domingo, 28 de outubro de 2012

Da nossa história… (22)

(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“)
Da falta de uma estratégia global…
O 46º Aniversário dos Escoteiros de Portugal
foi comemorado com um acampamento em Carcavel
o
Não obstante os esforços de grande número de dirigentes, que iam produzindo boas actividades nos seus grupos e mesmo ao nível das regiões, a evidente falta de uma estratégia de crescimento associativo e de um plano global de actividades, que transmitisse mais entusiasmo aos grupos e uma visão pública da importância do Escotismo, a acção da AEP continuava ao nível de uma confrangedora mediania, tornando-se mais do que evidente que se estavam perdendo excelentes oportunidades de criar novas expectativas posto que, por um lado seria de todo lógico poder contar com o apoio do seu Presidente na obtenção de benesses e patrocínios, quer das entidades oficiais quer de algumas empresas nacionais, por outro lado adivinhava-se já uma certa abertura para o Escotismo perante a notória falta de credibilização e de aceitação pública da Mocidade Portuguesa.
      Ao contrário, o Escotismo Católico investiu fortemente no seu desenvolvimento, dedicando especial atenção à criação de novos agrupamentos por todo o País e também nas colónias ultramarinas, onde conseguiu ladear a proibição imposta pelo decreto 29453, através de instrumentos baseados na concordata de 1940. A isso, acrescentou elevado investimento na formação dos seus dirigentes, num tal entusiasmo que o observador menos atento poderia supor que a associação católica teria nascido realmente nos anos “cinquenta”.
   Na realidade, as alterações que se verificaram na sua estrutura, a mudança de nome da associação, a “descoberta” de novas palavras para identificarem, entre nós, o Movimento e os seus praticantes – escutismo e escuteiro – palavras que impuseram no léxico português, e um discurso de novidade entusiasmante, ainda que incorrecto, tudo parecia justificar tal suposição.         
   Apesar da AEP dispor de uma figura tão carismática no panorama político nacional, era o CNE que, mais inteligentemente, se conduzia, através dos corredores das hierarquias católicas e apoiando-se em acordos que estabelecia, através desta, com as entidades oficiais ou com os comandos da Mocidade Portuguesa, que ia colhendo os melhores resultados no que dizia respeito ao indispensável apoio institucional e facilidades operacio-nais.
   Para que esta afirmação não pareça vazia de conteúdo, permitimo-nos recorrer a documento insuspeito, para citar um exemplo apenas, de entre muitos: “… em 1956 seria convocado o II Congresso da Mocidade Portuguesa. E, facto de relevo e revelador do reconhecimento do escutismo católico, o CNE foi especialmente convidado pelo então secretário de estado da Educação, Baltasar
Padre Ferreira da Silva

Rebelo de Sousa, para participar no congresso, como observador, mas com o objectivo de que «a sua experiência pedagógica, o resultado do seu esforço e a clareza do seu ideal pudessem ajudar a MP a escolher um rumo novo, o que viria a ser o sistema de voluntariado no seio dessa organização, como ficaria a ser uma das conclusões do Congresso, graças a uma especial intervenção, entre outras muitas e até de dirigentes da MP, dos dirigentes nacionais do CNE, que apoiaram essa tese»(1)
   Entenda-se, porém, que o que fica dito não representa senão o reconhecimento pelo excelente trabalho desen-volvido naquele período pelo Escutismo Católico Português e pelos seus dirigentes, que acreditaram no Escotismo e o entenderam como verdadeiro instrumento de educação da juventude, com destaque para o incansável e meritório trabalho desenvolvido pelo padre Manuel Ferreira da Silva, seu assistente nacional e, cumulativamente, secretário-geral, que foi o motor e grande orientador de todo esse desenvolvimento, o qual apontava, em 1952, o caminho a seguir:                                              
em primeiro lugar, melhorar a nossa posição: firmando e aperfeiçoando a consciência dos nossos chefes; e depois recrutar novos, que passando pelos nossos campos-escola que, ficou decidido se deverão realizar todos os anos que for possível, vejam no Escutismo um movimento ideal para os jovens e para as famílias(1).
__________________
1) “CNE Uma História de Factos”

A visita do general Spry
   Facto saliente e de acentuada importância foi a visita a Portugal do Director da Repartição Mundial do Escotismo, general Daniel C. Spry, que chegou a Lisboa no dia 17 de Abril de 1959.
   A aguardar o ilustre dirigente, estiveram no aeroporto os secretários internacionais da AEP e do CNE e outros representantes das direcções daquelas associações e da Fraternal dos Antigos Escoteiros, para além de duas deputações de caminheiros da AEP e CNE, que fizeram a guarda de honra ao visitante.
Na noite do dia seguinte, os escotei-ros, em festa, receberam o ilustre dirigente na Escola Francisco Arruda. Uma guarda de honra na escadaria de acesso ao edifício acolheu o vis-tante, que ao entrar na sala foi saudado pelo entusiasmo esfusiante dos muitos escoteiros presentes e cumprimentado pelo prof. Calvet Magalhães, director daquela escola, Ali Dandachi, Comissário dos escoteiros da Síria, Henrique Tenreiro, Duarte Silva, Manuel Lopes Peixoto, Diogo Afonso, dirigentes da AEP, D. Paulo de Lencastre e Vítor Lima Santos do CNE, bem como muitos outros dirigentes das duas associações e da Fraternal.  
O padre Pedro Gamboa, que dirigiu os escoteiros, saudou o visitante e apresentou-o à numerosa assistência, explicando a importância do seu alto cargo no Movimento Escotista e da missão da Repartição Mundial do Escotismo. Depois conduziu os escoteiros, que entoaram diversas canções e executaram gritos que animaram a assistência, oferecendo-lhe um verdadeiro ambiente escotista.
O ministro da Educação conversa animadamente
com o General Spry, na presença de dirigentes
das duas associações
   O general Spry, dirigiu-se aos escoteiros e guias para lhes dizer que se alegrava muito em ver ali tantos e tão bem uniformizados, acrescentando: “O que está dentro do uniforme é bastante mais importante, contudo o uniforme ajuda a compreender o que está dentro” e continuou “Muitos de vós, talvez, não vos tendes apercebido de que pertenceis a uma organização muito mais vasta, que conta mais de oito milhões de membros em 80 países diferentes, de diferentes religiões, nacionalidades, que têm a pele de diferentes cores, altos, baixos, gordos, magros, mas que de facto têm muito em comum e pertencem à mesma fraternidade mundial. Quanto mais viajo – e tenho viajado 100.000 milhas anuais – mais verifico que as nossas semelhanças são mais do que as nossas diferenças. O denominador comum é a mesma Lei, a mesma Promessa, os mesmos ideais…”.
O General Spy foi recebido
pelo ministro da Presidência,
acompanhado pelos
dirigentes da AEP e CNE
   As palavras do orador, traduzidas por Lima e Santos, foram vibrantemente aplaudidas pelos escoteiros, guias e antigos escoteiros presentes.
   Tomou depois a palavra o comandante Tenreiro, presidente da AEP, que fez o elogio do general Spry, após o que colocou no peito do visitante a medalha de reconhecimento LIS DE PRATA, que distingue o seu trabalho e dedicação pelo Escotismo Mundial.
   Seguiu-se a intervenção de D. Paulo Lencastre, saudando o visitante, destacando o seu meritório trabalho, após o que lhe entregou o COLAR DE NUNO ÁLVARES, igualmente a mais alta distinção daquela associação.
O Presidente da AEP cumprimenta
o General Spry,
depois de o condecorar
com a medalha LIS DE PRATA,
pela sua dedicação ao Escotismo
   Os antigos escoteiros, representados por Ernesto Nascimento e Vasco Antunes, fizeram entrega ao Director da Repartição Internacional do Escotismo de uma bonita placa de prata com a insígnia da Fraternal, com apropriada dedicatória.    Sensibilizado, Daniel Spry agradeceu: “aceito as condecorações não como preito de homenagem, mas como lembrança daquilo que o Escotismo Português tem feito pelo Movimento”.
   O general Spry deslocou-se a Lisboa para se aperceber do desenvolvimento das duas associações e preparar a 18.ª Conferência Internacional do Escotismo, que viria a realizar-se em 1961.
   O Director da Repartição Mundial foi recebido pelo Ministro da Educação Nacional, dr. Francisco Leite Pinto, que lhe ofereceu um almoço, para o qual foram igualmente convidados dirigentes da AEP e CNE, bem como um representante da Mocidade Portuguesa.
   Daniel Spry teve ainda oportunidade de realizar uma conferência de imprensa para dizer aos jornalistas portugueses as razões da sua vinda a Portugal e explicar a forma de funcionamento do Escotismo Mundial, que dispõe de comissários nas diversas partes do mundo, através dos quais se vai mantendo informado, referindo-se ainda às “profundas transformações que estão acontecendo em África”, de onde acabara de chegar.

Visita de Lady Baden-Powell
     Em 5 de Fevereiro de 1960, um numeroso grupo de guias e escoteiros aguardavam no aeroporto a chegada de Lady Baden-Powell, Chefe Mundial das Guias, a figura viva mais representativa de todo o movimento escotista.
Saudada com grande entusiasmo, a ilustre visitante recebeu os cumprimentos de boas vindas dos dirigentes das associações guidista e escotistas, bem como da Fraternal dos Antigos Escoteiros.
           
Maria Luísa Magalhães Esteves Pereira,
que fundou em Portugal o primeiro grupo de Guias,
entrega a Lady Baden-Powell uma lembrança da Fraternal



José M. Nobre Santos, Delegado dos Serviços Centrais da AEP
na Região Centro, cumprimenta a Chefe Mundial das Guias,
em nome daquela associação
No dia seguinte, na sala de cinema do Secretariado Nacional da Informação, realizou-se uma festa de homenagem pro-movida pelas Guias de Portugal, na qual estiveram presentes: D. Maria Guardiola, em representação do ministro da Educação Nacional, o ministro do Ultramar, o embaixador de Inglaterra e muitas guias, escutas e escoteiros.
     Em outra cerimónia, rodeada de simplicidade, a AEP, através do seu chefe-geral, fez entrega à ilustre visitante da condecoração LIS DE PRATA.
     Lady Baden-Powell demorou ainda alguns dias no nosso país, a convite da associação das Guias, que a rodearam de atenções e lhe proporcionaram o conhecimento de algumas belezas de Portugal. Regressou a Inglaterra no dia 16 de Fevereiro.

Da nossa história…(21)(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)

Tempos de transição e expectativa

Já dissemos que a estabilidade associativa sentida na AEP, com a chegada à presidência de Henrique
Tenreiro, e o entusiasmo de alguns dos seus melhores dirigentes, aliado ao grande empenhamento dos delegados regionais então nomeados, que se esforçavam para dinamizar as suas zonas, foram os grandes responsáveis pelo relativo desenvolvimento vivido por alguns dos seus melhores Grupos, durante a década de cinquenta.
Não podemos, porém, esquecer que deste breve período de entusiasmo foram igualmente responsáveis a organização dos grupos ligados às igrejas evangélicas e a Fraternal dos Antigos Escoteiros, que estimulava os grupos com as suas propostas de actividades conjuntas, visitas e concursos que atraiam o interesse dos escoteiros.
Sobre tudo isto estava o apoio estimulante do jornal ”Sempre Pronto”, permanentemente presente e actuante em todas as acções que aquelas realizavam. Inseparável desta apreciação está a figura de Eduardo Ribeiro, já que em todas aquelas três entidades se evidenciava todo o seu conhecimento, espírito interventivo e vontade férrea de servir o Escotismo, pugnando pela divulgação dos seus valores essenciais e defendendo-o acaloradamente das intervenções espúrias que muito prejudicavam o seu desenvolvimento.
O indesmentível empenhamento do Director do “Sempre Pronto” gerou à sua volta uma pequena equipa
de colaboradores e uma enorme onda de simpatia que estiveram bem no centro do melhor que se fez naquele período da vida dos Escoteiros de Portugal.
Todavia, é bom dizer-se que o entusiasmo descrito se vivia apenas em alguns sectores associativos,já que a
nível directivo não existia uma verdadeira estratégia de divulgação e crescimento associativo e disso se ressentiam os grupos menos apoiados, ou situados fora dos centros de influência das entidades atrás referidas.

Maior visibilidade do escotismo católico
É neste período, que começa a notar-se um forte investimento da Igreja Católica na sua associação
escutista, através da proliferação de Agrupamentos junto das paróquias, ganhando visibilidade pública com
as acções desenvolvidas pelos escutas, assente na criteriosa renovação das estruturas do CNE, após a
decisão do seu Conselho Geral, realizado em Fátima em 10 e 11 de Junho de 1950, para transferência da Sede da Junta Central de Braga para Lisboa.
Perante o bom trabalho desenvolvido naquele período pelo escotismo católico, somente condicionado
pelo proselitismo das suas acções, foi notória a ausência de um sólido programa de acção da AEP e a debilidade da sua direcção e chefias central e regionais, que não proporcionou a resposta associativa que seria de esperar, através da realização de actividades caracterizadas pelo Método escotista, proporcionando ao Movimento português a universalidade dos seus princípios inter-étnicos e inter-confessionais.
Bem pelo contrário, viveu-se um período dealheamento e cedências perante os vanguardismos
ditados pelo peso social da associação congénere, do que podem servir de mero exemplo a intervenção na
Assembleia Nacional, em 19 de Novembro de 1952, do deputado Jacinto Ferreira, ou a confusão lançada à volta dos vocábulos escoteiro e escotismo, onde os dirigentes
da AEP de então evidenciaram a sua fraqueza, ignorância e desinteresse.
Seja como for, registou-se neste período um verdadeiro crescimento do CNE, que assume o Método e
as realidades do Movimento escotista, realizando alguns acampamentos nacionais com bom nível e, prestando especial atenção às necessidades de formação, organiza quatro campos escola para dirigentes (Santarém –1951, Linhares, Faro e Ermesinde – 1953).

O ressurgimento da Associação das Guias de Portugal
A AGP, que havia cessado a sua actividade em 1937, pela integração na Mocidade Portuguesa Feminina das suas principais dirigentes, para ali ocuparem postos elevados, desperta no dia 3 de Maio de 1953 com a criação da 1ª Companhia de Guias “Rainha D. Leonor”, apoiada pela Igreja Presbiteriana, na Rua de S. Bento, acto a que assistiu a figura prestigiosa de Denise Lester, representante em Portugal da Secretaria Mundial do Guidismo e a senhora Frank Murraydo Conselho Nacional de Guidismo dos Estados Unidos da América.
Foi guia chefe desta unidade Júlia Gomes Pena Ribeiro e subchefe Sara de Oliveira Serra.
A Igreja Católica, que não vira até então interesse na versão feminina do Escotismo, apesar de algumas
vozes que se faziam ouvir nesse sentido, ao constatar que o ressurgimento do Guidismo se estava operando
através das igrejas evangélicas, empenhou-se fortemente na reactivação da AGP e, do entendimento entre o
Cardeal Patriarca de Lisboa e o ministro da Educação surgiu a nomeação de uma comissão executiva para
aquela associação, de acordo com os seus estatutos de 1934. Em 19 de Março de 1954 foram nomeadas: Maria do Carmo da Câmara Castelo Branco, para presidente;Isabel de Estarreja, para comissária nacional; e a condessa de Castelo Branco para comissária inter-regional.
Em Abril do ano seguinte, uma nota oficial subscrita pela secretária nacional, anunciava o reinício das actividades da Associação de Guias de Portugal.
A 7 de Março de 1955, Leslie E. Whateley, directora da Repartição Internacional do Guidismo, visita Lisboa para tomar conhecimento da evolução do movimento no nosso País, tomando parte numa reunião
onde estiveram presentes: condessa de Estarreja, comissária nacional; Maria Vicenta de Martel, secretária do Conselho Nacional; Cecília Abecassis Empis, tesoureira; Maria Teresa de Verda, vogal; Maria Rita Novais de Castro, vogal; Maria Palmira Santiago, comissária regional; Ester Seruya; Júlia Pena Ribeiro e Sara Serra, da Companhia “Rainha D. Leonor”.
Esteve igualmente presente a delegada da Repartição Internacional Denise Lester.
A Companhia de Guias, “D. Filipa de Vilhena”, surgiria na Igreja Presbiteriana Lisbonense, na Rua Febo Moniz, em Abril de 1956, apoiada pela secção “Ávares Cabral” do Grupo n. 94, igualmente criada
naquela igreja.
Em 5 de Fevereiro de 1960, as Guias de Lisboa recebem a visita de Lady Baden-Powell, no âmbito de
uma visita que realizou pelos países onde o Guidismo se encontrava em desenvolvimento.
Mas só em 1963 a AGP veio a ser aceite como Membro Aspirante da WAGGGS –World Association of
Girl Guides and Girl Scouts (Associação Mundial das Guias), na 18ª Conferência Mundial realizada na
Dinamarca, passando a Membro Efectivo apenas na 22ª Conferência Mundial, que teve lugar em 1975, em
Inglaterra.

D. Maria Luísa Magalhães Esteves Pereira, que fundou em Portugal o primeiro grupo de Guias, saúda a
Chefe Mundial do Guidismo

1º acampamento “saudade”
Nos Escoteiros de Portugal, esfumados os últimos entusiasmos provocados pela actividade verdadeiramente
significativa da década, que foi o Jambori do Jubileu, os grupos caíram de novo nas suas actividades
de rotina, não obstante os diversos acampamentos regionais que se iam realizando, embora com fraco
registo de participação.
Digno de nota, mais pela novidade do que pela sua dimensão, foi o acampamento de confraternização
realizado pela Fraternal em 20 e 21 de Setembro de 1958, na Quinta de S. Gonçalo em Carcavelos, onde
estiveram presentes 70 antigos e mais de 100 actuais escoteiros. Simpática e digna de registo a presença do
chefe Francisco Pina, acompanhado de 10 escoteiros do Grupo n. 6, de Olhão, que vieram propositadamente.
Alguns antigos escoteiros fizeram-se fotografar com escoteiros do Grupo n. 94
Esta actividade, a que o jornal “Sempre Pronto” propôs se pusesse o nome de Acampamento da Saudade,
enquadrava-se nas preocupações já então sentidas pelos dirigentes da FAEP, por um lado estimular a vida activa dos grupos, por outro lado mostrar a importância do escotismo adulto, tal como já então o entendíamos.
O acampamento foi suficientemente bom para dar prazer aos antigos, que recordaram com saudade as actividades do seu tempo e reencontraram velhos amigos. Houve interesse e entusiasmo nos jogos e alegria no “Fogo de Conselho” e na “Festa de Campo”.
No encerramento, a Fraternal galardoou os vencedores dos concursos e ofertou ao Grupo n. 12, recentemente criado, o estandarte daquele Grupo.
Nasce o “Jambori do AR”
Esta interessante actividade, que hoje marca o calendário de todas as unidades escotista em todo o mundo, representando uma significativa manifestação da vivência universal do Escotismo, surgiu em 1958 de uma iniciativa inspirada no êxito alcançado pela estação de rádio que operou durante o Jambori do Jubileu a qual estabeleceu contacto com mais de 80 países. A ideia inicial, traduzida num convite a todos os amadores de rádio através do Mundo, pretendia estabelecer uma cadeia de amizade e fraternidade ligada ao Escotismo, a realizar em 24 horas de 10 e 11 de Maio daquele ano.
Além das participações individuais, era desejável o estabelecimento de estações de rádio nas sedes centrais e dos grupos e em cooperação com as sociedades locais de rádio amadores, em qualquer banda de postos amadores e com equipamentos de harmonia com as licenças reguladoras destas actividades, recomendan-do a todos os participantes que “observassem estrita-mente as normas legais”.
Uma estação especialmente montada no Campo Escola de Gilwell Park, operada pela Sociedade de Rádios Amadores de Wanstead and Woodford seria o coração de toda esta cadeia universal.
Em Portugal, o jornal “Sempre Pronto” acolheu com interesse esta iniciativa, divulgando-a logo no seu número de Fevereiro e acompanhando-a até à sua realização. No entanto, dadas as limitações com que viviam as estações radio amadoras, com excepção da presença de um representante do próprio jornal junto da estação CT1 de Lisboa, não houve registo de intervenção de qualquer unidade escotista.
Apesar do empenho dos organizadores e de um plano convenientemente bem desenhado, esta primeira edição não alcançou grande êxito, pela escassez de tempo para a sua organização, condições atmosféricas ad-versas, etc. Todavia, os seus promotores não desistiram e lançaram uma segunda edição para o ano seguinte, fixada para a meia-noite de 23 de Outubro até à meia-noite do dia 25 (TMG).
Entretanto, o Clube Internacional Escoteiro de Londres, autor da ideia deste empreendimento, convidou a Repartição Internacional do Escotismo a assumir para o futuro a direcção dos preparativos deste “Jambori do Ar”. Para esse efeito, constituiu-se em Otava, Cana-dá, uma Comissão para cuidar deste assunto junto daquela Repartição.
Daí para cá esta actividade tomou o seu lugar fixo, de ano para ano, nos programas escotistas do mês de Outubro em todo o mundo, conquistando cada vez mais participantes.
Em Portugal, durante vários anos continuou a sentir-se as dificuldades próprias das férreas limitações impostas aos radio amadores, mas os escoteiros começaram a aderir, ainda que sem poder participar directa-mente. Com a adesão das unidades do CNE cresce o movimento em volta do “jambori do ar”. O “Sempre Pronto” continuou a ser o fiel arauto da realização do evento, empenhando-se em estabelecer contactos entre os radio amadores e os Grupos de escoteiros, até que o seu mais directo colaborador para esta matéria, Justino Estevão da Silva, foi designado como o Organizador Nacional desta actividade.
Após o 25 de Abril de 1974, com as liberdades estabelecidas nas comunicações, os escoteiros dinamizaram esta actividade, que mais tarde se instalou também na Web. Agora chamado de JOTA/JOTI, tem-se transformado numa enorme festa escotista, celebrando a amizade e o companheirismo que caracterizam o Movimento.

sábado, 25 de agosto de 2012

Da nossa história… (20) (apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)



A realização do espectacular Jamboree do Jubileu, que teve lugar no Sutton Park, Inglaterra, em Agosto de 1957, despertou enorme entusiasmo, não só naqueles que tiveram a felicidade de poder estar presentes e viver aquele inesquecível acontecimento, como em todos os demais escoteiros portugueses, vivendo-se durante algum tempo no seio dos Grupos de escoteiros, em ambiente de muito dinamismo, antes durante e depois da realização daquela importante actividade, estendendo-se tais efeitos até bastante mais tarde.

O Jambori dos que cá ficaram…
Numa resenha histórica, será justo lembrar uma actividade realizada no PNEC, por iniciativa da equipa «Alexandre Herculano» do Grupo n.º 94, intitulada de “O Jambori dos que cá ficaram - acampamento de confraternização espiritual com o JIM”, que decorreu nos dias 10 e 11 de Agosto com a participação dos Grupos 8, 10, 53 e 94, onde foi rigorosamente cumprido o «sistema de patrulhas».

O acampamento foi dirigido pelo chefe Samuel Vieira, pertencendo a chefia do campo escoteiro aos chefes Manuel Tacão e Idílio Gonçalves e do campo de caminheiros ao chefe Rui Cunha.

Com os referidos chefes, cuidando do programa e de toda a organização em campo, estavam os caminheiros da já referida equipa, cujos nomes (de memória) aqui lembramos, por se tratar de uma equipa verdadeiramente exemplar do que é sentir e viver o Escotismo: Júlio Maria Reis, Fernando Silveira, Luís Garcia, Mariano Garcia, Armando Inácio, João Silva, Henrique Sousa, Fernando Cavaco e Fernando Silva.

Foi uma excelente actividade, com um programa intenso e verdadeiramente exemplar de acampamento escoteiro, onde as patrulhas se dedicaram à ornamentação e aperfeiçoamento técnico dos seus campos, apresentando bons trabalhos de técnica escotista.

Não faltaram as cerimónias de abertura, fogo de conselho e festa de encerramento, esta com o compromisso de honra de um novo escoteiro.

A patrulha “Leão”, do grupo n. 10, foi a brilhante vencedora do concurso em disputa e os caminheiros prestaram homenagem a Manuel Tacão, o escoteiro mais antigo em campo.

No final, o caminheiro Mariano Garcia fez uma breve palestra sobre o significado daquela actividade, levando os presentes a pensar em Sutton Park e na grandiosidade daquela manifestação escotista e pediu a todos que, de mãos dadas, entoassem a canção do «adeus», como daí a pouco o fariam os trinta mil participantes no JIM.

Logo a seguir ao Jamboree de Sutton Park, reuniu em Cambridge, de 14 a 16 de Agosto aquela que foi uma das mais importantes Conferências Mundiais realizadas até então, não só pelo elevado número de países representados mas, principalmente, pela importância das decisões tomadas, demonstrando a grande vitalidade com que o Movimento se manifestava naquele ano do seu Jubileu.

Para além do relatório de gestão apresentado pela Repartição Mundial, foram aprovados: a filiação de novas associações (Honduras, Iraque, Malásia, Sudão e Vietname) e confirmada a filiação da Associação dos Escoteiros Israelitas de França; realização do próximo Jamboree nas Filipinas, em 1959; e mudança da sede da Repartição Mundial para Otava, Canadá, apesar da forte oposição dos países da Europa que desejavam a sua continuidade em Londres.

Estala a polémica escoteiro ou escuteiro.

Talvez cansados de se chamarem escutas, carregando com o sentido pejorativo que a palavra adquirira há alguns anos, o Corpo Nacional de Escutas resolveu passar a chamar aos seus filiados de escuteiros, exercendo influências na comissão do novo Acordo Ortográfico para admissão da nova palavra e fê-lo com tal força que expulsou de alguns dicionários portugueses a antiga palavra escoteiro, o que veio acirrar as hostes ligadas aos Escoteiros de Portugal, cujo vocábulo lhe pertencia há cerca de 40 anos.

Não vamos aqui reproduzir, por enfadonhas, todas as opiniões e teorias, mais ou menos académicas, melhor ou pior documentadas, que então se produziram nos meios de comunicação, especialmente no Jornal “Sempre Pronto” que ao assunto dedicou enorme importância, tomando posição clara sobre a matéria e dando guarida às declarações de muitos dos seus leitores.

Importa antes referir que, perante uma questão tão fracturante lançada no seio do Movimento Escotista português, os escoteiros e as suas associações souberam, ao longo dos anos já decorridos, desvalorizar a polémica e reagir da forma mais adequada e consentânea com o espírito de B-P, ficando cada uma delas com a palavra que elegeu para si, aceitando a outra igualmente como válida.

A organização dos Grupos Evangélicos
A organização dos grupos ligados às Igrejas Evangélicas, a que já nos referimos anteriormente, foi um facto durante as décadas de 50 e 60, chegando a recear-se, devido ao proselitismo de alguns dos seus dirigentes, alguma tentativa de seccionamento da AEP, o que estaria absolutamente contra o seu espírito de abertura.

Porém, nunca foi essa a intenção dos dirigentes evangélicos, que apenas aproveitaram, a favor do Escotismo, o ambiente de apoio e compreensão em que se movimentavam. O seu sinal positivo foi que, nomeadamente em Lisboa, aqueles grupos apresentavam-se organizados e realizavam regularmente actividades de boa qualidade, exteriorizando a sua capacidade de entendimento do método escotista e fazendo uma correcta e persistente divulgação do Movimento.

Os registos da realização de regulares reuniões de chefes, para estudo da situação e estabelecimento de programas de acção conjunta, valorizou o trabalho dos chamados “grupos evangélicos”. Também a novidade que constituiu a realização das Conferências de Guias de Patrulha organizadas e dirigidas por eles próprios, apenas com o apoio de alguns dirigentes mais experientes, mobilizaram todos os guias e sub-guias daqueles grupos, proporcionando-lhes ensinamentos e noções de organização e método, onde deram mostra de uma boa integração e amadurecimento dos valores do Escotismo.

A primeira das referidas Conferências teve lugar de 7 a 9 de Dezembro de 1956, a segunda realizou-se nos dias 31 de Outubro e 3 de Novembro de 1957 e chegou a estar planeada uma terceira, que não chegou a

realizar-se, porque tendo nascido a ideia de a transformar numa conferência nacional envolvendo os escoteiros e guias de todo o país, não obstante a boa vontade revelada pelo jornal “Sempre Pronto” (n.º 174 de Out.1959), que se propôs cuidar da sua organização, a iniciativa não teve o acolhimento desejado.

E por aqui ficou a magnífica ideia das conferências de guias…

sábado, 10 de março de 2012

Da nossa história…(19)

(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)

Dirigentes históricos esforçam-se…

A estabilidade nos Serviços Centrais da AEP a partir do ano de 1953, veio permitir que, graças aos esforços dos dirigentes mais empenhados, se registasse um relativo incremento das actividades escotistas.

O Escotismo em acção
O dinamismo que os Delegados Regionais procuravam transmitir com a realização de acampamentos nas suas zonas, transmitiam uma certa vida aos Grupos de escoteiros, que iam promovendo as suas actividades com maior visibilidade pública, contando, muitas vezes, com o apoio da Fraternal dos Antigos Escoteiros, a viver momentos de entusiástica actividade, sob a presidência do dr. Tovar de Lemos. Também o jornal “Sempre Pronto” participava nesse dinamismo, divulgando com entusiasmo todas as actividades de que ia tendo conhecimento, acrescentando os seus artigos de comentário e estímulo à acção dos escoteiros, ao mesmo tempo que desen-volvia uma forte campanha de angariação de assinantes.

Tal dinamismo contagiou o Escoteiro Chefe Geral e os Serviços Centrais, que em Maio de 1956 já anunciavam à Repartição Mundial do Escotismo que a AEP enviaria um contingente de 45 escoteiros ao Jamboree do Jubileu do Escotismo que se realizaria em Agosto de 1957, em Inglaterra.

O Centenário de Baden Powell
No ano de 1957, durante o qual se iria comemorar o Centenário do Fundador e, simultaneamente os 50 anos do Escotismo, despertou o entusiasmo dos Grupos que se prepararam alegremente para esta dupla comemoração, tendo igualmente em vista a preparação dos seus rapazes, com vista à selecção que iria ser feita pela chefia nacional para designar o contingente que havia de estar presente no Jamboree do Jubileu.

O jornal “Sempre Pronto“ foi o primeiro a assinalar este ano tão especial, dedicando o seu número de Fevereiro quase inteiramente à evocação do Chefe Mundial, enchendo as suas páginas com os aspectos mais salientes da vida de Baden -Powell e da sua dedicação ao Escotismo, descrevendo algumas das suas mais importantes decisões e muitos dos seus conselhos, lembrando momentos das suas duas visitas a Portugal (1929 e 1934).

Por toda a parte começaram a ter lugar cerimónias comemorativas do Centenário. Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, V. Real de Stº António, Olhão, Guimarães, Entroncamento e noutras localidades, os escoteiros reuniram-se para recordar e honrar a figura de B.P..

A Sessão realizada em Lisboa
Teve lugar em 23 de Fevereiro, presidida pelo dr. Baltasar Rebelo de Sousa, Subsecretário de Estado da Educação Nacional, ladeado por Henrique Tenreiro, Presidente da AEP, Paulo de Lencastre, Chefe Nacional adjunto do CNE, Condessa de Estarreja, Comissária Nacional das Guias de Portugal, Bispo de Tiava, Presidente da Acção Católica, o Ministro Conselheiro da Embaixada Britânica e Luís Rocha, vereador da C.M.L., encheu o vasto Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes, que foi pequeno para conter o numeroso auditório que acorreu a prestar homenagem à memória de Baden Powell. Presentes grande número de dirigentes das três associações e elevado número de escoteiros e guias.

Para conferencista foi convidado o dr. Taborda Ferreira que, não sendo escoteiro, fez uma análise do Movimento de fora para dentro do Escotismo. Fez uma larga análise do método escoteiro, referiu-se à personalidade de B.P., afirmando que “ele fez o que disse e disse o que fez” e que “o escoteiro não fala mas age. Os que falam, os que discutem, não agem”. Referiu-se às reuniões internacionais do Escotismo, onde tomam parte escoteiros de todas as raças e credos em alegre confraternização, vivendo aqueles momentos como se fossem irmãos e terminou com palavras de homenagem ao Fundador.

Usaram ainda da palavra o Chefe Nacional Adjunto do CNE, o Presidente da AEP e, a encerrar a sessão, o dr. Baltazar Rebelo de Sousa, falou de forma vibrante de Baden-Powell e da sua Obra, referindo: “… regozijo-me convosco pelo momento de alta vibração que acabamos de viver. Para ele concorreram de modo especial os dirigentes escotistas que usaram da palavra… na verdade bem merece a memória de Baden-Powell a homenagem que lhe prestamos. Com efeito, esse admirável e glorioso condutor de homens, foi um extraordinário educador da mocidade. Homem de aventura, nas sete par-tidas do mundo… estava em condições óptimas para compreender a grande aventura da juventude. Daí o segredo do êxito do seu sistema que, tão rápido se espalhou mundo…” E de-pois de larga explanação sobre a sua própria experiência escoteira, considerando a importância do Escotismo na educação dos jovens, concluiu: “Levado pelo meu entusiasmo… perdi-me ao sabor das minhas reflexões, das muitas que o tema suscita… Mas que seja esse mesmo entusiasmo a justificar-me: é o contributo que dou à homenagem de hoje, e que desejaria fosse interpretado como incitamento a todos quantos vivem a grande, a urgente, a inadiável tarefa da formação da nossa juventude”.

A visita da Rainha Isabel II a Portugal
Facto que mobilizou o entusiasmo dos escoteiros e guias portugueses, foi a visita a Portugal, em Fevereiro daquele ano, da Raínha de Inglaterra, que foi Guia durante a sua juventude. Do jornal “Sempre Pronto”, que acompanhou atento a intervenção dos escoteiros nesta efeméride, respigamos um pequeno resumo:

“Portugal recebeu com entusiástico alvoroço S.M. a Rainha Isabel II. Todo o povo português prestou as suas homenagens à Soberana, numa grande manifestação de simpatia para com a nação britânica, a mais velha amiga e aliada de Portugal. Os escoteiros e as guias de Portugal associaram-se entusiasticamente ao acto.

Na Av. Da Liberdade alinharam os escoteiros, as guias e os lobitos, que à passagem do cortejo real saudaram a Rainha. Sua Magestade, ao ver os escoteiros e as guias, sorriu simpaticamente para eles e correspondeu com um aceno à saudação que lhe era feita. O mesmo sucedeu com o Principe Filipe que fez um largo gesto de simpatia.

No Parque Eduardo VII, os escoteiros empunhavam os estandartes dos seus grupos e associações, prestavam serviços de apoio e guardavam os cestos que continham os pombos que iam ser largados durante a cerimónia. Os escoteiros abriram alas até ao automóvel que ía conduzir a Rainha ao Palácio da Ajuda e fizeram saudação à sua passagem, a que a Soberana correspondeu fazendo também a saudação escoteira, gesto que os escoteiros e as guias saudaram com muito entusiasmo por saberem que a mais alta representante da nação inglesa é uma Escoteira, que sente os mais altos ideais da fraternidade do Escotismo, apesar do elevado posto que ocupa.

Em 1948, a então Princesa Isabel afirmava: Grandes distâncias podem separar-nos, mas estamos muito unidas por um ideal comum e pela determinação de o tornar realidade. O mundo de hoje necessita justamente daquelas qualidades que o Movimento das Guias estabelece para encorajar e perserverar”.

Jamboree Mundial do Jubileu
Aproximava-se a data da maior actividade alguma vez realizada pelos escoteiros e, de todo o mundo, convergiam jovens e adultos na direcção de Sutton Park, uma pequena cidade vizinha de Birmingham nos arredores de Londres, o local escolhido para a realização do Jamboree do Jubileu do Escotismo, onde se iria comemorar, igualmente, o centenário do nascimento do seu Fundador – Baden-Powell.

Por Portugal passou o numeroso contingente brasileiro, bem como as delegações do Uruguai e da Bolívia, que tiveram a oportunidade de confraternizar, em Lisboa, com escoteiros portugueses, que os receberam no Cais da Rocha e os acompanharam num passeio pela cidade, tendo seguido depois para Inglaterra na companhia da delegação da AEP.

Desta vez a AEP e o CNE prepararam contingentes separados, sendo que da parte dos Escoteiros de Portugal não seguiram os 45 elementos que a sua direcção anunciara um ano antes, mas apenas 10 caminheiros para participarem no “Rover-moot”, acompanhados dos dirigentes Arnaldo Couto e Jacinto Moniz Silva, que chefiavam o contingente.

No entanto, a AEP fez questão de fazer seguir naquele grupo o encarregado do SMU associativo (que não foi vender nem comprar material!...), um operador cinematográfico e um jornalista, todos não escoteiros, apesar de ser conhecida a presença, já habitual em Jamborees anteriores, da equipa de reportagem do “Sempre Pronto”.

É pois, da brilhante pena dos redactores daquela publicação escotista que nos socorremos para resumir alguns dos aspectos principais da grande jornada escotista:

“… Foi este rincão de excepcional beleza que os escoteiros britânicos escolheram para a realização do Jambori do Jubleu. E estariam de parabéns pelo bom gosto demonstrado se a região oferecesse de facto condições mínimas para a instalação de um acampamento desta natureza, o que realmente não aconteceu.

… Devido a abundância de vegetação, Sutton Coldfield é região sujeita a forte dose de humidade, inconveniente agravado pelas frequentes precipitações atmosféricas… Foi pena que tal acontecesse porque, a conservarem-se toleráveis as condições atmosféricas, este Jambori teria sido, certamente, um acontecimento de excepcional relevo na história do movimento escotista.

… O recinto de Sutton Park é enorme. Atravessá-lo em linha recta significa percorrer uns bons quilómetros. Esta grandeza dimensional foi a grande deficiência que a organização do JIM revelou…

… A entrada principal do grande recinto era em Town Gate, onde os escoteiros construíram um motivo ornamental de grande inspiração.

… Perto de Town Gate estavam instalados, além dos serviços de recepção, o campo do quartel-general do acampamento e o hospital. Seguindo por uma longa estrada – a B.P.’s Way – e atravessando alguns subcampos, após uma boa jornada, chegava-se à parte do campo onde se encontravam montados os serviços de informações, dos correios, bombeiros, polícia, agências de viagem, bancos, produtos farmacêuticos, etc., uma exposição da indústria britânica e uma exposição sobre a vida de B.P., um pavilhão de rádio e televisão da BBC e locais de exibição, providos de bancadas para dezenas de milhares de espectadores.”

Vale a pena, mesmo à distância de 55 anos, voltar às páginas do “Sempre Pronto” (n.º 149 e 150) para reler ou conhecer o que se passou naquela histórica actividade, já que neste breve apontamento não cabe o relato completo do que foi o JIM (Jambore+Indaba+Moot), onde aconteceu de tudo o que se fazia nas actividades escotistas de então, até que um pavoroso temporal quase pôs fim à actividade, não fora o espírito de perseverança e o treino da maioria dos escoteiros presentes. Mas voltemos às palavras de Sempre Pronto, que nos descreve com clareza e pormenor o dia a dia do acampamento, rematando com o que considerou os três acontecimentos de maior relevo:

“Três outros acontecimentos, de natureza diferente, mas de importância excepcional, merecem uma referência ainda que breve. Primeiro: a inauguração do acampamento em que tomaram parte todos os escoteiros acampados e a que presidiu o Duque de Gloucester. Foi uma manifestação vibrante da vitalidade do escotismo, que a todos deslumbrou. Segundo: a visita da Rainha Isabel ao acampamento. Mais uma vez tivemos ensejo de apreciar o aprumo e a simpatia com que a jovem soberana se desempenha do difícil posto que está sobraçando. Os escoteiros desfilaram perante a Rainha e endereçaram-lhe as homenagens devidas, enquanto uma enorme multidão lhe tributava tributava calorosas aclamações. Foi uma cerimónia impressionante pelo cunho de sinceridade da grandiosa manifestação…

… o terceiro acontecimento foi a cerimónia do encerramento do JIM, a que presidiu Lady Baden-Powell. A ilustre senhora dirigiu uma mensagem de despedida aos escoteiros, tendo sido victoriosamente aclamada. No fim, foi queimado fogo de artifício. Não se esquecerão facilmente as imagens dos momentos finais desta cerimónia, em que os (mais de35.000) escoteiros entoaram a uma voz a canção do Jambori, marchando na arena, numa animada e vibrante manifestação de amizade e de bom entendimento entre os jovens das mais diversas nações e raças”.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Da nossa história... (18)

(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)

EXPECTATIVA DE TEMPOS MELHORES

Se é uma verdade confirmada que a chegada de Henrique Tenreiro à Presidência dos Escoteiros de Portugal não proporcionou o desenvolvimento associativo que muitos desejavam, não é menos verdade que desapareceram por completo as ameaças à sua existência, uma preocupação nos anos quarenta, e também se deve apontar como positivo a estabilidade associativa em que se passou a viver, o que foi aproveitado por alguns dirigentes mais empenhados e mais competentes para trabalharem afincadamente no progresso dos seus grupos.

Reorganização associativa
Também na Associação se faziam esforços para se reorganizar e dinamizar as actividades dos escoteiros.

Com a nomeação, em 18 de Fevereiro de 1954, para adjuntos do Escoteiro Chefe Nacional dos dirigentes Albano da Silva e Luís Tovar de Lemos, reconhecidos pela sua competência e dedicação ao Movimento, a capacidade dos Serviços Centrais melhorou substancialmente, dedicando-se o primeiro às tarefas de organização administrativa, nas quais era reconhecida a sua elevada competência e o segundo entregando o seu enorme entusiasmo aos aspectos operacionais, organizando ou estimulando a realização de actividades, em constantes visitas tanto ao norte como ao sul do País.

Na sequência desse esforço, os dirigentes associativos começaram a organizar um Curso de chefes, que teve o seu início a 23 de Agosto de 1954, mas que não veio a registar grande êxito pela falta de interesse demonstrada por grande parte dos chefes e auxiliares a que se destinava.

Os escoteiros desfilam no Rossio

A reorganização ao nível das regiões também começou a verificar-se, depois da nomeação dos delegados dos Serviços Centrais para as Regiões, figura que substituiu o tradicional Chefe Regional durante alguns anos.

Na Região Centro foi nomeado o Engº José Maria Nobre dos Santos e no Algarve João Miranda Trigueiros, enquanto no Norte foi indicado o comte. Coutinho Lanhoso. Nos Açores também se conheceu algum desenvolvimento, tendo ali sido nomeado como delegado dos Serviços Centrais Moniz Silva, escoteiro Chefe no Grupo nº. 52, dirigente dedicado e pessoa muito considerada naquele território insular.

Dinamização de actividades regionais
Cada um à sua maneira procuraram o desenvolvimento dos Grupos e estimularam as actividades em conjunto, que davam maior visibilidade ao Movimento e contribuíam para uma visão mais alargada da acção escotista por parte dos escoteiros e dirigentes. Foi assim que apostaram na realização de Acampamentos Regionais, vindo a realizar três no ano de 1955, o primeiro em Lisboa, a 23/24 de Julho, o do Algarve em 13/15 Agosto e o do Norte em 10/11 de Outubro. Em qualquer destas actividades houve a preocupação de fazer participar delegações das outras Regiões, de modo a ir generalizando o conhecimento do que se fazia em todo o País.

Acampamento Regional do Centro

O Regional do Algarve, por exemplo, contou com a presença de mais de 150 escoteiros de Lisboa, que deram aquela actividade uma dimensão e importância que muito ajudou ao incremento do Escotismo naquela Região, e veio premiar o trabalho de base que já ali se estava realizando com muito empenho, nomeadamente os Cursos de Guias iniciados em Junho de 1954, dirigidos por Francisco Pina, o competente chefe do Grupo nº. 6, Olhão, que decorreram com várias actividades ao longo dos dois anos se-guintes.


Acampamento Regional do Algarve





Também o jornal “Sempre Pronto”, logo no mês de Janeiro de 1955, fizera despertar a vida associativa pelo entusiasmo posto nas actividades realizadas para celebração do seu 10º Aniversário, ao qual fizemos já referência no número anterior.

Falta de perspectiva internacional
Surpreendentemente, depois da grande mobilização associativa para a participação no 2º Acampamento Internacional de Patrulhas, em S. Paulo, Brasil, a que fizemos igualmente referência, os dirigentes associativos, certamente por carência de meios económicos, continuaram alheados dos acontecimentos do Escotismo internacional.

Assim, não há notícia da presença de qualquer escoteiro ou dirigente da AEP no 8º Jamboree Mundial, que se realizou de 18 a 28 de Agosto de 1955 no Canadá, em Niágara sobre o Lago, Otava.

II Reunião de dirigentes evangélicos
Com certo relevo, decorreu de 22 a 26 de Fevereiro de 1956 a II Reunião Geral de Escoteiros Chefes Evangélicos, na Sede da Juventude Evangélica Portuguesa, em Lisboa, onde os dirigentes dos grupos de escoteiros e guias estudaram problemas respeitantes ao Movimento nas suas relações com as Igrejas Evangélicas. Na oportunidade, Joel Ribeiro, redactor principal do jornal “Sempre Pronto” proferiu uma conferência intitulada “O pensamento de Baden Powell”.

Acampamento Regional nos Açores

De 3 a 11 de Agosto de 1956, por iniciativa do delegado dos Serviços Centrais, chefe Jacinto Moniz Silva, realizou-se um Acampamento Regional nos Açores, que teve a particularidade de contar com a presença de grupos do CNE e com o grupo n.º 1 de Boy Scouts of America das Lages. Foi uma interessante e muito apreciada actividade, que os escoteiros presentes resolveram chamar de “Jamborette” dada a sua característica internacional.

Acampamento Regional em Sintra
No mês de Setembro do mesmo ano, teve lugar em Sintra mais um Acampamento Regional do Centro, onde particparam não mais de uma centena de escoteiros, chefiado pelo delegado dos Serviços Centrais, dr. Eugénio Ramos, auxiliado pelo chefe Samuel Vieira, do Grupo n.º 53.

No domingo, decorreu um desfile até à Câmara Municipal, onde os escoteiros foram aguardados pelo Escoteiro Chefe Geral, comodoro Duarte Silva e seu adjunto chefe Luís Tovar de Lemos, após o que este dirigente apresentou cumprimentos ao Presidente da Câmara Municipal, dr. Cesar Nogueira Baptista.

Os escoteiros acamparam na mata do Palácio e nem a chuva quebrou a sua alegria de participar numa actividade onde aumentaram os seus conhecimentos e conheceram novos amigos. Esta actividade serviu, ainda, para comemorar o 22º aniversário do grupo local, o NOVENTA E TRÊS.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Da nossa história... (17)

OS NOVOS VENTOS PARA O ESCOTISMO(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)

A eleição do comandante Henrique Tenreiro para Presidente da AEP, durante a Conferência de Dirigentes realizada em Dezembro de 1952, veio por termo aos desentendimentos que dividiam os dirigentes associativos e chefes de grupos desde que o eng.º Jorge Jardim anunciara a sua resignação naquele cargo.

Posse do novo Presidente da AEP

A tomada de posse do novo Presidente teve lugar em 19 de Fevereiro de 1953, num acto extraordinariamente concorrido, a que presidiu o Presidente cessante, eng.º Jorge Jardim, acompanhado do dr. Alfredo Tovar de Lemos, presidente da FAEP, dr. Francisco Cortês Pinto, presidente do Tribunal de Honra da AEP e dr. Manuel Alambre dos Santos, representante da Mocidade Portuguesa. Afirmando a sua condição de escoteiro (enquanto criança fez parte dos “escoteiros de Lisboa”) e a sua enorme simpatia pelo Escotismo, H. Tenreiro declarou na oportunidade: “a minha única norma é a absoluta lealdade, colaboração e amizade”.
Porém, ainda que a sua eleição tenha sido votada por unanimidade, não era de todo agradável para alguns chefes de grupo o facto do novo presidente ter uma tão evidente actividade política ao serviço do Estado Novo. Mas diga-se, em abono da verdade, que Henrique Tenreiro quase sempre manteve uma clara distinção entre essa actividade e a sua Presidência da associação escotista, mesmo quando alguns dos seus mais directos colaboradores tomaram atitudes equívocas.

Posse da nova Direcção associativa

Em 7 de Março, na presença do Presidente do Tribunal de Honra, Henrique Tenreiro deu posse à sua direcção, que ficou assim constituída: Escoteiro Chefe Geral, Comodoro Daniel Duarte Silva; Secretário-Geral, tenente Domingos Diogo Afonso; Tesoureiro, Júlio Rocha Borges; Vogais: Manuel Dias de Almeida e Alberto Garcia de Almeida. Para o cargo de Secretário das Relações Internacionais foi escolhido o eng.º Manuel Lopes Peixoto.
Foi ainda designada uma COMISSÃO TÉCNICA formada por: Franklim de Oliveira, Joaquim Amâncio Salgueiro Jr., João Clímaco do Nascimento, eng.º José Maria Nobre Santos, João Madeira Leitão, Henrique Alves de Nobre Santos, João Azevedo e João Magalhães Ferraz, todos nomes já conhecidos nos meios escotistas.

A nova Sede dos Escoteiros de Portugal
Em 23 de Abril do mesmo ano a AEP muda a sua Sede Central para instalações conseguidas, a título provisório, no Cais do Sodré, local excelente mas demasiado exíguo para o fim em vista, a não ser que desde logo se tenha pensado em que um gabinete para a direcção e uma sala para reunir os dirigentes seria espaço suficiente para a Sede nacional.
A inauguração foi assinalada com um acto solene, marcando alegremente o “Dia do Escoteiro”. Durante a cerimónia, a que assistiram (de pé) os chefes dos grupos de Lisboa e alguns convidados, Henrique Tenreiro ofereceu à AEP uma nova bandeira nacional. O estandarte da associação e uma bandeira de S. Jorge foram igualmente oferecidos, respectivamente, por Franklin de Oliveira e Amâncio Salgueiro. O Presidente da AEP colocou no estandarte associativo as insígnias de Cavaleiro da Ordem de Benemerência e de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa, oportunamente conferidas à AEP.

Falta de desenvolvimento e dinamização
Dadas as circunstâncias, a actividade associativa não conheceu grande desenvolvimento, nem a dinamização dos grupos se fez sentir como desejado, apesar de alguns esforços por parte da direcção. O Escoteiro Chefe Geral acompanhado de outros elementos directivos visitou, durante o mês de Junho, os grupos da Capital, informando-se com interesse da sua situação, das condições de trabalho e de instalação, provocando certo entusiasmo em alguns grupos.
Por seu lado, o jornal “Sempre Pronto”, em crítica subliminar ao pouco trabalho que se estava desenvolvendo na AEP, avança em artigo de Eduardo Ribeiro, publicado no seu número de Setembro de 1953, a oportunidade de uma homenagem pública aos fundadores da Associação, integrada nas comemorações do 40º aniversário e “o regresso aos princípios que norteiam o Escotismo e às directrizes de B.P…”.
Também a criteriosa exposição ao Presidente, apresentada pelo Chefe do Grupo n.º 13, instalado na Sociedade de Geografia, considerando “que a superior finalidade da AEP impõe uma revisão do seu plano de trabalho para melhoria do seu nível cultural e consequente prestígio..." continha propostas objectivas sem qualquer efeito, que vieram a ser conhecidas pela publicação integral daquele documento no “Sempre Pronto” de Outubro e Novembro de 1953.

O 40º aniversário da AEP
Porém, as comemorações do 40º aniversário da AEP, não atenderam a tais sugestões e até ficaram bem longe da resolução que havia sido aprovada na Conferência de Dirigentes de Dezembro de 1952: “Que se realize em 1953 um Acampamento Nacional e uma Semana do Escoteiro, em comemoração do 40º aniversário da AEP…”, limitadas a uma Sessão solene, ainda que com algum brilho e discursos prometedores de bons tempos para o futuro, que não chegaram a entusiasmar grande número dos chefes dos grupos.
Mas a orientação do com.te Henrique Tenreiro nunca foi posta em causa, mantendo-se na Presidência da AEP por mais de vinte anos (até Abril de 1974). Porém, a verdade é que nunca a sua importância nacional trouxe evidentes benefícios para os Escoteiros de Portugal e nunca se desfez em alguns dirigentes o mal-estar que sentiam em público quando tinham de se identificar como seus subordinados.

Os novos ventos para o Escotismo em Portugal
É neste período, que começa a notar-se um forte investimento da Igreja Católica na sua associação escutista, através da proliferação de Agrupamentos junto das paróquias, ganhando visibilidade pública com as acções desenvolvidas pelos escutas.
A ausência de um sólido programa de acção da AEP e a debilidade das chefias central e regionais, não proporcionou a resposta associativa que seria de esperar, juntando ao bom trabalho desenvolvido pelo escotismo católico, necessariamente limitado pelo proselitismo das suas acções, actividades características do seu Método, dando ao Movimento escotista português a universalidade dos seus princípios interétnicos e interconfessionais. Bem pelo contrário, viveu-se um período de alheamento e cedências perante os vanguardismos ditados pelo peso social da associação congénere, de que pode servir de mero exemplo a confusão lançada à volta dos vocábulos escoteiro e escotismo, onde os nossos dirigentes evidenciaram a sua fraqueza, ignorância e desinteresse.

A existência de movimentos de pressão
Entretanto, era evidente a existência, desde os finais dos anos quarenta, de alguns movimentos de pressão, corporizados no aparecimento do jornal “Sempre Pronto”, em Janeiro de 1945 e da Fraternal dos Antigos Escoteiros, em Março de 1950. Também a melhor atenção dispensada ao Escotismo nos meios evangélicos, a partir do II Congresso da Juventude Evangélica Portuguesa (Maio de 1951), no qual foi apresentada a tese “O valor do Escotismo na educação da adolescência”, da autoria de Eduardo Ribeiro.

Tais movimentos, a que sempre encontramos ligada a figura prestigiada do antigo dirigente escotista Eduardo Ribeiro, apoiado pela acção organizativa do Grupo n. 94 e do seu Chefe Capitolino Macedo, vão evoluindo positivamente através da inauguração do Grupo n.º 10, em 27 de Abril de 1952, anexo à Igreja Evangélica Presbiteriana de Lisboa; a reabertura, em 1 de Junho, do Grupo n.º 78, anexo à Igreja Evangélica Figueirense, na Figueira da Foz; a criação do Grupo “Rainha D. Leonor” das Guias de Portugal, em 3 de Maio de 1953; a instalação da Comissão Organizadora da União Evangélica de Escoteiros de Portugal, que não terá chegado a concretizar a sua existência, dando, porém lugar à criação de um Secretariado dos Grupos Evangélicos, que teve uma acção de certo relevo em alguns episódios daquela era escotista.
A acrescentar, ainda que mais tarde, a criação dos grupos n.º 8 Febo Moniz, n.º 14 Algés e 2ª companhia de Guias.

O 2º Acampamento Internacional de Patrulhas, em S.Paulo - Brasil

Após os factos que vem sendo narrados, não será difícil reconhecer que todo o esforço da direcção associativa se concentrou no contingente que viria a participar no 2º Acampamento Internacional de Patrulhas que viria a decorrer em Julho de 1954 em S. Paulo, Brasil. Já havíamos estado presentes, com duas patrulhas, em Gillwel Park, quando da realização do evento anterior, graças ao empenhamento do então Presidente eng.º Jorge Jardim, mas esta segunda edição foi rodeada de cuidados especiais, que transformaram o nosso contingente numa verdadeira embaixada do escotismo português a terras brasileiras, onde existia uma relação bem fraternal em numerosos dirigentes escotistas do país irmão, que dispensaram aos nossos escoteiros provas de grande carinho.
Quem conheceu Albano da Silva, então escoteiro-chefe geral adjunto, sabia perfeitamente que ao ser nomeado responsável pelo contingente português tudo teria que correr de forma perfeita, mas fica-nos a admiração pela forma como tudo foi preparado, incluindo o treino dos escoteiros, que para o efeito participaram num acampamento de cinco dias, dirigido pelo chefe Francisco Pina, e pelo empenho do “Sempre Pronto” no acompanhamento que fez daquela actividade, cujo relato preencheu várias páginas, durante dois ou três números.
Provavelmente, tal actividade mereceu aquele empenhamento, até porque dela ficou uma boa recordação e um espólio histórico que veio a alimentar actividades posteriores.

O 10º aniversário do jornal “Sempre Pronto”
O jornal escotista tinha atingido o auge da sua popularidade e prestígio. Órgão de ligação dos antigos escoteiros ele era também o aglutinador de todo o movimento associativo da AEP. O dinamismo do seu director, Eduardo Ribeiro, tornando-o presente a todos os níveis nas acções associativas e a qualidade dos colaboradores que nele depositavam os seus pensamentos e comentários, deram-lhe o prestígio de um jornal adulto e respeitado por todos, mesmo aqueles que não concordavam com alguns dos seus conteúdos.
Por isso, não surpreende o êxito alcançado nas comemorações do seu 10º aniversário, com uma Sessão Solene realizada no dia 3 de Janeiro de 1955, no Salão Nobre do Ateneu Comercial de Lisboa, à qual assistiu uma deputação de antigos escoteiros espanhóis que se deslocaram a Lisboa propositadamente para o efeito. A Sessão foi presidida pelo com.te Henrique Tenreiro, ladeado pelo Comodoro Duarte Silva, Escoteiro Chefe Geral, Augusto Romão, director do Ateneu Comercial de Lisboa, Henrique Genovés, chefe da delegação espanhola e colaborador do S.P. e Eduardo Ribeiro, director do jornal. Entre a numerosa assistência, membros da direcção da AEP, muitos dirigentes escotistas e escoteiros de diversos grupos da Capital, antigos escoteiros, jornalistas e outras individualidades.
O jornalista e antigo escoteiro, sr. Ernesto Belo Redondo proferiu uma conferência com o título “O nosso amigo jornal”.
Das comemorações, ainda fizeram parte uma exposição da imprensa escotista e um jantar de confraternização, que foi largamente concorrido.

sábado, 2 de julho de 2011

Da nossa história…(16)

Da alegre expectativa à dúvida permanente
apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto “)

A dinâmica introduzida pelo Eng.º Jorge Jardim nos Escoteiros de Portugal, reflecte-se, em primeiro lugar na própria direcção associativa, mas também nos grupos de escoteiros, animados por uma onda de entusiasmo. Para esse entusiasmo muito contribuiu a preparação de um Acampamento Nacional, cuja falta de há muito se fazia sentir, e a perspectiva de realização de três reuniões internacionais, a concretizar durante o mês de Setembro de 1950.

Acampamento Nacional, em Carcavelos
No magnífico pinhal da já desaparecida Quinta do Junqueiro, em Carcavelos, começaram a convergir no dia 9 de Setembro os Grupos da Região Centro, os quais, sob o comando do seu Chefe Regional Ernesto Clímaco do Nascimento, tinham como principal missão a preparação do terreno e iniciar a montagem do Acampamento, aos quais se juntaram, no dia 13, os Grupos da Região Sul, chefiados por Luís Nascimento Pina, Chefe do Grupo n.º 6, e no dia 14, os Grupos da Região Norte, comandados pelo Chefe Regional Aníbal Tomás dos Santos.
A direcção do Acampamento estava entregue aos chefes Amâncio Salgueiro, António Mira Calhau e João Clímaco do Nascimento. Os serviços de secretaria foram orientados pelo Chefe José Miranda de Melo e João Patrício de Melo, auxiliados por Otelo Henriques de Sousa e Justino Estevão da Silva. O dr. Baltasar Rebelo de Sousa dirigiu os serviços médicos. No acampamento funcionou ainda uma tenda especialmente dedicada à venda de livros escotistas e artigos do SMU, serviço a cargo do Chefe Capitolino Macedo.
Apesar de algumas deficiências de planeamento, especialmente nos abastecimentos, a capacidade de improvisação superou muitos problemas e graças ao enorme esforço dos escoteiros e seus dirigentes, os campos apresentavam um agradável aspecto, exibindo construções e técnicas típicamente escotistas, que encantaram os milhares de visitan-tes que por ali passaram a apreciar as actividades dos escoteiros e a sua “engenharia” de campo, tão caracteristica daqueles tempos.
O Presidente da AEP, engº Jorge Jardim visitou o acampamento na manhã do dia 17, apreciando em pormenor todo o trabalho realizado pelos grupos.
Na tarde do mesmo dia, o acampamento foi visitado pelos Comissários Internacionais reunidos em Portugal.

Reuniões dos Comissários Internacionais
Naquele mês de Setembro de 1950 tiveram igualmente lugar três importantes reuniões internacionais de dirigentes escotistas, com presença de dezenas de delegados, a saber: Reunião dos Comissários Internacionais, Reunião do Comité Internacional do Escotismo e Reunião da Comissão de Estudo dos Antigos Escoteiros.
Aos participantes foi dispensada uma carinhosa recepção e as reuniões decorreram no Forte das Maias, em Santo Amaro de Oeiras.
Dessas reuniões e das actividades que à volta delas se realizaram, fez larga reportagem quase toda a imprensa diária portuguesa e até alguma estrangeira, procurando dar a esses acontecimentos o relevo que eles mereciam.
Mas o acolhimento feito aos Comissários Internacionais e membros do Conselho Internacional do Escotismo não se limitou às reuniões no Forte das Maias, pois aos visitantes foram proporcionadas duas excursões visitando os mais belos lugares dos arredores de Lisboa, especialmente as Serra de Sintra e Arrábida. A comissão de recepção, orientada por José Maria Nobre Santos, Secretário das Relações internacionais da AEP, não se poupou a esforços para que os visitantes levassem de Portugal recordações inolvidáveis.
A visita ao Acampamento Nacional, marcou outro momento alto das actividades dos Comissários, proporcionando-lhes contacto directo com o Escotismo praticado em Portugal, tendo apreciado muito o trabalho genuíno desenvolvido pelos Grupos, com seus campos montados com muita arte e engalanados com gosto.

A presença do Director da Repartição Mundial do Escotismo
Por convite das duas associações escotistas portuguesas, ficou o Coronel Wilson mais alguns dias em Portugal para que, com mais sossego e intimidade, os dirigentes portugueses pudessem trocar ideias com ele, para de um modo mais eficaz aproveitar dos seus conhecimentos e sugestões.
No dia 21, o Coronel Wilson visitou a Sede central da AEP, onde conferenciou com os directores dos Escoteiros de Portugal e com a Delegação de Lisboa do CNE. À noite, teve ainda oportunidade de visitaras sedes dos Grupos 5 e 53, onde foi alegremente recebido pelos seus escoteiros e dirigentes, seguindo depois para a Sociedade de Geografia onde reuniu com os chefes dos grupos de Lisboa da AEP, aos quais dirigiu palavras de estímulo e confiança no engrandecimento do Escotismo, apelando para que todos se devotassem mais às suas unidades e ao Movimento.
No dia 23 partiu para o Norte de automóvel, acompanhado dos Comissários Internacionais das duas associações, Chefe Geral da AEP e do Major Leo Borges Fortes, delegado do Brasil. À chegada ao Porto foi recebido pelos dirigentes escotistas daquela cidade e, à noite, assistiu a um festival promovido pelo CNE nos claustros da Sé Catedral.
O Coronel Wilson foi igualmente recebido em Guimarães e Braga, onde o CNE lhe prestou significativas homenagens.

Presença de Portugal no Jamboree de Salzburgo
Por distracção administrativa, ou falta de meios, esta importante actividade escotista quase passou despercebida à direcção da AEP, que se limitou à presença de um observador, o Chefe Regional de Lisboa Ernesto Clímaco, que viajou a expensas suas. O CNE enviou uma pequena delegação, constituída por dois escoteiros juniores e alguns seniores.
Entretanto, o jornal “Sempre Pronto” fez questão de estar presente com os seus três elementos principais – Eduardo Ribeiro, director; Capitolino Macedo, administrador; Joel Ribeiro, redactor principal, garantindo assim aos seus leitores o relato de tudo que ali se passou. Damos por isso lugar à brilhante pena do saudoso companheiro Joel Ribeiro, que nos descreve com entusiasmo a região onde o acampamento ficou instalado:
“O Jamboree ficava a cerca de 50 kms da cidade e era necessário tomar um pequeno e vagaroso combóio que nos conduziria até às proximidades de Bad Ischl. A viagem era sugestiva: ao pitoresco comboiozito e à agradável companhia de um punhado de alegres militares franceses das forças de ocupação da Áustria, mas que, como escoteiros que eram, se dirigiam também para o grande acampamento, juntava-se o maravilhoso da paisagem. A região de Salzkammergut é considerada das mais belas da Europa.
… O percurso que o combóio ia cobrir era de facto dos mais surpreendentes que nos tem sido dado observar… É difícil descrever o encanto desses vales viçosos, com mil e um chalés de camponeses disseminados por toda a planície, ou a majestade dos cumes esbranquiçados pela neve, sobranceiros a lagos formosos e solitários! Pois era esta região que íamos atravessar…”

O “Jamboree da simplicidade”, como foi chamado,não obstante contar com o patrocínio do Presidente da República Austríaca e registar a visita de Lady Baden Powell, viúva do Fundador, apresentou algumas falhas de organização, nomeadamente falta de iluminação, deficiente serviço de correios e carência de intérpretes nas informações, mas estas foram largamente compensadas, como afirmou Joel Ribeiro: “É justo que a par destas deficiências falemos também de tudo aquilo que nos impressionou favoravelmente. Em primeiro lugar,devemos dizer que ficamos encantados com a hospitalidade dos escoteiros austríacos e também de todo o povo daquele país. É de enaltecer a afabilidade com que o povo recebia os forasteiros…”
As delegações estavam distribuídas por sete subcampos, destacando-se, pelo número, os da Áustria, Estados Unidos, França, Inglaterra, Suíça, Itália e Alemanha. No total estiveram acampados cerca de 18.000 escoteiros.

A Conferência Internacional do Escotismo
Nos três primeiros dias de Agosto, realizou-se em Salzburgo a Conferência Internacional do Escotismo, na qual os Escoteiros de Portugal estiveram representados por José Maria Nobre Santos, secretário das relações internacionais e Alexandre Ascenção Cardoso. Pelo CNE estiveram presentes: D. José Paulo de Lencastre, chefe nacional adjunto, Victor Lima e Santos, secretário das relações exteriores e Padre José Pinto Pereira.
A Conferência ocupou-se de diversos assuntos, entre os quais a admissão da Associação dos Escoteiros de Israel e a organização associativa dos Antigos Escoteiros.

Acampamento Internacional de Patrulhas
Desta vez estava atenta a Direcção associativa e empenhado o secretário das relações internacionais, Eng. Nobre Santos. A Direcção tornou possível a ida de um contingente de escoteiros a Inglaterra para participar no primeiro Acampamento Internacional de Patrulhas, que teve lugar em Agosto de 1951, em Gillwell Park.
A notícia desta actividade fez exultar de alegria os escoteiros seleccionados em diferentes grupos de todo o País, os quais constituíram duas patrulhas, que foram acompanhadas pelos chefes Jacinto Moniz Silva e Armando Lino. Os escoteiros viveram uma bela aventura na viagem de 3 dias no “Higland Monarch”, que os transportou de Lisboa para Sauthampton, onde chegaram no dia 16. Ali foram recebidos por escoteiros ingleses que haviam programado oferecer-lhes uma semana de estadia em suas casas e proporcionar-lhes um magnifico programa de visitas e passeios, pelo que as patrulhas se separaram, seguindo uma para Londres e outra para Barking uma pequena cidade dos subúrbios, com cerca de 80.000 habitantes.
Essa semana constituiu uma bela jornada de confraternização, guardando os jovens portugueses em seus corações a magnífica lição recebida dos escoteiros ingleses, pela maneira afável como foram recebidos por eles e no seio das suas famílias, tão gentis e hospitaleiras.
Chegados a Gilwell na manhã do dia 22, um bonito parque situado numa extremidade da floresta de Epping, os escoteiros depararam com um enorme acampamento, como se fora uma pequena cidade dividida em freguesias (subcampos), onde existia tudo que era indispensável (e mesmo o dispensável) para o funcionamento de uma grande actividade como aquela em que foram instaladas cerca de 800 tendas e foi visitado por mais de 20.000 pessoas.
O carácter internacional das actividades e as diversas competições realizadas, além dos desfiles, concentrações e Fogos de Conselho (3) deram grande animação e colorido aquele evento e deixaram nos participantes recordações inolvidáveis.

Continuidade e optimismo
A quantidade e natureza das actividades que se desenvolveram em tão curto espaço de tempo deram à década de 50 uma perspectiva de que os Escoteiros de Portugal iam, finalmente, entrar numa fase de grande desenvolvimento. Era também essa a convicção do Engº Nobre Santos quando em Dezembro de 1951, já empossado do cargo de Escoteiro Chefe Geral, falava ao jornal “Sempre Pronto”, sobre as directrizes e os projectos dos dirigentes associativos: “a Direcção está trabalhando com afinco nos preparativos da reforma do Regulamento Geral da Associação, a Conferência de Dirigentes reunirá no próximo verão e esperamos realizar também um grande acampamento da Região Centro, onde talvez tomem parte alguns escoteiros ingleses. Em 1953, o 40º aniversário da AEP será comemorado com um acampamento nacional, para o qual se pensa convidar o CNE e delegações de países estrangeiros”. Todavia, a partida do engº Jorge Jardim para Moçambique, nomeado para a Administração de uma grande empresa industrial, tornou inviável a continuidade do seu trabalho como Presidente dos Escoteiros de Portugal e logo se fizeram regressar os desentendimentos entre os dirigentes e a instabilidade voltou ao seio da AEP.
Por iniciativa do engº Nobre Santos, Escoteiro Chefe Geral, reuniram-se dirigentes e antigos escoteiros, em 19 de Setembro de 19552, para anáise da crise associativa e apresentação de sugestões sobre nomes para a Presidência.
Também serviu aquela reunião para apresentação do projecto de alteração dos Estatutos da Associação, que foi contestado em algumas das suas formulações, que os antigos escoteiros fizeram abortar.
Finalmente, nos dias 5 a 8 de Dezembro, realizou-se a Conferência Nacional de Dirigentes, que teve lugar no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, à qual foi proposto, como candidato único, o Comandante Henrique Tenreiro, que foi eleito por aclamação.
Henrique Tenreiro, antigo escoteiro e figura de grande relevo na vida nacional, veio a encarar com muita simpatia e interesse a Presidência dos Escoteiros de Portugal, mas o seu empenhamento político e a falta de tempo para dispensar ao seu cargo a atenção que merecia, gerou muitas situações das quais, contrariamente ao que poderia esperar-se, a AEP saiu sempre prejudicada.