim.
A sessão inaugural efectuou-se no dia 9 de Abril de 1912, na sede da União, presidida por Robert Moreton. Rodolfo Horner e Frank Giles falaram acerca do Scouting.
Entretanto, surgiram novas adesões e organizam-se duas patrulhas; a primeira teve como guia João Paulo da Cruz e sub-guia António Santa Marta, da segunda Humberto Martins era o guia e sub-guia João Garcia David; logo de seguida foi criada a terceira patrulha, com Ernesto de Sousa e Francisco Caetano Dias.
Merece a pena fazer aqui uma pausa para destacar alguns destes nomes. Ernesto de Sousa, em consequência de Frank Giles encontrar dificuldade na sua relação com os rapazes, por dominar mal a língua portuguesa, veio a ser convidado para escoteiro-chefe, cargo que não aceitou de imediato, para se instruir melhor no método do Scouting, mas que veio depois a desempenhar revelando-se um dirigente excepcional, que imprimiu ao grupo grande desenvolvimento e actividade notável. Com a sua partida para os Estados Unidos, seguiu-se-lhe Cosme Vieira Leitão na chefia e, mais tarde, Humberto Martins foi outro chefe do grupo. Ambos se tornaram notáveis e prestaram grandes serviços ao Escotismo. Humberto Martins foi, chefe de vários grupos no Algarve, no período em que ali fixou residência. Foi presidente da Fraternal dos Antigos Escoteiros e acompanhou sempre com muito interesse o Movimento, até Outubro de 1978, data do seu falecimento.
Frank Giles, o jovem que teve a iniciativa de fundar o Grupo, foi chamado em 1914 ao serviço militar na sua pátria, tendo morrido em combate em terras de França.
Fazendo prova do seu próprio dinamismo e do da UCML, a que estava ligado, o Primeiro Grupo começou logo a propaganda, realizando em 17 de Agosto de 1912 uma sessão, presidida pelo dr. Joaquim Leite Júnior, onde falaram também Roberto Moreton, presidente da direcção, e Frank Giles, chefe do grupo. Uma assistência de mais de 200 pessoas seguiu com muito interesse a conferência.
Em 21 de Novembro seguinte, efectuou-se nova sessão de propaganda, desta vez na Liga Naval portuguesa. Foi presidida pelo educador dr. Ricardo Borges de Sousa, figura que surge mais tarde ligada ao grupo n. 3 da A.E.P.
Roberto Moreton apresentou projecções luminosas sobre “A vida dos scouts em Inglaterra”. Esta sessão despertou grande entusiasmo na enorme assistência e a Imprensa deu boa cobertura ao acontecimento.
Um facto importa salientar: o grupo n.º 1 teve influência excepcional na juventude, o que se integrava perfeitamente nos objectivos da UCML. Mas foram as personalidades de Rodolfo Horner, Roberto Moreton e Eduardo Moreira os grandes pólos desta atracção.

Logo no início do Grupo foi feita uma versão portuguesa da “Lei dos scouts”, naturalmente por adaptação da lei do movimento britânico. Foi esta a fórmula adoptada:
1º Um scout é sempre de reconhecida honradez.
2º Um scout é fiel à sua pátria e às autoridades da mesma.
3º A obrigação de um scout é ser útil e ajudar todos.
4º Um scout é um amigo de todos e irmão de todos os outros scouts, qualquer que seja a classe social a que pertençam.
5º Um scout é cortês.
6º Um scout é amigo de todos os animais.
7º Um scout obedece às ordens do “Patrolleader” ou do “Scoutmaster”, sem fazer questão.
8º Um scout deve aparentar sempre boa disposição de espírito em qualquer circunstância em que se encontre.
9º Um scout deve ser económico.
10º Um scout é puro em palavras, pensamentos e acções.

O Primeiro Grupo, que passou a designar-se Grupo n. 1 da AEP, continua hoje em actividade, continuan-do, igualmente ligado à Associação Cristã da Mocidade.