Textos
de Mariano Garcia (apoiado na História dos Escoteiros de Portugal -
de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“)
Outros acontecimentos…
Recheado de polémicas, umas mais saudáveis
que outras, mas também bastante recheado de acontecimentos muito importantes
para a vida associativa, o ano de 1961 foi, sem sombra de dúvida, o ponto de
partida para uma nova tentativa de renovação dos métodos directivos da AEP,
primeiro devido aos esforços que vinham sendo desenvolvidos por José Maria Nobre
Santos, enquanto Delegado Regional e depois nomeado EC Regional do Centro, tendo
como adjunto José Eduardo Pena Ribeiro.

Por isso, nos vamos deter um pouco mais, na
observação da vida associativa naquele ano, especialmente na recém-criada
Direcção Regional do Centro, depois de passarmos em revista alguns outros
acontecimentos, nacionais e internacionais, cujos relatos quase então passaram
despercebidos perante a importância das actividades a que já fizemos
referência.
Escoteiros,
calça ou calção?
Por cá, ainda que
sem quaisquer consequências, durou alguns meses a ardorosa discussão sobre o
uso de calça ou calção no uniforme dos escoteiros. Tal discussão, que hoje nos
pareceria deslocada e ridícula, não deixou de ter verdadeiro impacto naquela
época. Felizmente, prevaleceu o bom senso e o uniforme, ainda que trocando de
cores, tem mantido sempre as suas características essenciais.
Inauguração
da casa Baden-Powell
Entretanto, em Londres, a Rainha Isabel II,
inaugurava, a 12 de Junho, a Casa de B-P, edifício social e residencial para
escoteiros, não só da Grã-Bretanha mas de todos os escoteiros estrangeiros que
ali estejam de visita.
No seu discurso, a Rainha prestou homenagem
à vida e obra de B-P, tendo afirmado: “Acontece
poucas vezes que um homem possa ver durante a sua vida uma ideia crescer dos
seus primeiros momentos até se desenvolver num Movimento em escala mundial.

“Baden-Powell
não está já connosco, mas o seu Movimento permanece e desenvolve-se, monumento
mais
forte do que a pedra ou o aço. Aqui em Ingla-terra, onde ele começou a sua
obra, está pois erguida uma casa que, usando o seu nome e servindo as
necessidades do Movimento, será a expressão, de uma maneira prática, da nossa
gratidão para com ele. Estou certa que todos nós temos a maior satisfação em
celebrar a construção deste esplêndido edifício na presença de Lady Olave
Baden-Powell. É bem conhecida de todos nós a sua incansável obra a favor do
Escotismo e, em particular das Guias”.

Falecimento
de Leo Borges Fortes
Também em Junho, morria no Brasil o General
Leo Borges Fortes, uma figura do escotismo mundial, grande amigo dos escoteiros
portugueses e um dos mais prestigiados dirigentes da história do escotismo
brasileiro.
Na
Região do Centro
Voltamos à Direcção Regional do Centro
(Lisboa), criada no início do ano, após os esforços organizativos a que fizemos
referência no início deste texto, e dotada de serviços que prometiam promover o
desenvolvimento do Escotismo naquela zona, única que se tornou activa, não
obstante alguns esforço para a criação das Regiões do Norte e do Sul, que se
mantiveram por mais algum tempo com os Delegados Regionais nomeados pela
Direcção Central.
Dois acampamentos regionais, realizados em
3-4 de Junho e 29-30 de Julho, reuniões e actividades conjuntas dos grupos de
escoteiros, sessões de aperfeiçoamento técnico de preparação para o Curso de
Chefes e a organização do 1º Curso de Insígnia de Madeira, trouxeram à Região
um dinamismo desusado.

Assumindo
funções antes mesmo da sua nomeação, cedo se confundiu em acções lesivas da
nossa Associação,
nomeadamente, anulando medidas que o próprio Presidente Regional havia tomado,
procurar impedir a participação dos grupos evangélicos nas comemorações de
Aljubarrota e dando parecer desfavorável à realização do Curso da Insígnia de
Madeira, apesar de ser assunto que estava fora das suas atribuições. Por
acréscimo, constou naquela época que levou aos Serviços Centrais a presumível
“ordem” de encerramento da AEP pelo sr. subsecretário de Estado da Juventude e
Desportos agastado com os acontecimentos à volta da “Marcha Patriótica”, aos
quais nos referiremos mais adiante, ordem essa que levada ao conhecimento da
Direcção da AEP com os criteriosos comentários do prestigiado secretário dos
Serviços Centrais, EC Albano da Silva, terão feito rir o Presidente.
Comemorações
de Aljubarrota!...
Quase no desconhecimento da generalidade
dos dirigentes dos grupos, a Chefia Nacional aderiu, sem qualquer empenhamento,
diga-se, a uma iniciativa surgida no seio da Mocidade Portuguesa, que tinha em
vista aproveitar o próximo aniversário da batalha de Aljubarrota para promover
uma “Marcha Patriótica” que reunisse ali alguns milhares de jovens a
manifestarem-se publicamente em desagravo dos ataques que vinham sendo desferidos
nos meios internacionais contra a política ultramarina do governo português.
Para a Comissão Organizadora que ia ser
criada, paritáriamente entre as organizações juvenis, MP, AEP e CNE, na AEP
foram designados pela Chefia Nacional Mariano Garcia e José Ferreira, faltando
um terceiro elemento que nunca chegou a ser designado. Cedo se percebeu que a
tal comissão, nem era paritária como se afirmava, nem era organizadora, porque
todo o programa lhes foi imposto logo na primeira reunião.
Reunidos no Palácio da Independência,
pertença da Mocidade Portuguesa naquela época, foi construída a tal Comissão
com os dois representantes da AEP, três representantes do CNE, três graduados
da MP em representação do Colégio “que tivera a ideia”, mais três graduados da
MP representando aquela organização e mais seis graduados da MP que fariam
parte do staff de apoio e secretariado. A presidir à “sessão” o general Arnaldo
Schultz e também presente o assistente nacional da MP. Esta era “uma comissão
paritária que iria trabalhar para produzir um programa digno do acontecimento.
A partir dali tudo se esperava da capacidade dos jovens presentes”, disse o
general, e fomos à nossa vida para nos reunirmos de novo na semana seguinte.
Na reunião seguinte a “comissão
organizadora” era esperada de novo pelo general que, para simplificar as coisas
e poupar-nos trabalho, disse, apresentou um programa já feito, que constava
essencialmente de uma grande concentração em Fátima, onde decorreriam
cerimónias religiosas, seguida de um desfile até à Batalha, onde decorreriam as
acções de exaltação patriótica.
Ainda que receosos do espaço escorregadio
em que se movimentavam, os representantes da AEP não deixaram de manifestar a sua estranheza por
se depararem com um “programa” já pronto, argumentar sobre a inutilidade da
constituição da comissão e contestar frontalmente o carácter fortemente
religioso da “Manifestação”, exclusivamente dirigida a católicos, onde não
parecia haver lugar para “todos” os jovens, como se pretendia. Essa era a nossa
responsabilidade como representantes de uma associação pluriconfessional.
Também a entrevista planeada para a EN, com
a presença de um jovem de cada organização, havia sido substituída por uma
intervenção já realizada pelo assistente nacional da MP.
Vendo a inutilidade da sua presença em tal
comissão, os dois representantes da AEP resolveram abandoná-la, tendo Mariano
Garcia enviado uma carta ao EC Geral a comunicar-lhe tal decisão.
Os factos chegaram, porém, ao conhecimento
dos Grupos evangélicos, do jornal “Sempre Pronto” e do prestigiado “Diário de
Lisboa”, que usou a sua NOTA DO DIA para denunciar o proselitismo que comandava
o Programa da MARCHA.
Por seu lado os
grupos evangélicos vieram a público anunciar a sua “adesão à marcha patriótica
à Batalha”, apresentando um programa próprio para os seus escoteiros, o que
veio marcar uma indesejável divisão no desejo de unificação nacional
manifestado pela “Comissão organizadora”
Os escoteiros evangélicos da AEP, receberam
ordem de interdição do seu programa, a que não obedeceram e fizeram uma normal
actividade de romagem à Batalha, conforme relato do SP nos seus números 196 de
Agosto de 1961 e 197/198 de Setembro/Outubro.
O falatório não terá agradado ao então
Subsecretário de Estado para a Juventude e Rui Santos apareceu na
Associação com o “recado” de que aquele ia
dar ordem para o seu encerramento.
Tal notícia nunca chegou a ser do
conhecimento público, nem sequer da maioria dos dirigentes Regional par se dedicar exclusivamente à
organização da Escola de Formação de Dirigentes, o Presidente da Direcção
promoveu a aproximação de Rui Gomes dos Santos, tendo em vista a substituição
de Nobre Santos no cargo de EC Regional. Aquele antigo dirigente, que antes de
1937 prestara bons serviços à AEP, mas que depois abandonou o Movimento para se
ligar à Mocidade Portuguesa, após uma tentativa, não conseguida, de convencer
os dirigentes de então a encerrarem a Associação, como era manifesto
desejo da referida Organização Nacional.
Assumindo funções antes mesmo da sua
nomeação, cedo se confundiu em acções lesivas da nossa Associação, nomeadamente, anulando medidas
que o próprio Presidente Regional havia tomado, procurar impedir a participação
dos grupos evangélicos nas comemorações de Aljubarrota e dando parecer
desfavorável à realização do Curso da Insígnia de Madeira, apesar de ser
assunto que estava fora das suas atribuições. Por acréscimo, constou naquela
época que levou aos Serviços Centrais a presumível “ordem” de encerramento da
AEP pelo sr. subsecretário de Estado da Juventude e Desportos agastado com os
acontecimentos à volta da “Marcha Patriótica”, aos quais nos referiremos mais
adiante, ordem essa que levada ao conhecimento da Direcção da AEP com os
criteriosos comentários do prestigiado secretário dos Serviços Centrais, EC
Albano da Silva, terão feito rir o Presidente.
Mas ocupando-se seriamente do assunto, a
Direcção Central autorizou e realização do Curso da IM e anulou o processo de
nomeação do Rui Santos como EC Regional.
Vimo-nos, assim, livres de um perigoso
estorvo.
IV Reunião Internacional dos Antigos Escoteiros
Este ano de 1961 registou ainda a
realização do 4.º encontro internacional dos antigos escoteiros e guias, que
teve lugar, de 28 a 29 de Outubro, em Ultrcht-Zeist, na Holanda.
A Fraternal dos Antigos Escoteiros de
Portugal esteve representada pelo companheiro Daniel Correia, naquela primeira
vez que participava numa reunião internacional.
Transcrevemos as suas impressões de
participação naquela importante reunião, recolhidas do n. 200 do S.P. de
Dezembro de 1961:

“Ver
reunidas 94 pessoas, representantes de 20 países, num mesmo conjunto de
interesses e, porque não dizer, de verdadeira amizade, por um ideal que
dignifica o indivíduo, é qualquer coisa que emociona e entusiasma a continuar a
ser escoteiros até morrer.”
“Valeu
a pena, na realidade, ter ido a Ultrcht-Zeist. E do muito que vi e pude
compreender, trago um incentivo para todos nós: para os da Fraternal, aqueles
que já pertencem à «velha guarda», que continuemos utilmente apegados a este
Movimento, que movimenta e solidariza os ideais mais nobres de um ser. Para os
novos, aqueles que começam, e para os que vão a meio caminho, digo para que
jamais esmoreceis, mas antes pelo contrário, que sejais sempre firmes no vosso
e nosso lema:- Sempre Pronto – Mais alto e mais além.”
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