quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Da nossa história… (26)

Textos de Mariano Garcia (apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“) 
Outros acontecimentos…
Recheado de polémicas, umas mais saudáveis que outras, mas também bastante recheado de acontecimentos muito importantes para a vida associativa, o ano de 1961 foi, sem sombra de dúvida, o ponto de partida para uma nova tentativa de renovação dos métodos directivos da AEP, primeiro devido aos esforços que vinham sendo desenvolvidos por José Maria Nobre Santos, enquanto Delegado Regional e depois nomeado EC Regional do Centro, tendo como adjunto José Eduardo Pena Ribeiro.
Mas também graças ao empenhamento da Fraternal e do jornal “Sempre Pronto” e ao entusiasmo de alguns jovens dirigentes, bem preparados e intervenientes, que viriam a marcar as décadas seguintes, através do seu esforço, dedicação e competência.
Por isso, nos vamos deter um pouco mais, na observação da vida associativa naquele ano, especialmente na recém-criada Direcção Regional do Centro, depois de passarmos em revista alguns outros acontecimentos, nacionais e internacionais, cujos relatos quase então passaram despercebidos perante a importância das actividades a que já fizemos referência.

Escoteiros, calça ou calção?
Por cá, ainda que sem quaisquer consequências, durou alguns meses a ardorosa discussão sobre o uso de calça ou calção no uniforme dos escoteiros. Tal discussão, que hoje nos pareceria deslocada e ridícula, não deixou de ter verdadeiro impacto naquela época. Felizmente, prevaleceu o bom senso e o uniforme, ainda que trocando de cores, tem mantido sempre as suas características essenciais.

Inauguração da casa Baden-Powell
Entretanto, em Londres, a Rainha Isabel II, inaugurava, a 12 de Junho, a Casa de B-P, edifício social e residencial para escoteiros, não só da Grã-Bretanha mas de todos os escoteiros estrangeiros que ali estejam de visita.
No seu discurso, a Rainha prestou homenagem à vida e obra de B-P, tendo afirmado: “Acontece poucas vezes que um homem possa ver durante a sua vida uma ideia crescer dos seus primeiros momentos até se desenvolver num Movimento em escala mundial.
Muitas vezes pergunto maravilhada se, quando levou 20 rapazes para a Ilha de Brownsea para experimentar a sua ideia de Escotismo para Rapazes, B-P. tinha alguma concepção de que em meio século esta experiência se teria transformado num Movimento compreendendo nove milhões de rapazes e cinco milhões de raparigas em cerca de 100 diferentes partes do mundo”.
“Baden-Powell não está já connosco, mas o seu Movimento permanece e desenvolve-se, monumento
mais forte do que a pedra ou o aço. Aqui em Ingla-terra, onde ele começou a sua obra, está pois erguida uma casa que, usando o seu nome e servindo as necessidades do Movimento, será a expressão, de uma maneira prática, da nossa gratidão para com ele. Estou certa que todos nós temos a maior satisfação em celebrar a construção deste esplêndido edifício na presença de Lady Olave Baden-Powell. É bem conhecida de todos nós a sua incansável obra a favor do Escotismo e, em particular das Guias”.
Tenho portanto o maior prazer em declarar inaugurada a Casa de Baden-Powell para os Escoteiros do Mundo”.

Falecimento de Leo Borges Fortes
Também em Junho, morria no Brasil o General Leo Borges Fortes, uma figura do escotismo mundial, grande amigo dos escoteiros portugueses e um dos mais prestigiados dirigentes da história do escotismo brasileiro.

Na Região do Centro
Voltamos à Direcção Regional do Centro (Lisboa), criada no início do ano, após os esforços organizativos a que fizemos referência no início deste texto, e dotada de serviços que prometiam promover o desenvolvimento do Escotismo naquela zona, única que se tornou activa, não obstante alguns esforço para a criação das Regiões do Norte e do Sul, que se mantiveram por mais algum tempo com os Delegados Regionais nomeados pela Direcção Central.
Dois acampamentos regionais, realizados em 3-4 de Junho e 29-30 de Julho, reuniões e actividades conjuntas dos grupos de escoteiros, sessões de aperfeiçoamento técnico de preparação para o Curso de Chefes e a organização do 1º Curso de Insígnia de Madeira, trouxeram à Região um dinamismo desusado.

Mas, cedo começaram a surgir novas polémicas perturbadoras da vida associativa. Pedro Paínho afastou-se em Junho, alegando razões profissionais, e entraram Eugénio Ribeiro Nunes e Jorge Gallis, que vinham dos efectivos da Fraternal reforçando assim uma equipa que prometia. Todavia, aproveitando o interesse de Nobre Santos em deixar a Chefia Regional par se dedicar exclusivamente à organização da Escola de Formação de Dirigentes, o Presidente da Direcção promoveu a aproximação de Rui Gomes dos Santos, tendo em vista a substituição de Nobre Santos no cargo de EC Regional. Aquele antigo dirigente, que antes de 1937 prestara bons serviços à AEP, mas que depois abandonou o Movimento para se ligar à Mocidade Portuguesa, após uma tentativa, não conseguida, de convencer os dirigentes de então a encerrarem a Associação, como era manifesto desejo da referida Organização Nacional.
Assumindo funções antes mesmo da sua nomeação, cedo se confundiu em acções lesivas da nossa Associação, nomeadamente, anulando medidas que o próprio Presidente Regional havia tomado, procurar impedir a participação dos grupos evangélicos nas comemorações de Aljubarrota e dando parecer desfavorável à realização do Curso da Insígnia de Madeira, apesar de ser assunto que estava fora das suas atribuições. Por acréscimo, constou naquela época que levou aos Serviços Centrais a presumível “ordem” de encerramento da AEP pelo sr. subsecretário de Estado da Juventude e Desportos agastado com os acontecimentos à volta da “Marcha Patriótica”, aos quais nos referiremos mais adiante, ordem essa que levada ao conhecimento da Direcção da AEP com os criteriosos comentários do prestigiado secretário dos Serviços Centrais, EC Albano da Silva, terão feito rir o Presidente.

Comemorações de Aljubarrota!...
Quase no desconhecimento da generalidade dos dirigentes dos grupos, a Chefia Nacional aderiu, sem qualquer empenhamento, diga-se, a uma iniciativa surgida no seio da Mocidade Portuguesa, que tinha em vista aproveitar o próximo aniversário da batalha de Aljubarrota para promover uma “Marcha Patriótica” que reunisse ali alguns milhares de jovens a manifestarem-se publicamente em desagravo dos ataques que vinham sendo desferidos nos meios internacionais contra a política ultramarina do governo português.
Para a Comissão Organizadora que ia ser criada, paritáriamente entre as organizações juvenis, MP, AEP e CNE, na AEP foram designados pela Chefia Nacional Mariano Garcia e José Ferreira, faltando um terceiro elemento que nunca chegou a ser designado. Cedo se percebeu que a tal comissão, nem era paritária como se afirmava, nem era organizadora, porque todo o programa lhes foi imposto logo na primeira reunião.
Reunidos no Palácio da Independência, pertença da Mocidade Portuguesa naquela época, foi construída a tal Comissão com os dois representantes da AEP, três representantes do CNE, três graduados da MP em representação do Colégio “que tivera a ideia”, mais três graduados da MP representando aquela organização e mais seis graduados da MP que fariam parte do staff de apoio e secretariado. A presidir à “sessão” o general Arnaldo Schultz e também presente o assistente nacional da MP. Esta era “uma comissão paritária que iria trabalhar para produzir um programa digno do acontecimento. A partir dali tudo se esperava da capacidade dos jovens presentes”, disse o general, e fomos à nossa vida para nos reunirmos de novo na semana seguinte.
Na reunião seguinte a “comissão organizadora” era esperada de novo pelo general que, para simplificar as coisas e poupar-nos trabalho, disse, apresentou um programa já feito, que constava essencialmente de uma grande concentração em Fátima, onde decorreriam cerimónias religiosas, seguida de um desfile até à Batalha, onde decorreriam as acções de exaltação patriótica.
Ainda que receosos do espaço escorregadio em que se movimentavam, os representantes da AEP não deixaram de manifestar a sua estranheza por se depararem com um “programa” já pronto, argumentar sobre a inutilidade da constituição da comissão e contestar frontalmente o carácter fortemente religioso da “Manifestação”, exclusivamente dirigida a católicos, onde não parecia haver lugar para “todos” os jovens, como se pretendia. Essa era a nossa responsabilidade como representantes de uma associação pluriconfessional.
Também a entrevista planeada para a EN, com a presença de um jovem de cada organização, havia sido substituída por uma intervenção já realizada pelo assistente nacional da MP.
Vendo a inutilidade da sua presença em tal comissão, os dois representantes da AEP resolveram abandoná-la, tendo Mariano Garcia enviado uma carta ao EC Geral a comunicar-lhe tal decisão.
Os factos chegaram, porém, ao conhecimento dos Grupos evangélicos, do jornal “Sempre Pronto” e do prestigiado “Diário de Lisboa”, que usou a sua NOTA DO DIA para denunciar o proselitismo que comandava o Programa da MARCHA.
Por seu lado os grupos evangélicos vieram a público anunciar a sua “adesão à marcha patriótica à Batalha”, apresentando um programa próprio para os seus escoteiros, o que veio marcar uma indesejável divisão no desejo de unificação nacional manifestado pela “Comissão organizadora”
Os escoteiros evangélicos da AEP, receberam ordem de interdição do seu programa, a que não obedeceram e fizeram uma normal actividade de romagem à Batalha, conforme relato do SP nos seus números 196 de Agosto de 1961 e 197/198 de Setembro/Outubro.
O falatório não terá agradado ao então Subsecretário de Estado para a Juventude e Rui Santos apareceu na
Associação com o “recado” de que aquele ia dar ordem para o seu encerramento.
Tal notícia nunca chegou a ser do conhecimento público, nem sequer da maioria dos dirigentes Regional par se dedicar exclusivamente à organização da Escola de Formação de Dirigentes, o Presidente da Direcção promoveu a aproximação de Rui Gomes dos Santos, tendo em vista a substituição de Nobre Santos no cargo de EC Regional. Aquele antigo dirigente, que antes de 1937 prestara bons serviços à AEP, mas que depois abandonou o Movimento para se ligar à Mocidade Portuguesa, após uma tentativa, não conseguida, de convencer os dirigentes de então a  encerrarem a Associação, como era manifesto desejo da referida Organização Nacional.
Assumindo funções antes mesmo da sua nomeação, cedo se confundiu em acções lesivas da nossa Associação, nomeadamente, anulando medidas que o próprio Presidente Regional havia tomado, procurar impedir a participação dos grupos evangélicos nas comemorações de Aljubarrota e dando parecer desfavorável à realização do Curso da Insígnia de Madeira, apesar de ser assunto que estava fora das suas atribuições. Por acréscimo, constou naquela época que levou aos Serviços Centrais a presumível “ordem” de encerramento da AEP pelo sr. subsecretário de Estado da Juventude e Desportos agastado com os acontecimentos à volta da “Marcha Patriótica”, aos quais nos referiremos mais adiante, ordem essa que levada ao conhecimento da Direcção da AEP com os criteriosos comentários do prestigiado secretário dos Serviços Centrais, EC Albano da Silva, terão feito rir o Presidente.
Mas ocupando-se seriamente do assunto, a Direcção Central autorizou e realização do Curso da IM e anulou o processo de nomeação do Rui Santos como EC Regional.
Vimo-nos, assim, livres de um perigoso estorvo.

IV Reunião Internacional dos Antigos Escoteiros
Este ano de 1961 registou ainda a realização do 4.º encontro internacional dos antigos escoteiros e guias, que teve lugar, de 28 a 29 de Outubro, em Ultrcht-Zeist, na Holanda.
A Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal esteve representada pelo companheiro Daniel Correia, naquela primeira vez que participava numa reunião internacional.
Transcrevemos as suas impressões de participação naquela importante reunião, recolhidas do n. 200 do S.P. de Dezembro de 1961:
“Se mais nenhum outro motivo houvesse para ir à Holanda, país maravilhoso na sua Natureza e na obra que o homem tem realizado, valeria a pena ir lá para assistir à Conferência Internacional dos Antigos Escoteiros e Guias. É uma oportunidade que nos permite gozar, mais profundamente, o benefício que o Movimento escotista incute no espírito das pessoas e dos povos.”
“Ver reunidas 94 pessoas, representantes de 20 países, num mesmo conjunto de interesses e, porque não dizer, de verdadeira amizade, por um ideal que dignifica o indivíduo, é qualquer coisa que emociona e entusiasma a continuar a ser escoteiros até morrer.”
“Valeu a pena, na realidade, ter ido a Ultrcht-Zeist. E do muito que vi e pude compreender, trago um incentivo para todos nós: para os da Fraternal, aqueles que já pertencem à «velha guarda», que continuemos utilmente apegados a este Movimento, que movimenta e solidariza os ideais mais nobres de um ser. Para os novos, aqueles que começam, e para os que vão a meio caminho, digo para que jamais esmoreceis, mas antes pelo contrário, que sejais sempre firmes no vosso e nosso lema:- Sempre Pronto – Mais alto e mais além.”

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