Da falta
de uma estratégia global…
Não obstante os
esforços de grande número de dirigentes, que iam produzindo boas actividades
nos seus grupos e mesmo ao nível das regiões, a evidente falta de uma
estratégia de crescimento associativo e de um plano global de actividades, que
transmitisse mais entusiasmo aos grupos e uma visão pública da importância do
Escotismo, a acção da AEP continuava ao nível de uma confrangedora mediania,
tornando-se mais do que evidente que se estavam perdendo excelentes oportunidades
de criar novas expectativas posto que, por um lado seria de todo lógico poder
contar com o apoio do seu Presidente na obtenção de benesses e patrocínios,
quer das entidades oficiais quer de algumas empresas nacionais, por outro lado
adivinhava-se já uma certa abertura para o Escotismo perante a notória falta de
credibilização e de aceitação pública da Mocidade Portuguesa.
Ao contrário, o Escotismo Católico investiu
fortemente no seu desenvolvimento, dedicando especial atenção à criação de
novos agrupamentos por todo o País e também nas colónias ultramarinas, onde
conseguiu ladear a proibição imposta pelo decreto 29453, através de
instrumentos baseados na concordata de 1940. A isso, acrescentou elevado
investimento na formação dos seus dirigentes, num tal entusiasmo que o
observador menos atento poderia supor que a associação católica teria nascido
realmente nos anos “cinquenta”.
Na realidade, as alterações que se
verificaram na sua estrutura, a mudança de nome da associação, a “descoberta”
de novas palavras para identificarem, entre nós, o Movimento e os seus
praticantes – escutismo e escuteiro – palavras que impuseram no léxico
português, e um discurso de novidade entusiasmante, ainda que incorrecto, tudo
parecia justificar tal suposição.
Apesar da AEP dispor de uma figura tão
carismática no panorama político nacional, era o CNE que, mais
inteligentemente, se conduzia, através dos corredores das hierarquias católicas
e apoiando-se em acordos que estabelecia, através desta, com as entidades
oficiais ou com os comandos da Mocidade Portuguesa, que ia colhendo os melhores
resultados no que dizia respeito ao indispensável apoio institucional e
facilidades operacio-nais.
Para que esta afirmação não pareça vazia de
conteúdo, permitimo-nos recorrer a documento insuspeito, para citar um exemplo
apenas, de entre muitos: “… em 1956 seria
convocado o II Congresso da Mocidade Portuguesa. E, facto de relevo e revelador
do reconhecimento do escutismo católico, o CNE foi especialmente convidado pelo
então secretário de estado da Educação, Baltasar
Padre Ferreira da Silva |
Rebelo de Sousa, para participar no congresso, como
observador, mas com o objectivo de que «a sua experiência pedagógica, o resultado
do seu esforço e a clareza do seu ideal pudessem ajudar a MP a escolher um rumo
novo, o que viria a ser o sistema de voluntariado no seio dessa organização,
como ficaria a ser uma das conclusões do Congresso, graças a uma especial
intervenção, entre outras muitas e até de dirigentes da MP, dos dirigentes
nacionais do CNE, que apoiaram essa tese»(1)
Entenda-se, porém, que o que fica dito não
representa senão o reconhecimento pelo excelente trabalho desen-volvido naquele
período pelo Escutismo Católico Português e pelos seus dirigentes, que
acreditaram no Escotismo e o entenderam como verdadeiro instrumento de educação
da juventude, com destaque para o incansável e meritório trabalho desenvolvido
pelo padre Manuel Ferreira da Silva, seu assistente nacional e,
cumulativamente, secretário-geral, que foi o motor e grande orientador de todo
esse desenvolvimento, o qual apontava, em 1952, o caminho a seguir:
“em primeiro lugar, melhorar a nossa posição:
firmando e aperfeiçoando a consciência dos nossos chefes; e depois recrutar
novos, que passando pelos nossos campos-escola que, ficou decidido se deverão
realizar todos os anos que for possível, vejam no Escutismo um movimento ideal
para os jovens e para as famílias”(1).
__________________
1)
“CNE Uma História de Factos”
A
visita do general Spry
Facto saliente e de acentuada importância
foi a visita a Portugal do Director da Repartição Mundial do Escotismo, general
Daniel C. Spry, que chegou a Lisboa no dia 17 de Abril de 1959.
A aguardar o ilustre dirigente, estiveram no
aeroporto os secretários internacionais da AEP e do CNE e outros representantes
das direcções daquelas associações e da Fraternal dos Antigos Escoteiros, para
além de duas deputações de caminheiros da AEP e CNE, que fizeram a guarda de
honra ao visitante.
Na noite do dia
seguinte, os escotei-ros, em festa, receberam o ilustre dirigente na Escola
Francisco Arruda. Uma guarda de honra na escadaria de acesso ao edifício
acolheu o vis-tante, que ao entrar na sala foi saudado pelo entusiasmo
esfusiante dos muitos escoteiros presentes e cumprimentado pelo prof. Calvet Magalhães,
director daquela escola, Ali Dandachi, Comissário dos escoteiros da Síria,
Henrique Tenreiro, Duarte Silva, Manuel Lopes Peixoto, Diogo Afonso, dirigentes
da AEP, D. Paulo de Lencastre e Vítor Lima Santos do CNE, bem como muitos outros dirigentes das duas associações e da Fraternal.
O padre Pedro
Gamboa, que dirigiu os escoteiros, saudou o visitante e apresentou-o à numerosa
assistência, explicando a importância do seu alto cargo no Movimento Escotista
e da missão da Repartição Mundial do Escotismo. Depois conduziu os escoteiros,
que entoaram diversas canções e executaram gritos que animaram a assistência,
oferecendo-lhe um verdadeiro ambiente escotista.
O ministro da Educação conversa animadamente com o General Spry, na presença de dirigentes das duas associações |
O general Spry, dirigiu-se aos escoteiros e
guias para lhes dizer que se alegrava muito em ver ali tantos e tão bem
uniformizados, acrescentando: “O que está
dentro do uniforme é bastante mais importante, contudo o uniforme ajuda a
compreender o que está dentro” e continuou “Muitos de vós, talvez, não vos tendes apercebido de que pertenceis a
uma organização muito mais vasta, que conta mais de oito milhões de membros em
80 países diferentes, de diferentes religiões, nacionalidades, que têm a pele
de diferentes cores, altos, baixos, gordos, magros, mas que de facto têm muito
em comum e pertencem à mesma fraternidade mundial. Quanto mais viajo – e tenho
viajado 100.000 milhas anuais – mais verifico que as nossas semelhanças são
mais do que as nossas diferenças. O denominador comum é a mesma Lei, a mesma
Promessa, os mesmos ideais…”.
O General Spy foi recebido pelo ministro da Presidência, acompanhado pelos dirigentes da AEP e CNE |
As palavras do orador, traduzidas por Lima e
Santos, foram vibrantemente aplaudidas pelos escoteiros, guias e antigos
escoteiros presentes.
Tomou depois a palavra o comandante
Tenreiro, presidente da AEP, que fez o elogio do general Spry, após o que
colocou no peito do visitante a medalha de reconhecimento LIS DE PRATA, que
distingue o seu trabalho e dedicação pelo Escotismo Mundial.
Seguiu-se a intervenção de D. Paulo
Lencastre, saudando o visitante, destacando o seu meritório trabalho, após o
que lhe entregou o COLAR DE NUNO ÁLVARES, igualmente a mais alta distinção
daquela associação.
O Presidente da AEP cumprimenta o General Spry, depois de o condecorar com a medalha LIS DE PRATA, pela sua dedicação ao Escotismo |
Os antigos escoteiros, representados por
Ernesto Nascimento e Vasco Antunes, fizeram entrega ao Director da Repartição
Internacional do Escotismo de uma bonita placa de prata com a insígnia da
Fraternal, com apropriada dedicatória. Sensibilizado, Daniel Spry agradeceu: “aceito as condecorações não como preito de
homenagem, mas como lembrança daquilo que o Escotismo Português tem feito pelo
Movimento”.
O general Spry deslocou-se a Lisboa para se
aperceber do desenvolvimento das duas associações e preparar a 18.ª Conferência
Internacional do Escotismo, que viria a realizar-se em 1961.
O Director da Repartição Mundial foi
recebido pelo Ministro da Educação Nacional, dr. Francisco Leite Pinto, que lhe
ofereceu um almoço, para o qual foram igualmente convidados dirigentes da AEP e
CNE, bem como um representante da Mocidade Portuguesa.
Daniel Spry teve ainda oportunidade de
realizar uma conferência de imprensa para dizer aos jornalistas portugueses as
razões da sua vinda a Portugal e explicar a forma de funcionamento do Escotismo
Mundial, que dispõe de comissários nas diversas partes do mundo, através dos
quais se vai mantendo informado, referindo-se ainda às “profundas transformações que estão acontecendo em África”, de onde
acabara de chegar.
Visita de Lady Baden-Powell
Em 5 de Fevereiro de 1960, um numeroso
grupo de guias e escoteiros aguardavam no aeroporto a chegada de Lady
Baden-Powell, Chefe Mundial das Guias, a figura viva mais representativa de
todo o movimento escotista.
Saudada com grande entusiasmo, a ilustre
visitante recebeu os cumprimentos de boas vindas dos dirigentes das
associações guidista e escotistas, bem como da Fraternal dos Antigos Escoteiros.
Maria Luísa
Magalhães Esteves Pereira, que fundou em Portugal o primeiro grupo de Guias, entrega a Lady Baden-Powell uma lembrança da Fraternal |
José M. Nobre
Santos, Delegado dos Serviços Centrais da AEP na Região Centro, cumprimenta a Chefe Mundial das Guias, em nome daquela associação |
No dia seguinte, na sala de cinema do Secretariado Nacional da
Informação, realizou-se uma festa de homenagem pro-movida pelas Guias de
Portugal, na qual estiveram presentes: D. Maria Guardiola, em representação do
ministro da Educação Nacional, o ministro do Ultramar, o embaixador de Inglaterra
e muitas guias, escutas e escoteiros.
Em outra cerimónia, rodeada de simplicidade, a AEP, através do seu
chefe-geral, fez entrega à ilustre visitante da condecoração LIS DE PRATA.
Lady Baden-Powell demorou
ainda alguns dias no nosso país, a convite da associação das Guias, que a
rodearam de atenções e lhe proporcionaram o conhecimento de algumas belezas de
Portugal. Regressou a Inglaterra no dia 16 de Fevereiro.